Pretérito Imperfeito

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Escrevendo cartas sobre um amor que nunca tive
Me sinto um eu lírico tão distante do lar
Perdido em mar aberto solto sobre a superfície
Com feridas tão profundas que não consigo enxergar
Reflito com meus erros não vejo meu reflexo
Concordo que sobre mim tenho pouco a falar
Não sei do gosto do seu beijo e do seu jeito complexo
Sou um sujeito oculto que não aprendeu amar
E sinto por meus atos que nunca foram feitos
Das palavras e desejos que não pude demonstrar
Me sinto prisioneiro de um pretérito imperfeito
De uma história sem final que não consegui começar
Caminhando no deserto em meio a miragens
Vagando desperto sobre as minhas ilusões
O final não sei ao certo além dessas viagens
E sinto que mais perto só vejo desilusões
Desabafo pras paredes e rezo que não me escutem
Meu egoísmo engole a chance de compartilhar
Só espero que perdoe esse meu jeito rude
De um poeta desatento que não sabe se expressar
Sigo incauto mas quieto como um dia nublado
Um amanhecer gelado sobre a noite que passou
Um despertar cinzento e meio abafado
Como as juras de amor embaixo do meu cobertor
Observo o sol nascer da minha prisão particular
Uma festa sem ingressos em que sou anfitrião
E sobre a luz da lua ao gosto desse féu
Danço com minha amiga mais fiel, a solidão.

Pensamentos De Um Criado-MudoOnde histórias criam vida. Descubra agora