Naquela manhã eu acordei com uma sensação desconhecida tomando conta de mim. Não sabia como me sentir.
Abri os olhos e encarei o teto enquanto pensava em tudo o que havia acontecido no dia anterior. Tudo em apenas um dia.
A volta da Mia, meus sentimentos vindo a tona, a Danna... Tudo estava sendo demais.
Saltei da cama e desci as escadas até a cozinha. Meu pai já estava acordado, e se o cheiro de panquecas não o tivesse denunciado, o tilintar de vidro quebrando e panelas batendo o teria feito.
- Bom dia, pai – disse entrando na cozinha.
- Bom dia filho – ele respondeu, tentando limpar o rosto que estava coberto de farinha.
- O que houve aqui? – perguntei.
- Ah sua mãe vai me matar, não vai? – ele disse fazendo uma cara engraçada.
- Eu acho que você se meteu em uma grande encrenca meu velho – provoquei.
- Bem que você poderia me ajudar a limpar.
- De jeito nenhum, hoje é meu primeiro dia de trabalho, preciso está descansado – lembrei.
Ele rolou os olhos, e se deixou cair em uma cadeira.
- Só me resta repor as energias- disse dando uma mordida em uma panqueca.
- Mamãe vem pra casa hoje? – perguntei, enquanto comíamos.
- Sim, - ele responde com a boca cheia – já deve ter saído do hospital.
Depois disso comemos em silêncio por alguns minutos, até que meu pai disse:
- Vi que saiu ontem a noite, para onde foi? – ele perguntou, parecia desconfiado.
- Fui dá uma volta.
- Entendo – ele diz.
- Por quê?
- Nada filho – encostou-se na cadeira- sua mãe está preocupada com você.
- Eu estou bem pai. – garanto. – Mia e eu moramos na mesma rua, somos vizinhos desde sempre, cedo ou tarde vamos nos encontrar, e eu estou pronto. – continuo.
- Me sinto melhor ouvindo isso. – ele diz.
Ouvimos um barulho de carro.
- Acho que sua mãe chegou – ele diz – acho que não dá tempo de limpar essa bagunça, ou dá? – ele olha para a pia e faz uma careta.
- Oi amores – essa é a voz da minha mãe.
O celular do meu pai começa a tocar.
- Alô – diz ele ao atender a ligação – Will? O que aconteceu? Ok... Estou indo. Chego ai em 5 minutos. – e desliga.
- O que aconteceu? – minha mãe pergunta ao entrar na cozinha.
- Preciso que ligue para uma ambulância, diga que é urgente. – fala enquanto sobe as escadas, de dois em dois degraus. – estou indo me trocar.
- O que aconteceu Steven? – pergunta minha mãe.
Will? Não podia ser. Será que havia acontecido alguma coisa com a Mia?
Meu pai para no topo nas escadas, olha para minha mãe e depois para mim.
- O que aconteceu pai? – eu pergunto. Não quero saber a resposta.
- A Mia – ele fala – ela não acordar. A Linda acha que ela pode ter tido uma overdose por medicamentos. – ele olha para mim, minha mãe pega minha mão – sinto muito filho. – ele fala.
Eu também sentia muito.
Ela não podia está fazendo aquilo comigo, de novo não.
Em menos de cinco minutos meu pai havia trocado de roupa, e pego sua maleta de emergências.
- A ambulância está vindo – minha mãe disse quando ele desceu as escadas correndo. Depositou um beijo no rosto da minha mãe e me deu um tapinha nas costas.
- Ela vai ficar bem filho, eu prometo – disse e seguiu para a casa de Linda Wallace.
Eu o segui, mas quando cheguei em frente a casa dela, do outro lado da calçada, exatamente aonde eu tinha estado noite passada, senti minhas pernas paralisarem. Então sentei-me encostado em uma árvore e me permiti assistir o espetáculo refletido nas cortinas do quarto dela.
***************
- você não devia estar assistindo isso – disse minha mãe e sentou-se ao meu lado.
- Não sei o que eu posso fazer – digo a ela.
- Ela sempre parece está tão perto, mas quando tento me aproximar ela está cada vez mais distante. – continuo – Não sei mas o que fazer.
- Tudo que ela não precisa agora é que você a julgue, filho – disse minha mãe. – A Mia é uma menina cheia de problemas, só Deus sabe o que se passa na casa dela.
- Não estou julgando mãe – respondo, minha voz saindo esganiçada – eu só quero entender. Só queria que ela confiasse em mim a ponto de me contar o que está acontecendo.
- Talvez seja tarde demais para você querer ajudar – ela diz.
- Como pode ser tarde demais, se ela não me deixar nem tentar.
Minha mãe abre a boca para responder, mas não há tempo para respostas. A ambulância para em frente a casa dela, e os paramédicos entram, e alguns minutos depois reaparecem e a estão carregando em uma maca.
Um de seus braços pendendo para fora, o pulso enfaixado, e as unhas pintadas de um tom escuro. Azul, acho. Ela ama azul.
Sem pensar duas vezes me levanto com um pulo e já estou correndo de volta para casa.
- O que você vai fazer Dylan? – minha mãe pergunta ao entrar em casa.
- Eu preciso vê-la, mãe – respondo enquanto luto para vestir a minha calça jeans – só vê-la.
- Eu não acho que isso seja uma boa ideia – ela diz, mas já está pegando as chaves do carro.
- Preciso saber se ela ainda está lá, - eu digo – nem que seja uma parte pequena.
Ela assente uma vez, e já estamos correndo em direção a garagem.
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Estilhaços - Repostando
Teen FictionMia é uma garota de 16 anos, cheia de traumas e problemas familiares. Sobrecarregada com obrigações que nem suas são, leva uma vida infeliz, sendo constantemente atormentada por demônios que parecem nunca ir embora. Em um ato de desespero Mia tenta...