sétimo capítulo

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— Então você vai ficar bem?

Era o dia anterior da noite de natal. Columbus estava branca pela neve que caia debaixo de um céu azul com pinceladas de tons de laranja. Tyler estava quase partindo para sua viagem, mesmo contra sua vontade. Ele queria garantir que Josh ficaria bem porque afinal aquele seria o primeiro natal que passariam separados. Josh amava as luzes de natal, a neve e todo o espírito de solidariedade que aquela época do ano proporcionava. Mas aquele não havia sido um ano bom, e com a ausência de Tyler ele previa que aquela data também seria não seria boa.

— Eu prometo que vou tentar, Ty.

Os dois meninos se abraçaram e Tyler entrou no carro da família. Do vidro embasado e gelado ele pôde ver Josh se despedindo com sua mão com luva. O menino dentro do carro conseguiu sentir um aperto no coração, ele tinha um pressentimento de que deveria ficar na cidade mas não havia saída. Josh sentiu um vazio imenso logo que não conseguiu mais ver os faróis do carro da família Joseph. Em tantos anos, aquela era a primeira vez que ficariam longe um do outro.

Josh caminhou de volta para casa em silêncio. As ruas geladas e vazias ao entardecer fizeram Josh se questionar se realmente era natal. Aquelas luzes e decorações não pareciam as mesmas sem o entusiasmo do menino; para ele não era aquela data do ano tão encantadora e sim alguns dias que passaria sem reparo ou apoio.

— Olá, aberração. — Josh reconheceu a voz por atrás de sua nuca, era um dos garotos que mais o perturbava sem motivo algum que vivia na cidade e frequentava a mesma escola: Alison. — Está sem o seu protetor hoje, né?

Josh percebeu seu corpo começar a tremer, não pelo frio. Acelerou o ritmo para se afastar do menino que sentia prazer ao o intimidar. Sentiu rapidamente uma mão em suas costas, e quando pôde se dar por si, estava com a cara na neve. As gargalhadas de Alison ficavam mais distantes conforme ele ia embora mas para o garoto ainda jogado na neve era alta e repetitiva.

Ele levantou da neve, agora tremendo pelo frio e pelo medo. Ele queria chorar, queria gritar, queria ficar sozinho. Ele olhou para trás e correu pelas ruas com neve até sua casa, onde era quente e ele podia ficar apenas com as vozes na sua cabeça.

25 de dezembro, meia noite.

feliz natal, ty. sinto sua falta.

Mesmo sabendo que Tyler poderia estar longe do celular, Josh quis assegurar que ele fosse o primeiro que lhe dissesse "feliz natal" como de costume. A família já havia jantado e suas irmãs abriam seus presentes curiosas. Josh tentou mostrar alguma animação ao fazer o mesmo. Havia ganhado bermudas e um par de tênis. Ele lembrou de como o natal costumava ser melhor em todos os aspectos, até mesmo nos presentes, algo que Josh nem se importava tanto. Ele agradeceu pelo presente e abraçou cada um na sala, e então perguntou se podia comer a sobremesa lá fora.

— Tem certeza? — sua mãe começou. — Está frio e acabou de dar meia noite, filho.

Josh olhou pra baixo, e então assentiu.

— Tudo bem, filho. Mas coloque mais um casaco e não durma lá. — Laura sabia que o filho queria ir pra casa na árvore. Havia percebido Josh distante o dia inteiro e aquele lugar era onde ele ia para colocar os pensamentos em ordem ou simplesmente se acalmar. Ela queria ver o filho bem.

Josh a beijou em sua bochecha e subiu para o quarto para pegar Daisy. Quando desceu sua mãe lhe dera uma fatia de pudim e então ele foi para onde queria fugir durante toda a noite.

O menino sentou-se no chão de madeira da casa na árvore e esticou as pernas, colocando Daisy entre elas.

— Hoje ele não vem. Estamos só eu e você.

Josh acariciou a cabeça de Daisy e deu alguns pedaços da sobremesa a ela. Já não nevava mais e o céu estava completamente limpo, deixando Josh ver a Lua.

— Eu conto meus segredos à ela. — disse para Daisy, se referindo à Lua. — Digo todos os meus medos e meus sentimentos que nem eu sei quais são. O que não posso dizer a Tyler, eu digo a ela. Ela sabe o que sinto em relação a Tyler.

Daisy alternava em olhar para Josh e para o teto da casa, e mesmo assim parecia que ela o compreendia.

— Eu não sei se é algo normal na vida de todos, mas é como se ele fosse a pessoa que o destino, Deus, ou qualquer coisa criou para estar junto comigo. Eu nunca tive muitos amigos então não sei se é simplesmente o sentimento da amizade. Mas desde que cheguei ele conseguiu espantar todas minhas sombras quando estamos juntos e, sabe, eu preciso dele. Eu sei que preciso dele para criar e guardar minhas memórias, para preservar o meu lado que ainda está consciente e não apenas desperto. Porque a maior parte do tempo eu estou desperto sendo comandado pela minha parte ruim. E com ele, eu sinto algo. Algo que nunca sinto. E eu gosto do conforto que esse sentimento me dá.

Josh fez uma pausa e percebeu que falava consigo. Tudo que havia falado para Daisy ele já havia contado à Lua. Há momentos em que Josh realmente precisa apenas se abrir para alguém que não o fará mal. Pois dentro dele havia sensações e sentimentos demais que transbordavam em seu pouco tamanho.

— É, Daisy, até que o natal foi suportável até aqui.

taken by sleep | t+jOnde histórias criam vida. Descubra agora