Capítulo 7 - Seguindo um cipó

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Enquanto isso, num domingo, 26 de maio, os rapazes resolveram procurar alguma distração. O tempo estava magnífico, o ar, impregnado de brisas frescas vindas da cordilheira, o que suavizava a temperatura. Tudo convidava a uma excursão pelo campo.

Benito e Manoel, então, convidaram a jovem para acompanhá-los através dos grandes bosques que debruavam a margem direita do Amazonas, do lado oposto da fazenda.

Era uma forma de despedir-se dos encantadores arredores de Iquitos. Os dois rapazes iam caçar, mas iriam como caçadores que não largam as companheiras para correr atrás da caça, e quanto a isso podiam confiar em Manoel — e as duas jovens, já que Lina não se separava da patroa, iriam simplesmente passear, numa excursão de duas ou três léguas, o que não era de assustar.

Nem Joam Garral, nem Yaquita tinham tempo para se juntar a eles. Por um lado, a obra da jangada não estava terminada, e a construção não podia sofrer o menor atraso. Por outro, Yaquita e Cybele, apesar de auxiliadas por todo o pessoal feminino da fazenda, não tinham nem um minuto a perder.

Minha aceitou o oferecimento com grande prazer. Então, naquele dia, por volta de onze horas, depois do almoço, os dois rapazes e as duas moças foram para a margem, no ângulo formado pela confluência dos dois cursos d'água. Um dos negros os acompanhava. Todos embarcaram numa das ubás destinadas ao serviço da fazenda e, depois de passarem entre as ilhas Iquitos e Parianta, atingiram a margem direita do Amazonas.

A embarcação acostou junto a um berço de magníficas samambaias arborescentes, coroadas, a trinta pés de altura, por uma espécie de auréola feita de delicados galhos de veludo verde com folhas enfeitadas por uma fina renda vegetal.

— E agora, Manoel — disse a jovem —, cabe a mim fazer-lhe as honras da floresta, pois você não passa de um estrangeiro nessas regiões do Alto Amazonas! — Aqui estamos em casa, e vai deixar-me cumprir os deveres de dona de casa!

— Querida Minha — respondeu o rapaz —, não será menos dona de casa na nossa cidade de Belém do que na fazenda de Iquitos e, tanto lá quanto aqui...

— Ora essa! Manoel e você, minha irmã — exclamou Benito —, não vieram aqui para trocar ternas intenções, imagino!...

Esqueçam por algumas horas que estão noivos!...

— Nem por uma hora, nem por um instante! — replicou Manoel.

— E se Minha ordenar?

— Minha não vai ordenar!

— Quem sabe? — disse Lina, rindo.

— Lina tem razão! — respondeu Minha, estendendo a mão para Manoel. — Vamos tentar esquecer!... Esquecer!... Meu irmão exige!... Está tudo acabado, tudo! Enquanto durar o passeio, não estamos noivos! Eu não sou a irmã de Benito! Você não é o amigo dele!...

— Essa é boa! — exclamou Benito.

— Bravo! Bravo! Somos todos estranhos aqui! — replicou a jovem mulata, batendo palmas.

— Estranhos que se vêem pela primeira vez — acrescentou à jovem —, que se encontram, se cumprimentam...

— Senhorita... — disse Manoel, inclinando-se diante de Minha.

— Com quem tenho a honra de falar, senhor? — perguntou a jovem com a maior seriedade.

— Com Manoel Valdez, que ficaria feliz se seu irmão quisesse apresentá-lo...

— Ah! Ao diabo com esse modo de agir! — exclamou Benito.

— Má ideia a que eu tive!... Sejam noivos, meus caros! Sejam o quanto quiserem! Sejam sempre!

Júlio Verne - A JangadaOnde histórias criam vida. Descubra agora