17. Opressão

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A recepção de boas-vindas não é a das melhores.

Minha vida se transforma em meu inferno pessoal depois que volto do Canadá. O que eu mais temia se tornou realidade: as fofocas atravessaram as fronteiras canadenses para se espalharem pela universidade. Os rumores são de que sou uma stripper. Propositalmente focaram na parte mais sórdida da minha vida - ao menos a parte mais sórdida que conhecem -, e as atenções se voltam exclusivamente para isso. Ninguém ainda se deu ao trabalho de procurar saber quem foi Kylie Johnson, o que de certa forma é um alívio.

Não tenho dúvidas de quem começou os boatos, pois os garotos do time de futebol são os primeiros a me abordar e me cercar no dormitório fazendo piadas sem graça perguntando-me quanto cobro por um strip em festa particular.

Garotos. É tudo o que eles são. Não passam de caras imaturos e idiotas.

Estou escondida no quarto do dormitório, pensando sobre o dia de amanhã, quando Holly irrompe pela porta usando as roupas de ginástica que geralmente veste para ir à academia. Beth entra logo em seguida, fechando a porta atrás de si.

- Por que não nos contou? - Holly pergunta em um tom de briga tão alto que acho que posso ficar surda. - Por que você nunca nos conta o que realmente merece ser contado? Meu Deus, me segura, Beth! Ou eu vou dar uns tapas nessa garota.

- Se controla - Beth diz a Holly em tom de repreensão. - É a vida dela que está em jogo, e não a sua. Para de surtar ou vai acabar tendo um treco de verdade.

Holly se vira fungando e, quando volta-se para mim, vejo que está tentando inutilmente conter as lágrimas que já estão sendo derramadas.

- Eu sinto muito, Kris. Sinto muito mesmo. - Ela funga novamente, os nervos à flor da pele. - Caden me contou sobre os boatos. Ele disse que você e Aiden tiveram uma briga daquelas.

- Não são boatos, são a verdade. - Sento-me na cama para olhá-las. - Sou uma stripper e de fato estive internada em uma unidade psiquiátrica por conta de alguns problemas que tive no passado. Pronto, era isso o que escondia e que não queria que soubessem.

- Por quê? - Beth indaga.

- Por quê? - ecoo tristemente. - Porque isso é tão... horrível.

- Não há nada de horrível em trabalhar para conseguir seu dinheiro. - Beth se senta ao meu lado da cama.

- E não há nada de horrível em ter um passado do qual não se orgulha, porque o que importa é que você está bem. O que importa é o agora e quem você se tornou. - Holly hesita, depois, como Beth, senta-se no outro lado da cama. - Só por curiosidade... Não foi nenhum crime que cometeu, foi?

Eu rio fracamente.

- Não - respondo. - Há mais e juro que vou contar no momento certo, mas preciso de tempo para digerir o que já está acontecendo.

- Tudo bem, saber que você não é uma criminosa já basta.

- Holly! - Beth censura.

- O quê? O que eu falei?

- Está tudo bem - digo a Beth. - Não me sinto ofendida nem nada do tipo. Vocês duas deveriam se acalmar.

Beth e Holly se entreolham e depois me abraçam ao mesmo tempo.

- Apenas garanta que eu esteja presente quando você decidir contar o resto das coisas.

- Eu também - Holly pede. - Nós vamos te proteger, Kris. Vamos garantir que nada te aconteça.

- Isso é impossível, mas agradeço. Meninas, não posso ficar dependendo de vocês em cada instante da minha vida. Não seria justo. E do jeito que o mundo está em um complô para me aterrorizar, haverá algum momento em que vocês não poderão estar lá por mim.

Escândalo [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora