Capítulo catorze

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Apertei o interfone três vezes seguidas sentindo o peso dos mil dinheiros no bolso do meu moletom. Dez notas de cinquenta, cinco notas de cem. Eu não lidava com tanto dinheiro assim (pagamentos eram feitos via depósito em minha conta) e algo naquelas notas suadas e amassadas parecia ainda mais sujo. Talvez fosse minha falta de trabalho por elas, talvez fosse sua origem.

Toquei o interfone duas outras vezes porque meu traseiro estava em chamas, ardendo ao imaginar o passado das notas. Encarei a câmera no interfone moderno e as duas câmeras de segurança no alto do muro branco de quase três metros de altura, uma apontada para mim, outra para a rua vazia de trânsito ou de carros estacionados. Naquele bairro, carros tinham casas. Se não tivessem, amanheceriam faltando partes.

O portão zuniu discretamente, deixou escapar um estalido e se abriu para um jardim verde, cheio de flores e paralelepípedos que me levavam à entrada da casa. Fechei a porta branca, segui pelas pedras elegantemente arrumadas e quase não pude fechar a boca de tanto estupor. Aquilo era uma mansão. Minha casa caberia naquele jardim e ainda sobraria espaço. Como alguém podia ter tanto dinheiro assim?

Continuei caminhando até a porta, tentando disfarçar minha suspeita sobre quem pudesse estar dentro da casa. Se meu pai me ensinou algo foi não confiar em pessoas que tinham dinheiro suficiente para ter uma estátua de querubins peladinhos em casa.

(Ele tinha duas, bem no centro da sala de seu apartamento duplex.)

- Eu estava achando que você nunca ia chegar! - disse uma voz feminina e preocupada, escancarando a porta da casa e cruzando a distância até mim em três largos passos. - Se algo tivesse acontecido com você, Newton ia ter me esfolado viva num piscar de olhos.

No instante seguinte meu rosto foi envolvido em algodão e lavanda, minhas costas foram abraçadas e minhas pernas empurradas rumo à casa bem iluminada, assim como todo o jardim.

- Não pude ir atrás de você porque a neném está dormindo, mas fico feliz que tenha saído do Fonseca inteira... Você está inteira, certo? Meio miniatura, mas inteira?

A mulher saiu do meu espaço pessoal apenas para checar a qualidade dos meus membros. Julgando que eu realmente estava inteira, tornou a me empurrar para dentro da casa - onde fomos agraciadas com uma sala que deveria ter sua própria pasta de fotos no Pinterest chamada "Pornô de Arquitetura".

Ela entrou na minha frente, bloqueando minha expressão boquiaberta, e preencheu meu campo de visão com um sorriso tão aberto que era impossível não o acompanhar.

- Como Newton é Newton, ele não deve ter falado de mim - disse ela, estendendo a mão direita. - Sou Dalila, muito prazer em finalmente te conhecer, Mariana.

- Mari - corrigi imediatamente. Algo naquele sorriso me deixava confortável, apesar de todos os itens que custavam meus dois rins ao nosso redor. Estar ali era como andar na parte da loja com avisos "se quebrar, paga". - E quem é Newton?

Salvando MarianaOnde histórias criam vida. Descubra agora