O final do ano se aproximava e apesar de ser a época favorita para Josh, conforme os dias passavam pior ele ficava. As recaídas viraram constantes e as crises, mais intensas. O garoto se culpava pelo tal, logo seriam os dias mais brilhantes do ano, onde o tapete de neve e a nuvem de luzes o inspirava como milhares de almas. E lá estaria ele, encarando o ventilador de teto do seu quarto e alucinando. Aquilo o assustava sua vida inteira, porém algo mais ecoava em sua cabeça e o aterrorizava, ele tinha dúvidas do que era exatamente e a procura da resposta lhe causava um estado de ansiedade. Os lábios de Josh ainda não haviam esquecido de quando Tyler os beijou durante aquela festa. Josh ao mesmo tempo que tinha aquela explosão de transtornos o turbilhão de sentimentos que apenas aumentaram por Tyler também o rodeavam. Ele reconhecia que quando o menino estava por perto seus fantasmas sumiam, ou pelo menos se intimidavam pela sua presença. Josh sempre reconheceu que Tyler o fazia bem, desde os primeiros dias de amizade. Mas se antes ele o amava, agora não sabia se amava mais do que deveria.
Quando as recaídas de Josh aconteciam, seu quarto e a casa na árvore viravam sua moradia. Ele sabia que suas crises podiam ser assustadoras e a presença de ninguém o deixava confortável, exceto a de Tyler, que o visitava todos os dias. Sua mãe tentava conversar e fazê-lo desabafar algo se quisesse, mas ele realmente preferia ficar sozinho nesses dias. Não era a primeira vez que esse período de recaídas acontecia então sua família sempre tentava lidar como podia, o observando para garantir que estava bem e preparando algumas das comidas que mais gostava. Eles também o permitiam faltar à escola, já que Tyler lhe entregava a matéria e a escola estava ciente de sua instabilidade.
Josh estava naquela situação há alguns dias, e Tyler sempre depois da escola caminhava até sua casa. Desta vez Josh estava na casa na árvore com Daisy. Estava com uma manta pois estava nevara noite passada.
— Achamos que você não viria hoje. — Josh disse assim que percebeu alguém entrando.
— Eu fui buscar algo pra você. — Tyler estendeu a mão para Josh, nela havia uma garrafa térmica com chocolate quente da sua mãe, o favorito de Josh. Trazia dois copos consigo. Ele sorriu e sentou-se.
— Você é o melhor ser humano do mundo, sabia?
— Eu suspeitava. — Tyler riu. — Josh, eu tenho algo pra te falar.
O coração de Josh acelerou, o menino já pensou que ele citaria o beijo que ainda não esqueceu. E também tentou pensar em alguma besteira que podia ter feito nos últimos dias.
— Ham, o que?
Tyler respirou fundo, não queria dar tal notícia mas tinha que avisa-lo.
— Eu irei viajar no Natal e Ano Novo. Eu tentei convencer meus pais a mudarem a data da viagem mas não adiantou, eles querem ver a família. Desculpa, Josh, eu tentei.
A época favorita de Josh, em um período de recaídas e ainda sem seu melhor amigo. Josh sabia que o Natal não seria como todos os anos mas ele pensou que teria Tyler ali. Agora Josh nem conseguia imaginar como seria o Natal e tudo que desejava era que Tyler estivesse brincando. Ele continuava em silêncio, apenas olhava para o rosto de Tyler pensando que pela primeira vez em tantos anos eles não passariam juntos a época mágica do final de ano.
— Fala alguma coisa, Josh...
Ele não conseguia. Algo em sua garganta o travava, talvez a vontade de chorar ou a ansiedade que acumulou ali nos últimos minutos. Ele apenas abraçou Tyler fortemente. Tyler, surpreso, fechou os olhos e envolveu seus braços em torno do garoto de cabelos ondulados. Naquele momento eles não precisavam falar nada, o calor de um ao outro os confortavam mais do que qualquer palavra. Josh desejou congelar aquele instante e continuar com o corpo junto ao de Tyler no conforto dos seus braços para sempre. E Tyler também o fez.
