Estávamos caminhando de volta para casa, quando resolvi perguntar:
- Então – começo – quando vou conhecer a sua namorada?
Ele me olha de soslaio, como quem pergunta como é que eu sei disso.
- Ela não é minha namorada – ele responde. – E só uma amiga do trabalho, e... – ele faz uma pausa, como se estivesse pensando na palavra ou termo certo para dizer.
- Vocês estão saindo? Ficando? Se conhecendo melhor? – sugiro.
Ele me olha de lado, um tanto desconfortável.
Sei que estou sendo uma vadia egoísta com ele. Mas é o Dylan, e eu simplesmente não posso perdê-lo, mesmo que ele mereça coisa muito melhor que eu.
- É – ele diz – estamos saindo.
- Entendi – falo fingindo indiferença. Ele faz uma careta, e pega minha mão entrelaçando nossos dedos.
- Acho que sua namorada não vai gostar disso – provoco
- O nome dele é Danna, e ela não é minha namorada – ele fala, enfatizando a ultima parte.
- Só tive uma namorada – ele continua – e só durou algumas horas, mas foi o namoro mais incrível da minha vida.
Meu coração rebelde erra uma batida.
- Você não deveria falar essas coisas pra mim – sussurro.
Ele para me fazendo parar junto com ele. Sua mão toca meu queixo, forçando minha cabeça para cima ate meu olhar encontrar o dele.
- Porque não? – ele pergunta.
- Porque eu posso achar que é verdade – respondo.
- Mas é verdade – ele fala, e vejo que ele está magoado.
- Desculpa – eu digo, e começo a caminhar.
Ele não fala nada.
- Ela não gosta muito de você – ele fala.
- Quem? – pergunto confusa.
- A Danna – ele responde.
Solto uma risadinha.
- Elas nunca gostam – eu digo a ele.
Estamos em frente a casa dele, quando ele pergunta.
- Quer que eu te leve em casa?
Faço que não.
Ele assenti.
- Mia? – ele pergunta. – Está tudo bem?
Faço que sim.
- Eu estou aqui. – ele fala – Eu sempre estarei aqui.
- Eu sei – digo – e às vezes penso se não sou uma vadia egoísta por pedir que você continue esperando por alguém que nunca vai voltar. – Solto as palavras e corro em direção a minha casa.
Não espero por uma resposta e nem ouso olhar para trás.
Sinto meus olhos queimarem, meus pulsos latejam, e doem, e eu me recordo que não tinha feito os curativos hoje.
- Malditas cicatrizes – praguejo.
Subo as escadas correndo, enquanto procuro as chaves nos bolsos. Abro a porta, passo por ela e fecho-a tentando fazer o mínimo de barulho possível.
Encostei-me na porta e soltei um longo suspiro deixando as lágrimas correrem soltas pelo meu rosto. Quando, por fim, ouvi uma voz saindo do escuro.
- Achei que demoraria um pouco mais de tempo até você voltar a ser a vadiazinha que sempre foi – ele disse acendo a luz do abajur.
Will.
Não respondi.
- Não vai dizer nada? – perguntou. Ele estava sentando em uma das poltronas que havia na sala, as pernas dobradas, uma revista velha repousando sobre os joelhos.
- Não lhe devo satisfações – falei entre os dentes.
- Claro que deve – ele falou – essa casa é minha, e você precisa me dizer aonde vai, e com quem vai, sua piranha.
- Essa casa não é sua, e eu tão pouco tenho que lhe dizer aonde vou ou com quem – eu disse indo em direção as escadas.
- E Will – parei no primeiro degrau, meu coração batendo fortemente contra minhas costelas – se eu fosse você seria esperto e me trataria muito bem, afinal o seu amiguinho Carlos está sendo procurado, e não demorará muito até ser a sua vez.
Ouvi quando ele levantou-se da poltrona, deixando a revista cair com um baque surdo, na pressa de me pegar. Corri os últimos degraus da escada, e tranquei a porta do quarto. Ali me permitir chorar em paz.
Um misto de alegria, dor, medo, e desapontamento.
*********
Odiava me sentir da forma como estava me sentindo. Tão fraca e vulnerável. Com um turbilhão de sentimentos tomando conta de mim.
Não parecia ser eu.
Tomei um banho, vesti um dos meus velhos e confortáveis pijamas de flanela, enfaixei ou pulsos, tomei os meus remédios, a dose recomendada que estava sobre a mesinha, coloquei os fones de ouvidos, e me deitei.
Tentava de todas as formas ignorar o fato que amanha seria o meu primeiro dia de volta a escola, depois de tanto tempo longe. Levantei-me, me apoiando nos cotovelos e olhei para a pilha de livros e materiais escolares que estava na poltrona do quarto, e isso incluía uma mochila nova e cadernos com capas coloridas e brilhantes. Cai de volta da cama, e busquei outros fatos para ignorar. Como a dor irritante nos meus punhos, o fato de que eu havia perdido o meu livro durante o meu encontro/passeio com o Dylan, e o mais importante, meu curto encontro com o desgraçado do meu padrasto.
E foi tendo em mente esse ultimo ponto que adormeci.
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Estilhaços - Repostando
Teen FictionMia é uma garota de 16 anos, cheia de traumas e problemas familiares. Sobrecarregada com obrigações que nem suas são, leva uma vida infeliz, sendo constantemente atormentada por demônios que parecem nunca ir embora. Em um ato de desespero Mia tenta...