Capítulo oito

1.1K 150 31
                                    

A montanha estacionou o carro em frente a uma oficina mecânica com a destreza que eu achava que tinha ao volante (mas que na verdade era apenas um amontado de "eu não me importo se parar um pouquinho fora da minha vaga")

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A montanha estacionou o carro em frente a uma oficina mecânica com a destreza que eu achava que tinha ao volante (mas que na verdade era apenas um amontado de "eu não me importo se parar um pouquinho fora da minha vaga").

Depois de grunhir e revirar os olhos quando me ofereci para ir dirigindo, Isaac, a bolsa de instrumentos médicos da mãe (e minha, às vezes) e eu entramos em um carro grande e completamente escuro. Sua tintura e vidros eram tão pretos que parecia o alvo perfeito para polícia rodoviária federal. "Olhem só, não dá pra vocês verem todas as mercadorias contrabandeadas no banco traseiro. Legal, né?", dizia cada canto negro e brilhoso do veículo.

- Acidente de trabalho? - perguntei quando ele trancou o carro e ameaçou abrir porta da oficina. Sem responder (novidade), ele a ergueu até a metade e gesticulou para que eu entrasse.

Mesmo de fora eu podia ver o corpo caído, poças de sangue decorando o chão cinza e brilhoso. Um homem estava deitado de barriga para cima, morto ou dormindo. Provavelmente dormindo, apesar de não poder ouvir seu ronco por cima do barulho enorme de erguer a porta de metal da garagem para cima.

Joguei a bolsa longe da poça e evitei pisar com meus tênis de corrida cor de rosa (e solado branco) no sangue, que escorreu e respingou pelo chão, mas não em quantidade suficiente para ser preocupante. O rosto do homem estava bastante desfigurado, inchado e já roxeando. Uma briga, sem dúvida. Outra briga. Mas o sangue não vinha do rosto, vinha da camisa vermelha, com uma mancha escura na barriga, e do braço esquerdo jogado no chão.

- Qual o lance de vocês com brigas? - perguntei, trazendo a bolsa para perto e considerando qual a melhor forma de resolver o problema. Analisar ferida na barriga, estancar ferimento no braço, verificar resto dos membros e do rosto. - Fazem parte de um Clube da Luta ou o que?

- Do que você precisa? - perguntou Isaac, calmo como sempre.

- O que aconteceu? Além da briga, claro. Ele chegou aqui inconsciente? - Era óbvio pelos respingos no chão que o cara foi trazido até ali depois da discussão corporal.

- Ele estava bem, quer dizer, acordado, antes de eu sair - explicou Isaac. - Mas eu precisava chamar alguém por causa dos cortes.

- O filho da mãe tinha uma faca - disse o homem deitado, rouco. Eu reconhecia aquela voz e, depois de reconhecê-la, reconheci também o corpo no chão. Era o mesmo do final de semana, do homem gostosinho que estava conversando com Isaac até eu ser notificada sobre o bolo de papel higiênico preso em minha calcinha. Adorável.

- Agora vê se aprende a sua lição, Silas - disse Isaac, rondando a área em que estávamos. Se o lugar não fosse tão bem iluminado, com pelo menos três lâmpadas fluorescentes grandes, eu teria reclamado que ele estava fazendo sombra na mesa... No chão.

Automaticamente, coloquei as luvas e peguei uma tesoura de dentro dos muitos compartimentos da bolsa.

- Eu vou cortar sua blusa para chegar ao ferimento, tá bem? - falei, fitando os olhos inchados do homem, Silas.

Salvando MarianaOnde histórias criam vida. Descubra agora