Capítulo 11- Mia

19 4 21
                                    


- Que Deus me ajude a aguentar esse seu bom humor logo cedo, Sarah – eu disse assim que a vi entrar no meu quarto com um sorriso de canto a canto.

- Porque diz isso? – ela pergunta, como se não tivesse entendido a piada, e talvez não tivesse entendido mesmo.

- Quer me explicar o motivo de todo esse sorriso? Porque Deus sabe que qualquer ser humano normal não tem motivos para está sorrindo antes das 9:30 pelo menos. – eu digo a ela e reviro os olhos, ela solta uma risadinha e senta na poltrona ao meu lado.

- E só para constar – ela começa a falar enquanto procura algo na bolsa – eu sou uma pessoa normal. – ela diz.

- Estou vendo – respondo um tanto irritada.

- E estou feliz, pois creio ter boas noticias. – ela conclui.

- Você crer? – indago.

- Tudo vai depender do seu ponto de vista. – ela fala

- Então porque não me conta as tais novidades e me deixa decidir se são boas ou não. – sugiro.

Ela revira os olhos.

- Isso foi um revirar de olhos? –falo e levo uma mão ao peito fingindo esta ofendida – mas que audácia!

Ela solta uma gargalhada.

- Tenho uma ótima professora – ela responde ainda rindo.

- Fico feliz em saber disso – digo por fim.

- Bem, vamos as noticias – ela começa – estive com o diretor da clinica e consegui faze-lo pensar melhor e mudar a decisão quanto a interna-la novamente. – ela diz.

- Mas isso é, de fato, muito bom – eu digo

- Mas tem um porém... – ela continua.

- E que porém é esse? - pergunto antes mesmo de ela terminar o que estava dizendo.

- Falei com o seu psiquiatra  e sua medicação será alterada, e para que não haja chances de um evento como esse voltar a acontecer, você terá acesso somente a sua dose diária. – ela fala e me entrega uma folha de papel.

Dou uma lida, e vejo que é uma lista de medicamentos.

- Mas isso não vai me fazer nem cocegas. – rebato

- Sei que são opções mais leves do que as que você está acostumada, mas a ideia é que você não precise tanto delas. – ela diz - Não mexemos no seu antidepressivo, afinal você já se adaptou a ele, e acredito que mudá-lo não seria uma boa ideia agora, poderia acabar agravando o seu caso.

- E eu poderia tentar me matar novamente. – terminei a frase por ela.

Ela assente com um maneio de cabeça.

- Genial, – eu digo – mas o que esperam que eu faça com isso? Sabemos que esses remédios são fracos demais. Estou acostumada a doses altas.

- Isso é verdade, e a adaptação pode ser bem difícil, mas você tem que tentar, Mia. Isso é tudo que consegui fazer por você, não foi fácil convence-los a deixa-la ficar em casa. – ela diz.

- Acredito que não. – concordo com ela.

- Pois bem, já os entreguei a Linda, ela os controlará de agora em diante. – ela disse – Mas agora tenho um assunto muito importante a tratar com você.

- E o que seria? - pergunto a ela.

- Mia, - ela começa – a clinica aceitou em apoia-la na sua denúncia, e fui informada que o seu laudo médico foi mostrado a um agente que está no caso. Tudo dentro da normalidade, nada que descumpra a lei de sigilo entre médico e paciente.

- Mas porque decidiram fazer isso agora? – pergunto um tanto chocada com a noticia.

- Houve um caso que os fizeram mudar de ideia, eles não me falaram muito a respeito, mas estou certa de que envolva a mesma pessoa.

Sinto meu coração parar por um milésimo de segundo. Será que ouvi direito? Há mais vitimas daquele mostro?

- Quantas? – eu pergunto, minha voz quase inaudível.

- Até agora apenas uma, mas foi o suficiente para faze-los mudar de ideia. – ela diz, a voz baixa demais.

- E você acha que há chances de acreditarem em mim agora?

- Nunca duvidamos de você, eu mesma sempre acreditei em você, Mia – ela fala, parece surpresa e ofendida com a minha pergunta- nunca duvidei de que não estivesse falando a verdade.

- Você sabe de quem estou falando, Sarah. – eu murmuro em resposta. – Sabe que não é tão simples assim.

- Eu sei Mia, mas você precisa começar a pensar de outra forma. – ela fala e solta um suspiro

- De que forma? - pergunto

- Pense que esse é o primeiro passo de que precisamos, e que no final dessa corrida, todos vão ver que você estava falando a verdade.

- Você realmente acha isso?

Ela faz que sim, e pega a minha mão.

- Eu acredito em você, e quero ajuda-la. Não estaria aqui se isso não fosse verdade. – ela diz.

- Acho que você é o mais perto que vou chegar de ter uma amiga. Preciso me conformar com isso. – murmuro.

- Você é terrível – ela fala num tom de reprimenda.

***********

- Oi Kit Kat – eu digo ao ver a Kate entrar no quarto.

Ela corre e abraça minhas pernas.

- Senti saudades, Mia – ela fala.

- Eu também – respondo, e me agacho para poder abraça-la.

- Nós vamos para casa – ela diz.

- Ah, então você veio me buscar? – pergunto a ela.

- Sim – ela grita, e dá pulinhos – e a mamãe disse que podemos tomar sorvete.

- Isso é ótimo, Kate - eu digo a ela.

- Onde está a mamãe, Kate? – pergunto.

- Ela está lá fora – ela responde - está conversando com o médico. - ela conta em tom de confidência.

Tento ignorar o sentimento estranho que se acumula no meu peito.

Foram 5 dias no hospital e ela não veio me ver nem ao mesmo um vez – penso.

Um auxiliar entra no quarto e pega a minha mala, Kate e eu o seguimos até o estacionamento, onde minha mãe nos espera.

- Oi mãe – cumprimento quando a vejo.

- Oi querida – ela fala, parece cansada – como está se sentindo?

- Estou bem, mãe – respondo e entro no carro.

Ela coloca a Kate na cadeirinha do banco de trás, e segue até o lado do motorista.

- Poe o cinto, Mia – ela diz.

Obedeço e volto a olhar pela janela.

- Porque você não foi me visitar? – é o que eu quero perguntar, mas não o faço.

Estou cansada de desculpas.

Eu não falo mais nada, não há resposta para isso.

Ela dá partida no carro, e seguimos para casa em silêncio.

Estilhaços - RepostandoOnde histórias criam vida. Descubra agora