Os emissários da aldeia de Emmerich eram semelhantes aos que visitavam a rainha ocasionalmente, embora a cor dos cabelos e barba de alguns chamasse a atenção, ainda mais por reluzirem à luz dos archotes. O grupo, com cerca de doze homens, chegara tarde da noite, como previsto, e por estarem exaustos, famintos, e a rainha cansada, a mesma indicou que pousassem na estalagem do Gigante, onde receberiam um desconto por serem seus convidados. Quando o líder deles, Sieghard, pai de Emmerich, perguntou onde estava o chefe, recebeu um aviso da rainha.
— Banqueteando-se no salão de Odin — Kyrah falou sem rodeios, sustentando o olhar do senhor robusto e de vasta barba ruiva, não tão grande quanto seu finado pai, Heric, mas igualmente admirável pelo porte de guerreiro bárbaro, ainda mais pelo machado de cabo longo que ostentava nas costas. — E o senhor irá fazer companhia ao meu esposo no Valhalla, se duvidar do meu direito a governar a minha aldeia.
O alerta da rainha bastou para não serem feitas mais perguntas, embora o estreitar dos olhos castanhos esverdeados com que o homem a fitou por um momento, antes de voltá-los para o filho, indicassem que Emmerich teria muito que o contar naquela noite. Despediram-se, então, com breves desejos de boa noite, e a reunião ficou para o outro dia.
Ao meio dia pálido e com cheiro de churrasco no ar, recompostos da jornada, os emissários desfrutaram de uma tão merecida refeição na estalagem, em companhia da família da rainha, o bardo Bragi, o marido da prima da chefa, Gorki, com Brunhild e os filhos e algumas famílias principais da Aldeia. Os grupos de habitantes multiétnicos chamavam a atenção por suas origens, entre eles o do gigante alemani Alberich, do não tão huno assim, Angus, do saxão Harald, e da franca Jolie; as figuras do árabe Habbib e da judia Tamar não destacavam-se entre os presentes, embora fossem sábios da Aldeia e conselheiros da rainha.
Depois de todas as apresentações, entre a comida que compartilhavam, a tarde já ia alta entre as conversas amenas sobre o clima e as notícias das aldeias circundantes, e Kyrah não ficou surpresa ao ver metade dos guerreiros já bêbados de hidromel — se fossem inimigos, teria sido muito fácil acabar com a raça deles. Mas percebeu que o batedor Emmerich mal tocara no odre, assim como um de seus irmãos mais velhos, Ekkehard, um guerreiro de rosto altivo com barba ruiva, de cabelos louro escuro médios e olhos castanhos claros.
Em comparação, o primo destes, Walderich, de longos cabelos ruivos ondulados, alto e forte, assim como o cunhado, Magnur, de cabelos e barbas castanhas claras, estavam a ponto de abraçarem um barril e dormirem no chão mesmo — como um dos sobrinhos de Maküsh fazia no momento. O rapaz, que era quase da idade do tio, estava tão cansado que quando Safyrah e Belle, a lourinha filha de Jolie, puxaram um de seus cabelos para verificar a cor exótica, ele não acordou! Apenas soltou um ronco que assustou as crianças e atraiu a atenção dos adultos presentes.
— Safyrah! — exclamou Kyrah em tom cortante, olhando estreitada a filha, ao perceber o que ela fizera: estava com um olho no chefe de clã e outro em seus rebentos, na outra mesa do pequeno salão da estalagem.
Suspirando ao ser pega no flagra, a princesinha foi correndo de volta para o lugar ao lado da mãe, pulando para desviar de um dos barris, mas como seu vestido verde musgo era comprido, tropeçou e quase bateu com a cabeça na quina de um banco — não fosse aquele intruso de cabelos exóticos da outra noite ter a amparado. Com o rostinho angelical tingido pela vergonha que trouxera ao seu clã perante os visitantes, Safyrah murmurou um obrigado e voltou-se para a mãe com o olhar choroso. A morena se levantara de um pulo, quase voando para verificar o estado da filha.
Sentando-se em um espaço vago no banco, Kyrah, em seu longo vestido de linho acinzentado, verificou que a testa da filha não havia rachado, antes de deixar que Safyrah sentasse em seu colo. Acenou que estava tudo bem, para Bragi e Kadaj, que olharam preocupados com a menina. Safyrah afundou o rosto no manto de pele de raposa que usava por cima da cota de couro marrom, com o símbolo do clã Brandeburg, então a morena se voltou para Emmerich, sentado ao seu lado direito.
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O Destino da Rainha
Short Story♕ Conto relacionado a UMA HISTÓRIA BÁRBARA. Situado temporalmente anos depois da Parte III (final do livro), então contém SPOILERS! Leitura não aconselhada para quem ainda não terminou UHB! ♥ Já ficou comprovado que as mulheres dos povos...