Epílogo - Destino

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Aquela noite de outono fora uma das mais longas e quentes dos últimos anos, pensou Kyrah, de manhã, olhando as brasas no fogão de barro. Ouviu passos se aproximando, e esboçou um sorriso fechado quando sentiu braços esguios envolverem sua cintura, enrubescendo quando foi beijada no pescoço em certo ponto, a barba provocando-a cócegas.

— Por que não me acordou minha rainha? — perguntou Emmerich, desapontado por não tê-la em seus braços por mais tempo. Apoiou o rosto no ombro esquerdo dela, suspirando profundamente, enquanto sentia seus corações batendo em sintonia.

— Eu estava com fome, e logo as crianças vão voltar — informou Kyrah, abafando uma risada ao senti-lo enrijecer. — Está com medo de Kadaj, por acaso?

— Só não sei ao certo como eles vão reagir — confessou o ruivo, abraçando-a mais e roçando o queixo em uma carícia.

Ele mais parecia um tigre sedento por carinho e, Kyrah admitia, adorava o mimar, às vezes; era bom dosar para que não ficasse confiado demais. Pousou uma das mãos sobre as dele, apoiando-se em seu Maküsh, e teria desfrutado mais o abraço, se o leite não tivesse começado a ferver. Solícito, o ruivo a soltou e pegou o pano das mãos dela, tirando a panela do fogo.

— Bom, a Safy gosta de você, e o Kadaj o tolera. Eles já estão se acostumando com a ideia — comentou a chefe, sentando e observando o homem servir o leite nos copos que estavam na mesa. — Ainda não entendi como os convenceu, apenas prometendo que os ensinaria a caçar.

— Houve outras exigências, principalmente por parte de Kadaj, mas ele pediu segredo — informou Emmerich, e beijou a bochecha dela, carinhosamente, antes de sentar — E eu adoro seus filhos, tanto quanto a mãe, é natural que eles se acostumem.

Kyrah o observou desconfiada por um momento, enquanto mexia o leite, sob o olhar do homem que sorria fechado. Um silêncio reconfortante pairou entre os dois, enquanto apenas a fumacinha desprendida da bebida os separava, o aroma do leite com mel e ervas espalhava-se pelo recinto.

— Estava imaginando como serão os nossos filhos — Emmerich segredou, em tom suave.

Kyrah piscou para ele, e baixou o olhar. Envolvendo o copo de cerâmica com as duas mãos, assoprou algumas vezes, ponderando profundamente sobre o que falar. Nunca pensara em ter mais uma criança, a experiência e a dor das últimas foram verdadeiros sacrifícios para ela, mas a eminência do casamento trouxe à tona algo que era esperado de uma união.

— Não irei pressioná-la, Kyrah, só estava pensando se, por acaso, acontecer futuramente... — tentou explicar Emmerich, franzindo o cenho e bebendo um gole, antes de adiantar a mão para o antebraço da sua mulher, buscando o olhar dela — Pelo que já ouvi de sua história, temo que acabe a fazendo sofrer, enquanto só quero lhe dar felicidade.

— Obrigada, Emmerich, e eu sei o quanto você gosta de crianças — Kyrah disse, escolhendo as palavras, e sentindo certa tristeza ao lhe segredar — Mas, eu não sei se conseguirei te dar um filho. Eu perdi uma criança, quando pensei que Beowulf tivesse morrido, daquela vez que seu primo me trouxe uma cabeça.

O ruivo arregalou os olhos esverdeados, entrelaçando os dedos ao dela e apertando levemente.

— Desculpe, não queria fazê-la lembrar de algo tão doloroso — arrependeu-se Emmerich, olhando-a preocupado.

— Tudo bem — suspirou Kyrah — Foi natural, eu estava abalada com a perda e meu ventre não estava preparado para vingar aquela semente, eu nem sabia que ela existia até perder... E depois fiz questão de não ter mais nenhum, tamanho o ódio que senti de Beowulf. Por isso, não sei se é possível — e levantou os olhos para seu noivo, receosa ao perguntar — Você ainda quer continuar com o casamento?

O Destino da RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora