A Lua estava cheia porém era difícil ver as estrelas por culpa das nuvens naquela madrugada. E novamente, Josh estava acordado lutando consigo mesmo. As vozes que ele ouvia, o aperto em seu peito e aquela já familiar sensação de sufocamento estavam se tornando cada vez mais constantes e intensas. Ele não sabia de onde toda aquela angústia vinha tampouco o porquê dela existir. Mas Josh sabia que aquilo o assustava e, a cada dia, seu medo apenas se intensificava.
Havia um lugar no mundo em que Josh se sentia melhor, com uma pessoa em especial. Tomando cuidado para não fazer tanto barulho, com seu corpo trêmulo Josh saiu de casa devagar e subiu a escadinha de madeira da casa na árvore que ficava no quintal de Tyler. Os dois garotos haviam a construído por volta dos 10 anos de idade, e desde então era como se fosse o lar deles. Apesar de 7 anos terem se passado, eles continuavam subindo ali para compartilhar qualquer coisa. Tantas vezes que Josh chorou ali e Tyler o consolou pois apenas ele o fazia acreditar que tudo ficaria bem. Naquele momento, Tyler não estava ali e Josh precisava dele porém sempre pensava que iria incomodá-lo ou assustá-lo apesar de todas as milhares de vezes que Tyler afirmou que isso nunca aconteceria; ele jamais o incomodaria e nem por uma vez o assustaria. Mas Josh tinha esse complexo, que era apenas mais um de seus fantasmas. Ele abraçou os joelhos e abaixou a cabeça quando a angústia já não cabia dentro do seu corpo de humano e saia pelos seus olhos. Desejou não ser amaldiçoado, desejou voltar para o tempo em que os dois construíram aquela casa. Odiou-se por crescer e por não-proporcionalmente deixar aquelas sensações ruins crescerem junto. Ele queria paz. Queria seu melhor amigo. Talvez silêncio. Ele reconheceria que a noite estava silenciosa e sua mente conturbada e barulhenta demais.
Silêncio.
— Josh?
Era a voz de Tyler, a única voz de Tyler. Josh nem ao menos se perguntou como não ouviu o menino subindo, apenas o olhou com pesar sabendo que não poderia esconder os seus sentimentos de Tyler.
— Josh... — Tyler se aproximou, colocando a cabeça do garoto em seu colo. Josh apenas se permitiu a chorar mais. — Calma, vai ficar tudo bem. Não gosto de te ver chorando, Josh...
— De-desculpa. — Josh disse com a voz abafada pelo choro.
— Não peça desculpas. Nunca peça desculpas por isso, Josh. Quer me falar o que está sentindo? — Tyler tentava se manter firme, embora fosse um árduo trabalho ter seu melhor amigo, sua pessoa favorita no mundo desmoronando bem no seu colo.
— As vozes, Ty... Eu queria poder dormir e ser uma pessoa normal, um filho melhor, um irmão melhor. Um amigo melhor para você.
— Não. —Tyler o interrompeu suavemente. — Não teria como você ser um amigo melhor se não fosse exatamente você. Entende isso? Continue.
Silêncio. As palavras não se formavam na boca de Josh, ele não sabia se merecia alguém que cuidasse tanto dele como Tyler. Tyler não se importava dele ter transtornos. Tyler também não se importou quando, aos 7 anos, a família de Josh se mudou para a vizinhança todos terem o julgado por estar fazendo amizade com o "novo menino esquisito". Tyler se importava com Josh e seu bem-estar, e era assim desde podiam se lembrar. Tyler construía Josh de volta cada vez que ele desmoronava, e estava ali para lembrar da pessoa que ele realmente era na hora de suas piores crises. Tyler foi quem teve a ideia de construir a casa na arvore para servir de refúgio para eles, principalmente para o amigo. Josh sabia que se não fosse por ele, só Deus saberia onde ele poderia estar.
— Ty?
— Sim?
— Essa casa na árvore foi a melhor coisa que já fizemos. — Josh falou orgulhoso.
Sua voz já não estava mais tão chorosa. Ele se sentia mais seguro. Tyler sorriu, encostando sua cabeça na parede de madeira.
— Foi, né?