Os dias passavam, até se tornarem meses. Tyler estava devastado e dormia cada dia menos, cada minuto que passava com Josh inconsciente era doloroso e destruidor. Ele sentia como se sua alma estivesse cinza e embaçada como se o espírito dentro de si houvesse adoecido. Ele não conseguia deixar o hospital, e nas vezes que saia de lá era porque fora obrigado. Tyler queria estar perto para quando seu amigo finalmente abrisse os olhos novamente, mas a cada movimento que o frio relógio da parede dava era um pedaço de sua esperança desvanecendo. Josh era um grande fã de star wars então criava a filosofia de sempre manter uma fagulha de esperança. Era o que Tyler tentava pensar para continuar forte.
O menino estava perdendo matéria da escola e apenas ia nos dias de prova, — cujo conteúdos não fazia ideia — sua vida agora se resumia a cantar músicas que escrevia para Josh. Tyler lutava para não deixar a esperança ir embora e a transformava em canções. No fundo ele queria acreditar que, de alguma forma, Josh ouvia ou sentia algo. Tyler também anotava em um caderno o progresso de Josh e seu dia-a-dia no hospital. Não queria de jeito nenhum lembrar de uma época de tamanho sofrimento para ele, mas tinha certeza que quando o amigo acordasse lhe bombardearia de perguntas. Então ele anotava.
Era manhã e Tyler havia dormido em casa. Rapidamente se arrumou para o hospital, e levou junto sua mochila com seus cadernos. Um deles era o caderno que escrevia suas canções, e hoje tinha alguma a mostrar para Josh.
Ele sentou-se ao lado da cama como sempre fazia e a irmã de Josh perguntou com compreensão se gostaria de ficar a sós com ele. O garoto assentiu agradecido e olhou para o rosto do amigo, pegando em sua mão.
— Oi, Josh. Estou aqui de novo. Espero que sua noite tenha sido tranquila, porque quando eu cheguei ouvi mais choros de bebês na maternidade que antes. Eu não dormi direito, mas, você sabe, já é normal.
Alguém bateu na porta, e Tyler pediu pra entrar. Era a irmã de Josh de novo com um copo de café na mão para Tyler.
— Sem açúcar.
— Obrigada, Ashley.
Ele sorriu e a menina deixou o quarto novamente.
— Sua irmã acabou de me trazer café. Eu lembro de como nós três costumávamos brincar juntos, mas aí ela fez novas amigas e ficou apenas nós dois. Ela sente sua falta, Josh. Eu também e todos nós. Eu queria que soubesse a falta que faz. Esses meses foram suficientes para perceber que eu não consigo viver sem você, Josh, e eu espero que saiba disso.
A esse ponto uma lágrimas começava a querer sair do olho de Tyler mas ele rapidamente limpou. Desde que Josh se encontrava naquela situação, ele chorava todo dia. De saudade, duvida, de tristeza.
— Eu te fiz outra música. Eu espero que esteja ouvindo todas elas, mas mesmo se não estiver eu vou cantar todas para você quando acordar. Eu lembro como costumava dizer que gostava de quando eu canto e da minha voz. Que te acalma. Eu espero que ainda consiga.
i feel for you but when did you believe you were alone?
Ele cantava aqueles versos que escrevera com tanto pesar finalmente para a pessoa em que lhes eram dedicados. Apesar do corpo adormecido à sua frente Tyler sabia que a conexão sempre presente entre eles o faria ouvir sua voz e captar seu mais sincero sentimento. Mas o nó em sua garganta aumentava a medida que ele processava que aquele era seu melhor amigo com as mãos geladas e situação crítica em uma fria cama de hospital. Que por mais que sua mente tentasse negar para confortá-lo, aquele poderia ser o início do destino final da pessoa em que o trazia todas aquelas boas lembranças e sentimentos insubstituíveis desde que ele podia se lembrar. Tyler não sabia exatamente quando tudo havia começado a piorar, e se culpava por não poder retribuir toda a compreensão que seu melhor amigo sempre lhe dava. As lágrimas apenas aumentavam de intensidade à medida em que ele continuava a ver a nua realidade a frente de seus olhos. Ele poderia perdê-lo para sempre, e isso significaria perder toda sua motivação para continuar. Aquela canção poderia não contribuir em nada para trazê-lo de volta apesar do desespero em que Tyler pedia para não levar sua vida para longe dele, mas ele sabia que não podia ficar intacto enquanto o perigo de perder uma significativa parte de sua existência o atormentava. Ele não conseguiu salvá-lo antes e não poderia falhar desta vez. Tyler pegou com força a mão do menino cujo olhos fechados escondiam a expressividade. Ele queria por um minuto comunicar-se com a alma de Josh e explicar que não conseguiria seguir se o perdesse para a eterno.
don't take your life away from me...