O Destino da Rainha

Capítulo Extra - Mascote

Naquela noite em que chegaram à casa de Kyrah, a lua ia alta no céu enquanto os Trüppendorf ouviam o resumo da história da rainha e do caçador, e como acabaram decidindo se casar, para fortalecer a Aliança com outra Aldeia.

— ... então eu recebi a carta da rainha, convidando a passar uma longa estadia na Aldeia, como professor no Escribarium, e me pedindo em casamento — dizia Emmerich, recebendo um olhar estreitado de Kyrah. Um sorriso delineava seus lábios ao olhar para a amada e declarar — Me senti o homem mais feliz do mundo ao imaginar que ela estava com tantas saudades quanto eu.

— Não foi bem assim, você só foi a melhor opção — Kyrah desconversou, tentando manter o semblante frio.

— Ah, ta — fez Berna, debochando da cara da irmã, e ia acrescentar algo, quando Tristan a interrompeu, apontando para a porta.

— O que tem ali?

Os olhares se voltaram para a sacola, que se remexia no chão e emitia uns ganidos baixos. Emmerich se levantou, pegando-a pela alça e pousando no banquinho.

— Presentes, para Kadaj e Safyrah — informou o ruivo, desamarrando e pescando pelo cangote um cachorrinho felpudo de pelagem acinzentada: de orelhas pontudas, focinho afunilado com dentinhos afiados e patas longas. Pousou ele no colo de Kyrah, tirando outro, de pelagem amarronzada e aninhando em seu braço, sob o olhar arqueado dos presentes.

— Mais cachorros? — perguntou Kyrah, encarando os olhos castanhos do filhote em seu colo.

— São lobos, filhotes da mascote da minha irmã — elucidou Emmerich, antes de repetir, confuso — E como assim, mais?

— Tristan encontrou um na floresta, hoje — interviu Berna — Mas não temos como cuidar, então demos para a Safy.

— Não me importo de ficar com este — opinou a cacheada, segurando o focinho do bichinho, que tentava a lamber. — Dê o outro para Kadaj, Emm.

— Tudo bem... mas será que a Safy não vai reclamar? — ponderou o ruivo, com o olhar focado nela.

— Acho melhor nós irmos dormir, Berna — murmurou Tristan, cutucando a esposa.

— Mãaaae! — e falando na fadinha, Safyrah irrompeu do corredor, segurando o falado cachorrinho nos braços: era branco com manchas marrons e as orelhas curtas caídas eram pretas na ponta. — Stix sujou a cama! — a palavra estrangeira soou como um espirro.

Tristan havia encontrado o cachorrinho na floresta, quando voltavam para a Aldeia, e deu para Safyrah — a contragosto da prima, Ágape, que queria ter ficado com o bichinho — assim que eles haviam chegado na casa de Kyrah.

— Stix? — repetiu Kyrah, arqueando uma sobrancelha e provocando — ou foi você, Safyrah?

— Mãe! — exclamou a menina, enrubescendo. Então percebeu que Emmerich voltara, e estava segurando um filhote diferente. Correu para o lado dele, pedindo — Emm, eu posso trocar? Acho que esse tem defeito!

— Mas você já não nomeou o mascote, pequena? — perguntou o arruivado, com um sorriso para a menina.

— Já... — concordou ela, franzindo o cenho, sem saber onde ele queria chegar.

— Então já é a dona dele, não pode abandoná-lo — declarou Emmerich, em tom gentil, e afagou a cabeça do filhote, explicando — Ele se afeiçoou a você, Safy, e é apenas um filhote, não está com defeito, é só ensiná-lo.

— Falei para não dormir com o Stix, minha fada — acrescentou Kyrah, ao que a menina fez uma careta. — E de onde surgiu esse nome? — perguntou, embora tivesse identificado o rio Estige.