Pensamentos De Um Criado-Mudo

Como Escritas Na Areia

Num dia qualquer durante o intervalo do trabalho eu decidi caminhar até a praia. Sentei na areia e apenas observei o mar, como sempre amei fazer. Me encanto por tudo que é maior do que eu, pois de certa forma anseio por fazer parte de algo que seja maior do que eu. O dia estava bonito de fato, apesar de já há um tempo eu não ter olhos para admirar tais coisas. Decidi aproveitar o tempo e escrever algo para celebrar o momento, com um graveto em mãos tracejei o chão com alguns de meus poemas. Me animei com o que havia escrito e enchi a areia de letras, há tempos não me encontrava de perto com a inspiração para tal. Continuei sentado esquecido do tempo, apenas admirando as palavras. Eu gosto de histórias, pois elas me fazem querer fazer parte delas. Me senti feliz por um momento, em algo onde tudo parecia se encaixar mas o que eu não esperava até então é que o mar não deixaria aquele momento continuar. As ondas do mar então vieram e tragicamente apagaram minhas escritas e por mais que eu tentasse não consegui mais recordar delas. Praguejei contra o mar, ele havia me tirado algo que eu tanto prezava, agora eu já não o admirava mais. Praguejei contra minha inspiração, havia me dado um vão momento que se perderia na efemeridade do tempo, agora eu já não a quero mais. Me entristeci com aquilo de fato, algo tão prezado foi embora subitamente. Levantei -me e de costas para o mar caminhei, sem perceber, minhas pegadas sobrepuseram e apagaram as últimas palavras restantes. Praguejei contra mim, havia apagado algo que dizia admirar tanto, agora já não escrevo mais.