Capítulo sete

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Meu coração parecia prestes a sair do peito, mais uma batida e ele cairia no quintal da minha casa, manchando o chão de ardósia e as folhas secas que voaram do quintal da vó.

Uma batida depois e ele ainda estava no lugar, imperceptivelmente mais devagar, acompanhando o som da respiração apressada e irregular que saía dos meus pulmões.

Me prometendo nunca mais sair para correr outra vez (como é natural após qualquer exercício físico), abri a porta da sala e desmontei no sofá, me preparando para encontrar algum objeto afiado em minhas costas (canetas e lápis) ou papéis sendo amassados pelo meu peso. Só encontrei um sofá macio e vazio das coisas que eu havia deixado espalhadas uma hora atrás, antes da corrida.

Para minha surpresa (que durou um segundo até eu me dar conta do que havia acontecido, melhor, quem havia acontecido), o restante da sala também estava impecável, sem nenhum vestígio das minhas tranqueiras.

- Mariana - bradou a vó de algum lugar da casa. - Como você consegue viver nessa imundice, menina? Achei que tivéssemos combinado que você passaria a cuidar da casa agora!

Eu considerei minhas chances de voltar para rua e correr para qualquer outro lugar, mesmo sendo alta a possibilidade de eu fatigar antes da primeira curva. Provavelmente a montanha Isaac me encontraria estatelada no chão, músculos incapazes de se mover, apenas para registrar outro dos meus piores momentos.

- Você me prometeu que estava limpando a casa, fazendo almoço e lavando roupa! - continuou a vó, mais perto que antes. - Mas a casa está cheia de poeira, a lixeira só tem sobras de frutas e papel de pão, e nem me obrigue a falar da roupa fedida no cesto!

- Vó, eu estava estudando - expliquei, sabendo muito bem que não adiantaria nada.

- E você não podia parar cinco minutos para lavar as louças? Você usou todas as facas da casa! E se sua mãe chegasse e precisasse cortar algo? Que falta de respeito é essa, Mariana?

A vó continuava gritando, sua voz proporcional a minha vontade de fugir, de ir embora e de não precisar lidar com ela em um daqueles dias.

"Aqueles dias" se referiam aos dias em que a vó acordava querendo consertar tudo o que achava errado em minha vida, mas não conseguia colocar em palavras sua insatisfação. Então, pequenas coisas como a louça, a poeira e a roupa suja sofriam por isso.

A verdade era que eu já sabia que um desses estouros estava chegando. Depois de ter passado a noite fora na casa de Alice, em seu sofá estranhamente confortável, minha vó não falou nada. Quando a mãe fez um dos seus muitos comentários perguntando se eu estava pronta para decidir o que fazer com minha vida, minha vó não falou nada. E antes de dormir no domingo à noite enquanto eu assistia a filmes e tricotava em sua casa, minha vó não falou nada - apenas entrou na cozinha, fitou cada grãozinho de poeira e saiu.

Salvando MarianaOnde histórias criam vida. Descubra agora