3. Chantagem

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Quando o despertador toca, avisando que já são sete da manhã, gemo como se estivesse sentindo dor e estico o braço para fazer aquele pequeno objeto torturador parar de gritar em meus ouvidos.

Arrasto-me pela cama e espio através da janela. O dia está ensolarado, alguns pássaros estão gorjeando por entre os galhos curvados das árvores. Parece realmente aquele tipo de dia promissor, em que acontecerão muitas coisas boas. O problema é que eu sei que de promissor ele não tem nada para mim. Estou completamente o contrário desse clima. Sinto-me nebulosa, uma chuva torrencial querendo cair com raios e trovões.

Não quero ir para as aulas de hoje. Pela primeira vez, sinto-me como um coelhinho com medo de levar a cajadada quando menos esperar. Estou receosa, para não dizer apavorada, de que no momento em que puser os pés para fora do quarto uma pessoa indesejável pode me abordar.

Não tenho problema com as pessoas, geralmente são elas que têm problema comigo. Só que, depois do que aconteceu na manhã de hoje, passei a ter um grande problema com alguém que eu espero que tenha uma péssima memória. Penso em pedras e um arremesso certeiro na cabeça. Seria a perfeita queima de arquivo, mas aí então eu correria o risco de ir para a cadeia.

- Acorda, dorminhoca!

Holly, minha colega de quarto e também amiga, entra no quarto e joga minha toalha em cima de mim. Ainda encolhida na cama, eu a seguro com uma mão e ponho os pés para fora do colchão antes que decida que faltar às aulas por causa de um idiota que estava onde não deveria estar vale a pena. Como a garota controlada e metódica que sou, eu iria de cara limpa e enfrentaria o que tivesse de enfrentar. Incluindo até mesmo tatuados que me viram com um vestido curto sensual, saltos mais compridos do que as minhas pernas, esbanjando luxúria num clube de striptease.

Pensando bem, o que é uma falta em comparação a meses inteiros de assiduidade?

- Acho que não vou hoje. - Dou duas tossidelas fracas e teatrais, querendo mostrar a Holly que posso estar doente. - Sinto meu corpo quente e fraco.

Holly penteia os cabelos úmidos com pressa, em seguida vai se sentar ao meu lado para medir a minha temperatura com a costa da mão.

- Não está com febre. Talvez esteja com ressaca dessas suas noites misteriosas que você não nos conta.

Na verdade, eu até contei, mas elas não engoliram a minha desculpa de que é porque gosto de virar a noite estudando.

- Eu já disse que elas nem são tão misteriosas assim.

Levanto da cama e capturo o meu kit de higiene. Tudo bem, estou indo para as aulas. Até eu reconheço que minha atuação foi ridícula.

- Aposto que não quer contar que está saindo com alguém.

- Por que eu faria uma coisa dessas?

- Exceto pelos caras que já ousaram falar com você, eu e Beth nunca vemos você com alguém. - Ela fica na frente do espelho e começa com a sessão de maquiagem. - Você só pode estar transando com alguém, Kris.

Quero rir, porque é meio impossível que eu esteja transando com alguém, levando-se em conta o meu trabalho secreto que exige muito esforço e dedicação.

- Não estou!

- Está! - ela rebate, divertindo-se com a careta que faço.

- Oh, por favor! Por que eu esconderia um cara de vocês? Se eu estivesse saindo com alguém, vocês seriam as primeiras a saber. Até mesmo Gary sabe disso!

Aponto para o pequeno aquário no criado-mudo, em seguida nós duas olhamos para Gary, o peixinho dourado que solta uma bolha pela boca para nós naquele exato momento.

Escândalo [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora