12. Regressão

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Financeiramente falando, eu faço muito dinheiro no clube, mas, sério, apenas não sei se isso é algo de que deveria me orgulhar. Sou capaz de pagar todos os custos com o ensino, dormitório, alimentação e ainda sobra algum dinheiro para os livros e roupas. Mais do que sobrava quando eu trabalhava como garçonete, mas isso ainda é pouco. Como stripper, também tive que assumir gastos adicionais com coisas de stripper. Maquiagem, depilação, tangas, manicure, taxas da casa. Essas coisas não saíram baratas. Semana passada tive que gastar vinte dólares com cílios postiços.

À medida que o ano passa, tenho impressão de que meu custo de vida está aumentando a cada vez que estou perto de pegar o diploma. Pago as cadeiras que estou estudando e tenho que lidar com o estágio não remunerado. Minha melhor calça ganhou um rasgo na semana passada quando engatou em um prego de banco. Tive que comprar outra, ainda que não estivesse contente com o preço.

As gorjetas das danças me permitem guardar mensalmente uma pequena parte para o futuro com Jo. Não importa o que aconteça, prometi que não tocaria nesse dinheiro por nada até que tivesse o suficiente para alugar por bastante tempo o apartamento.

Estou no clube como stripper há dois meses e, de longe, sou a dançarina mais popular. Trabalho quatro dias por semana: nas noites de quinta, sextas-feiras e fins de semana. Obviamente fins de semana dão mais dinheiro. São os melhores dias que uma stripper poderia escolher para trabalhar. A sexta-feira é o último dia útil da semana, o que significa que muitos homens de trabalho estão desejando um meio para obter diversão e prazer, inclusive nos fins de semana, que é quando a casa também fica cheia. O clube é esse meio.

Meus turnos duram em torno de seis horas. Faço quatro ou cinco apresentações por noite e consigo em média cento e quarenta dólares em cada número. Entre as séries no palco, eu trabalho dançando nas mesas, que são dez dólares por cada mesa mais as gorjetas que os clientes me dão acima disso. Então, há as salas VIP nos fundos da casa, cinco delas. Já fui solicitada em todos os quartos VIP, onde os lances começam em cento e sessenta.

A coisa funciona basicamente assim: eu não sou mais paga em si pelo clube, agora sou eu quem pago, uma porcentagem. Dez por cento sobre o que ganhar. E ainda há as taxas por turno para dançar no clube que variam de quarenta a sessenta dólares. Então, sim, eu pago para trabalhar lá. Se uma garota quiser dobrar o turno, ela terá que pagar o dobro da taxa.

As garotas me disseram que complementam esse dinheiro quando são solicitadas para se apresentarem em festas particulares como aniversários e despedidas de solteiro. Nesse caso elas ficam com todo o dinheiro, já que estão fora dos limites do clube. Já é suficientemente difícil subir ao palco para tirar a roupa. Eu honestamente não gostaria de ter que chegar ao ponto de fazer striptease em festas particulares, onde a probabilidade de me assediarem é muito maior.

Já me ofereceram dois mil dólares para entreter em privado um executivo dono de uma multinacional que estava de passagem pela cidade.

Eu recusei.

Conheço meus limites o suficiente para sentir meu estômago revoltado com os assobios e cantadas. Homens me agarrando, tocando-me, tentando tirar o minúsculo fio dental. Tecnicamente é contra as regras do clube, mas sempre existem aqueles homens bêbados idiotas que desobedecem. Gritam obscenidades para mim enquanto golpeio suas mãos para longe do meu corpo.

Não sei dizer se uma mulher pode se preparar psicologicamente para tudo isso, mas eu definitivamente nunca estive preparada. Quero dizer, minhas expressões, meus movimentos, meus sorrisos ainda continuam sendo maquinais. Dentro e fora do palco. Sou alguma espécie perdida entre robô e humano, consumida pela insensibilidade e frieza. Só que... apenas não sei dizer como a verdadeira Kristanna está por dentro. Eu deliberadamente ignoro essa parte minha.

Escândalo [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora