Eram 4 da manhã. Tyler não dormia, pois as memórias estavam o atormentando naquela noite específica. Memórias de Josh rindo, do menino feliz e ativo. Ele lembrou do Josh no lago e o quanto se sentiu livre, e quando o levou para floresta. Da noite em que se beijaram e depois observaram os fogos iluminando a cidade. Quando caçavam constelações na casa da árvore. Quando cuidaram da passarinha doente e como Josh era atencioso com ela. A voz do menino adormecido ecoava em sua cabeça como uma melodia confortante e simultaneamente cortante. Ele ansiava ouvi-la novamente, tocar em suas mãos macias e quentes, e olhar em seus olhos cor de café.
E foi quando Tyler teve certeza que o medo é a maior emoção que alguém pode sentir. O medo o paralisava e o fez perceber que amava Josh de uma forma que ele jamais havia notado. É, o medo é maior até do que o amor, porque foi através de um que deu-se a descoberta do outro. Tyler estava tão apavorado de ter o perdido para sempre que se deu conta de como precisava dele, o quanto sempre zelou pelo seu bem-estar e o quanto ele vive em sua cabeça, em linhas escritas além de uma amizade. Não era como se o menino nunca houvesse se questionado, ele lembrava como se sentiu e desejou por mais quando beijou Josh naquela festa para protegê-lo. Josh era seu melhor amigo. E ele o amava como tal. Mas ver o risco que corria em ser arrancado dos seus dias o fez ver que, na verdade, Tyler cultivava algo maior.
As lágrimas desciam enquanto ele encarava o ventilador de teto e pensava que sua pessoa favorita no mundo pode ter ido embora. Ele não queria acreditar que havia sido dessa maneira, mas sim, foi. Josh se matou. Ele está há seis anos daquela cama desacordado. Os médicos diziam que nada do que eles fazem adiantaria se ele não quisesse voltar. Tyler não aguentava mais essa espera, ele o queria vivo e saudável, antes que adoecesse também. Ele já havia se formado na escola e não vivia mais para nada a não ser esperar por ele. Por que tirou sua vida de mim, Josh? Eu vi seu rosto, eu vi sua luz, você correu a corrida, você lutou a luta. Agora tudo está desabando. Tudo, Josh.
Tyler se sentia egoísta por não pensar na dor que ele estaria sentindo, mas Tyler estava ali por ele, e ele sabia. Ele não pensava em Tyler e o quanto o amava? Sabia que ele não sobreviveria direito se tirasse sua vida. Cada centímetro do seu quarto havia uma lembrança deles, cada minuto dos seus dias passados, não havia nada que não lembrasse Josh. Estava se tornando uma tortura cada vez maior e mais intensa. Ele tinha tanto o que o dizer agora. Dizer que o amava, olhar seu rosto sereno. Tyler não era nada sem ele, apenas um corpo que sobrevivia na esperança dele acordar e trazer sua alma junto.
Ele precisava abraça-lo.
Sim, ele precisava abraça-lo.
Tyler vestiu-se e, no meio da noite, correu para o hospital. Ele queria abraçar a pessoa que amava, queria se assegurar que ele soubesse o quanto sentia sua falta. Queria sentir seus braços ao seu redor, mesmo não sendo possível, mas precisava ligar seus corações. Queria sentir que seu coração ainda batia vívido apesar de sua alma estar tão longe. Após correr quase sete quilômetros, Tyler estava eufórico e ofegante e todos o viram entrar às pressas no hospital. Sua entrada já era livre após todos esses anos. Ele nem tirava sua pulseira de entrada do hospital mais.
Ele ficou de pé na frente do corpo estático e deitado que não havia se mexido. Olhou para seu rosto, e reparou o rastro que uma lágrima havia deixado na lateral do seu rosto. Josh chorava? Josh estava consciente e tentando voltar? As perguntas o sufocavam e Tyler desabou abraçando o amigo, sussurrando entre os soluços frases pausadamente ditas com muito pesar.
Eu preciso de você, Josh. Está tudo bem. Eu te esperei por seis anos e vou continuar. Eu te amo, eu preciso de você, eu estou te esperando.
Mesmo com as lágrimas, Tyler beijou seu rosto. Limpou o rasto daquela lágrima e deslizou a mão em seu rosto, tocando seus lábios com a ponta dos dedos. Descansou sua cabeça em seu peito sentindo seu coração palpitando.
i'll sing a song to you, my friend.