Noites Em Claro

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Caminhando sozinho sobre calçadas vazias apenas observado por prédios cinzentos, fui abordado e indagado por quanto estaria disposto a vender os meus sonhos. Um velho homem perguntara qual o preço eu estaria disposto a cobrar por eles e que independente quanto fosse, o mesmo estaria disposto a pagar.

Estranhei a princípio e neguei a proposta. "Por que estaria disposto a vender algo que é tão meu?" - Pensei.
Mas o homem insistira.

Ele me perguntou o quanto os meus sonhos tiveram a me fazer bem até hoje e eu não tive nada a responder.

O homem insistira e me perguntou o quanto meus sonhos me fizeram sofrer até hoje. Resenti sobre a pergunta, aquilo me fez pensar, muito creio eu.

"Amigo, acho melhor eu ir embora" - Pensei. Mas antes de falar, o homem, como se lesse minha mente, se antecipou e pediu que eu ficasse.

E então me perguntou quantas felicidades meus sonhos me roubaram. Quantos momentos perdi em troca deles sem ao menos conseguir realizá-los.

Você não vê? Seus sonhos são fardos, eu apenas quero livrá-lo deles. Das angústias que te trazem, das lágrimas que provocam, das dores que te afligem.

Sua esperança é sua maior inimiga.

Estou te oferecendo uma ótima proposta de negócio. Se desprenda das mentiras que te contaram até que acreditasse serem verdades. Seus sonhos não são bons e eu pago o que for por eles.

Faça esse acordo comigo.

O homem estava tão decidido que era impossível que estivesse errado. Seu empenho era tão formidável que suas palavras pareciam surgir dentro da minha própria cabeça.

"Você tem razão" - Pensei.

Acordo fechado.

Depositei todos meus sonhos numa caixa que o homem trazia e entreguei a ele. Em troca o homem me entregara um cheque com toda a quantia em dinheiro que possuía. E então partimos cada um em sua direção.

Continuei caminhando pela calçada vazia enquanto a noite passara a sobrepor o dia. Ao chegar a esquina fui abordado por outro velho homem.

- Pelo jeito fechou o acordo. - O velho falou assim que me viu.

- Sim, mas como sabes? - Perguntei.

- Eu sei pois conheço o homem com quem fechaste negócio. Há muito tempo ele também vendera os próprios sonhos a um velho, por uma imensa quantia em dinheiro, mas acabou gastando-a por completo quase que num piscar de olhos.

Fiquei curioso como se pôde perder uma quantia tão grande de forma tão instantânea assim e não me contive ao perguntar.

- Com o que ele pôde gastar toda fortuna?

E o velho respondeu:
- Com os sonhos que você acabara de vender.

Pensamentos De Um Criado-MudoOnde histórias criam vida. Descubra agora