Capítulo IV - Caçador

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Que Bragi tinha o costume de adotar irmãos pelas aldeias por onde morara, não era novidade para ninguém.

— Ele quase virou o meu irmão de verdade — informou Maküsh, antes que o bardo pudesse dizer algo. — Na verdade, tentou, pois minha irmã mais nova, Scyana, estava prometida a um guerreiro de nossa aldeia.

— HEIL! — exasperou-se o bardo, enrubescendo e olhando estreitado para o ruivo.

— É mesmo, Bragi? — Kyrah olhou arqueada para o cacheado, deixando a filha no chão antes de acrescentar, divertida — Então há verdade por trás da história daquela fada que roubou o seu coração?

Como se não bastasse a amiga, as crianças também olhavam o bardo com aquele arzinho meio debochado, meio curioso, típico dos Brandeburg.

— Eu explico depois, deixei uma panela no fogo — resmungou Bragi, girando nos calcanhares e voltando para a cozinha.

— Mamãe — Safyrah puxou a barra do vestido de Kyrah, atraindo a atenção dela, perguntando, com os olhinhos preocupados — Eu tenho mesmo que comer a gororoba do tio?

— Talvez — disse a rainha, incerta, já pensando que era melhor ir à casa de Brunhild, pois a lebre que caçara virara o jantar de um urso.

Tencionou seguir o irmão, mas antes se virou para o forasteiro, que, bem, não era mais tão estranho assim, já que tinha o álibi de ser amigo de seu bardo, e primo de outro velho conhecido.

— Emmerich, gostaria de tomar um copo de vinho quente? — perguntou, então, educadamente.

— Se não for muito incomodo, senhora — disse o ruivo, com um sorriso a pairar no rosto.

— Pode esperar conosco, enquanto o curandeiro não chega — informou Kyrah, andando até o outro aposento. — E se hospedar hoje na taba dos bardos, já que é amigo de Bragi.

— Agradeço rainha Kyrah — Emmerich disse, logo atrás dela, o sorriso alargando mais ainda.

Assim que eles entraram na cozinha, o bardo pareceu notar o ferimento do outro, e aproveitou para mudar de assunto.

— O que aconteceu com o seu braço, mano? — disparou, adicionando umas fatias de cogumelos no ensopado.

— Fui atacado por um urso — informou ele, flexionando os dedos do braço ferido com uma careta de dor. Ao menos não estava quebrado.

Olhando-o arregalado e se aproximando para analisar o ferimento, o bardo pediu por detalhes, pois podia dar uma boa ode. Então Kyrah resolveu assumir o controle da panela, tentando transformar aquilo em algo comestível, e escutando atenta a história do ruivo, sobre o que fazia naquelas bandas.

As crianças ouviram silenciosamente o forasteiro, embora Kadaj, que ajudava a arrumar a mesa, lançasse olhares desconfiados para o ruivo. Quando o ensopado de galinha e vegetais do bardo — que ficara tragável após alguns toques da rainha — foi servido, bateram à porta da casa da chefa, então Bragi foi atender. Voltou logo depois, trazendo uma cesta com os itens do curandeiro, iria ele mesmo ajudar o amigo no tratamento do braço, já que estava acostumado a cuidar de ferimentos no campo de batalha. Com o braço tratado, Emmerich terminava a sua refeição, quando falou sobre o encontro com o urso.

Como a rainha suspeitava, o bicho deveria estar com fome e, ao atravessar a trilha atrás de alimento, se deparou com o caçador, que ao ouvir a movimentação já puxara a espada e se protegera com o escudo. O brilho do aço assustou a fera, o dando uma patada, e foi aquele barulho que atraiu a morena.

— Sempre suspeitei que o espírito de Beowulf rondasse por estas bandas — Bragi comentou, fazendo as costas de Kyrah enrijecerem e ela o lançar um olhar mortal.

O Destino da RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora