Capítulo VI - Decisão

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Céus, esses homens não tem mais o que fazer? Pensou Kyrah, encarando mais um grupo de emissários de uma aldeia vizinha, duas semanas depois da partida dos Maküsh.

— Bragi, é temporada de caça à rainha nórdica e não estou sabendo? — zombara, quando o irmão veio avisar sobre o grupo, no meio da ceia daquela noite, constituída de pão e carne de urso defumada.

Prestou meia atenção ao que o projeto de berseker de olhos azuis elétricos balbuciava para tentar pedir a sua mão em casamento, ou melhor, convencê-la de que precisava de um homem que chefiasse a Aldeia. Farta daquilo, declinou rapidamente a proposta e conseguiu que os homens a deixassem em paz naquela noite, sob a oferta de carne fresca e hidromel na estalagem próxima, prometendo que conversaria sobre os acordos de comércio que mantinha com a aldeia deles, na manhã seguinte.

Suspirando, Kyrah subiu a escada de madeira e tirou as botas, deixando-as do lado da escada antes de sentar-se no banco da pequena saleta à frente de seu quarto. Seus dedos desfrutaram a maciez do manto de pele de urso pardo, que atacara certo ruivo, e esboçou um sorriso de canto ao recordar o encontro inusitado. Os homens que Angus levara atrás da fera acabaram perdendo a trilha, e talvez como uma forma de ganhar favores da rainha para o seu clã — ou uma vingança pelo ferimento — Emmerich se ofereceu para a tarefa, junto dos familiares e com Ulrich, o marido de Jolie, como guia. O resultado era onde Kyrah estava sentada, e a carne defumada que ainda tinha na despensa. Agradecia pelo clima ter colaborado com o feitio daquele presente do clã Maküsh, isto a fez lembrar-se da proposta de aliança e, consequentemente, do ruivo.

Ainda que a rainha tivesse informado ao caçador que não estava interessada em casamento, durante os dias que passou na aldeia, Emmerich continuou cortejando-a. Diferente de alguns guerreiros, que insistiam de forma mais bruta quando recebiam um não, o ruivo mantivera uma distância respeitável e a admirara de longe, aproximando-se apenas quando estava acompanhado do amigo bardo. Bragi, diga-se de passagem, até tentara vender o peixe do ruivo, e era por isso que Kyrah, mesmo conversando a sós apenas duas vezes com o caçador, sabia de metade da vida dele.

A primeira vez fora quando estava no Escribarium, após uma aula, em que ele perguntou sobre os volumes inusitados nas prateleiras, frutos do saque do palácio árabe. A segunda, fora durante a festa de Primavera, e Kyrah se lembrava vivamente, pois não era todo festejo que podia aproveitar, tendo que manter a aparência de chefe e mãe respeitável à frente dos clãs. Estava sentada à frente de casa, junto de Jolie e Ingrid, observando as crianças correndo entre os adultos, procuravam os ovos pintados escondidos pela praça iluminada por archotes, quando o ruivo se aproximou.

— Minha rainha, dança comigo? — Emmerich perguntou, olhando-a esperançoso e estendendo-lhe a mão direita.

— Não sou uma boa parceira, senhor Maküsh — alertou-o, visto que estava enferrujada para essas atividades. E, bem, também era um aviso para as esperanças do ruivo.

— Apenas quero desfrutar de sua companhia, senhora Brandeburg, e é um desperdício uma bela rosa esquecida nesse jardim — Emmerich declarou em tom suave, e sorriu fechado.

Jolie soltou um barulhinho de quando via filhotes, e a rainha apenas a lançou um olhar estreitado, antes de sustentar o olhar do homem, ponderando por um momento. Então pousou a mão esquerda sobre a dele, se levantando.

— Bem, não reclame depois, se meus espinhos ferirem os seus pés — Kyrah reiterou, arrancando uma risada de Emmerich.

— Não me arrependerei, bela Valquíria — o caçador afirmou.

Então segurou sua mão com uma suavidade impressionante para um guerreiro, guiando-a entre os casais e grupos, que dançavam animadamente nos embalos dos bardos à noite, até um canto mais afastado da praça, onde estavam longe da vista de seus amigos próximos. Virando-se de frente para o ruivo, a morena arqueou uma sobrancelha.

O Destino da RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora