- Que Deus me ajude a aguentar esse seu bom humor logo cedo, Sarah – eu disse assim que a vi entrar no meu quarto com um sorriso de canto a canto.
- Porque diz isso? – ela pergunta, como se não tivesse entendido a piada, e talvez não tivesse entendido mesmo.
- Quer me explicar o motivo de todo esse sorriso? Porque Deus sabe que qualquer ser humano normal não tem motivos para está sorrindo antes das 9:30 pelo menos. – eu digo a ela e reviro os olhos, ela solta uma risadinha e senta na poltrona ao meu lado.
- E só para constar – ela começa a falar enquanto procura algo na bolsa – eu sou uma pessoa normal. – ela diz.
- Estou vendo – respondo um tanto irritada.
- E estou feliz, pois creio ter boas noticias. – ela conclui.
- Você crer? – indago.
- Tudo vai depender do seu ponto de vista. – ela fala
- Então porque não me conta as tais novidades e me deixa decidir se são boas ou não. – sugiro.
Ela revira os olhos.
- Isso foi um revirar de olhos? –falo e levo uma mão ao peito fingindo esta ofendida – mas que audácia!
Ela solta uma gargalhada.
- Tenho uma ótima professora – ela responde ainda rindo.
- Fico feliz em saber disso – digo por fim.
- Bem, vamos as noticias – ela começa – estive com o diretor da clinica e consegui faze-lo pensar melhor e mudar a decisão quanto a interna-la novamente. – ela diz.
- Mas isso é, de fato, muito bom – eu digo
- Mas tem um porém... – ela continua.
- E que porém é esse? - pergunto antes mesmo de ela terminar o que estava dizendo.
- Falei com o seu psiquiatra e sua medicação será alterada, e para que não haja chances de um evento como esse voltar a acontecer, você terá acesso somente a sua dose diária. – ela fala e me entrega uma folha de papel.
Dou uma lida, e vejo que é uma lista de medicamentos.
- Mas isso não vai me fazer nem cocegas. – rebato
- Sei que são opções mais leves do que as que você está acostumada, mas a ideia é que você não precise tanto delas. – ela diz - Não mexemos no seu antidepressivo, afinal você já se adaptou a ele, e acredito que mudá-lo não seria uma boa ideia agora, poderia acabar agravando o seu caso.
- E eu poderia tentar me matar novamente. – terminei a frase por ela.
Ela assente com um maneio de cabeça.
- Genial, – eu digo – mas o que esperam que eu faça com isso? Sabemos que esses remédios são fracos demais. Estou acostumada a doses altas.
- Isso é verdade, e a adaptação pode ser bem difícil, mas você tem que tentar, Mia. Isso é tudo que consegui fazer por você, não foi fácil convence-los a deixa-la ficar em casa. – ela diz.
- Acredito que não. – concordo com ela.
- Pois bem, já os entreguei a Linda, ela os controlará de agora em diante. – ela disse – Mas agora tenho um assunto muito importante a tratar com você.
- E o que seria? - pergunto a ela.
- Mia, - ela começa – a clinica aceitou em apoia-la na sua denúncia, e fui informada que o seu laudo médico foi mostrado a um agente que está no caso. Tudo dentro da normalidade, nada que descumpra a lei de sigilo entre médico e paciente.
- Mas porque decidiram fazer isso agora? – pergunto um tanto chocada com a noticia.
- Houve um caso que os fizeram mudar de ideia, eles não me falaram muito a respeito, mas estou certa de que envolva a mesma pessoa.
Sinto meu coração parar por um milésimo de segundo. Será que ouvi direito? Há mais vitimas daquele mostro?
- Quantas? – eu pergunto, minha voz quase inaudível.
- Até agora apenas uma, mas foi o suficiente para faze-los mudar de ideia. – ela diz, a voz baixa demais.
- E você acha que há chances de acreditarem em mim agora?
- Nunca duvidamos de você, eu mesma sempre acreditei em você, Mia – ela fala, parece surpresa e ofendida com a minha pergunta- nunca duvidei de que não estivesse falando a verdade.
- Você sabe de quem estou falando, Sarah. – eu murmuro em resposta. – Sabe que não é tão simples assim.
- Eu sei Mia, mas você precisa começar a pensar de outra forma. – ela fala e solta um suspiro
- De que forma? - pergunto
- Pense que esse é o primeiro passo de que precisamos, e que no final dessa corrida, todos vão ver que você estava falando a verdade.
- Você realmente acha isso?
Ela faz que sim, e pega a minha mão.
- Eu acredito em você, e quero ajuda-la. Não estaria aqui se isso não fosse verdade. – ela diz.
- Acho que você é o mais perto que vou chegar de ter uma amiga. Preciso me conformar com isso. – murmuro.
- Você é terrível – ela fala num tom de reprimenda.
***********
- Oi Kit Kat – eu digo ao ver a Kate entrar no quarto.
Ela corre e abraça minhas pernas.
- Senti saudades, Mia – ela fala.
- Eu também – respondo, e me agacho para poder abraça-la.
- Nós vamos para casa – ela diz.
- Ah, então você veio me buscar? – pergunto a ela.
- Sim – ela grita, e dá pulinhos – e a mamãe disse que podemos tomar sorvete.
- Isso é ótimo, Kate - eu digo a ela.
- Onde está a mamãe, Kate? – pergunto.
- Ela está lá fora – ela responde - está conversando com o médico. - ela conta em tom de confidência.
Tento ignorar o sentimento estranho que se acumula no meu peito.
Foram 5 dias no hospital e ela não veio me ver nem ao mesmo um vez – penso.
Um auxiliar entra no quarto e pega a minha mala, Kate e eu o seguimos até o estacionamento, onde minha mãe nos espera.
- Oi mãe – cumprimento quando a vejo.
- Oi querida – ela fala, parece cansada – como está se sentindo?
- Estou bem, mãe – respondo e entro no carro.
Ela coloca a Kate na cadeirinha do banco de trás, e segue até o lado do motorista.
- Poe o cinto, Mia – ela diz.
Obedeço e volto a olhar pela janela.
- Porque você não foi me visitar? – é o que eu quero perguntar, mas não o faço.
Estou cansada de desculpas.
Eu não falo mais nada, não há resposta para isso.
Ela dá partida no carro, e seguimos para casa em silêncio.
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Novela JuvenilMia é uma garota de 16 anos, cheia de traumas e problemas familiares. Sobrecarregada com obrigações que nem suas são, leva uma vida infeliz, sendo constantemente atormentada por demônios que parecem nunca ir embora. Em um ato de desespero Mia tenta...