8. Passado

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A música instrumental para fundo de festa mistura-se ao ambiente em uma melodia suave, calma e lenta enquanto ouço os burburinhos dos convidados conversando, os sussurros e as risadas eventuais. Não conheço nenhum deles. Meu rosto é uma máscara de maquiagem que esconde o que guardo para longe daquelas pessoas. Ocasionalmente flagro olhares masculinos de apreço para mim.

Toda a base, rímel, batom, blush, meus cabelos presos em um coque charmoso, tudo isso pintam minha imagem de mulher fatal. Claro, os brincos longos e o vestido vinho que uso também ajudam a me fazer parecer uma mulher mais madura. Apesar do corpo marcado, ainda consigo manter toda a pompa e o charme que preciso para conquistar os convidados. Mas essa não sou eu. Não é ali que quero estar. Não pertenço a este lugar.

Meu nome é Kristanna Barton, tenho 23 anos e... não sei mais se tenho tudo sob controle.

Um braço possessivo fica em torno de minhas costas inferiores ao mesmo tempo em que alguém planta um beijo casto no meu ombro esquerdo, causando um arrepio que sobe pela minha coluna vertebral, perdendo-se em minha nuca. Não preciso olhar para saber quem está ao meu lado neste momento.

— É uma interessante festa, não? — ouço o profundo tom de ironia. Ele inclina a taça de champanhe para sua boca e toma todo o conteúdo em apenas um gole. — Eu pessoalmente sinto como se estivesse em uma daquelas épocas em que as moças tinham que debutar para serem introduzidas na sociedade em busca de um bom partido.

Olho-o de soslaio, estremecendo só de me lembrar do significado de "acabar alguma coisa" com Aiden Blackwell. Quero dizer, não houve sexo, mas fui levada a tomar um segundo banho antes que me arrumasse para o jantar. Um banho com ele. Sem roupas. Com ele. Nua. Com ele... Tenho que parar de repetir essas coisas.

— Mas você não é uma moça — replico.

Ele sorri sedutoramente.

— Eu não estava falando de mim. — Seu olhar é de um predador quando me fixa com seus olhos. — Estava falando de você. Você é a debutante. A menina dos olhos da festa. Todos não param de olhar para você. Deveria estar grata que não sou um namorado ciumento. — Meu fôlego se perde. Aquela brincadeira de parceiro ciumento é minha. Por que soou incrivelmente verdadeira na voz de Aiden? — Não ainda...

— Pensei que o jantar fosse para você — lembro.

Seus olhos param em mim por longos segundos. Estão seguindo cada hematoma meu exposto que nem gelo nem maquiagem conseguiram atenuar tanto. Aiden não me perguntou nada ainda, mas, por alguma razão, ele parece saber a resposta. Quando um convidado e outro me abordou, apontando dedos com caras horrorizadas, eu disse que foi resultado de um longo dia de brincadeiras com o adorável Jack. Agora eles acham que eu sou um anjo de candura por ter me oferecido para brincar com o caçula solitário.

Ledo engano.

— Você vê aquilo? — Aiden aponta discretamente para a mesa retangular de comprimento onde estão sentados alguns homens de smoking acompanhados de suas respectivas esposas em seus vestidos de grife. No centro das atenções, está o influente Philip sentado na cabeceira com Lorelai Blackwell ao seu lado direito da mesa. — Ele não está aqui por mim. Está aqui por você.

Algo corre assustado para o canto de meu estômago. Nem ao menos sei por que fiquei nervosa de um segundo para outro. Ou... triste por ouvir o que ele está me dizendo.

— Ele é seu pai. Claro que desistiu da viagem para comparecer à sua comemoração.

Aiden dá uma risada sarcástica.

— Ele é Philip Blackwell. Está aqui por alguma coisa, provavelmente planejando como fazer da nossa estada a pior possível. Eu não confio nele, ainda que devesse. — Então se vira para mim, um sorriso torto pairando no canto de seus lábios. — Mas você é a psicóloga aqui. Diga-me, já conseguiu diagnosticar a loucura pessoal de Philip Blackwell? Tem tratamento?

Escândalo [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora