Capítulo 15

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NOTA: Se preparem pra descobrir algo triste...

Ruggero

Não sei quanto tempo estávamos ali, mas o sol já tinha sumido e a lua iluminava o lugar junto com as luzes dos postes. A maioria das pessoas já tinha ido embora, e nós continuávamos. Um vento gelado passou por nós e ela estremeceu, abraçando seus joelhos. Percebi seu ato e imediatamente tirei minha blusa xadrez, ficando somente de camisa, e a coloquei sob seus ombros. Ela sorriu em agradecimento e continuou o assunto.

—E como seus pais reagiram quando souberam do término? -perguntou curiosa enquanto tomava um gole de suco.

—Sinceramente? Bem. Eles nunca me disseram isso, acho que pra não ferir meus sentimentos, mas creio que não iam muito com a cara dela. Tratavam bem, mas por educação... -respondi sincero.

—Entendo... -ela disse pensativa

—Mas e a dança? Como começou essa paixão? -perguntei me lembrando que nunca falamos sobre isso e ela ficou em silêncio, com o olhar perdido em algum lugar —Karol...?

Ela voltou o olhar pra mim e percebi que estava a ponto de chorar.

—Ei, o que foi? Eu disse algo errado?-perguntei me aproximando dela, segurando sua mão.

—Nada, tá tudo bem. -ela disse limpando as lágrimas —Eu disse uma vez que um dia te contaria minha longa e não tão feliz história com a dança, lembra?

—Tudo bem se não quiser contar...

—Não, eu preciso conversar sobre isso com alguém...As vezes me sinto tão sufocada... -ela suspirou e eu assenti com a cabeça, indicando que ela desabafasse.

—Eu tinha uma irmã mais velha que se chamava Isabella. Ela era dois anos mais velha que eu. Eramos as melhores amigas, mesmo com dois anos de diferença, fazíamos tudo juntas e minha parte preferida do dia era quando ela me levava pro estúdio de dança e eu ficava lá, só olhando os movimentos no ritmo da música. Ela amava dançar com todas as forças e de alguma forma passou esse amor pra mim. Depois de algum tempo comecei a aprender e ela viu que eu realmente tinha talento. Fizemos planos de estudar juntas aqui, na Dance Academy, quando eu terminasse o colégio. Eu tinha 13 e ela 15... faltava pouco, somente dois anos pra eu finalizar os estudos. Até que um dia ela estava dançando no estúdio e simplesmente apagou, caiu desmaiada no chão e sangue escorria de seu nariz. Fiquei desesperada quando vi ela daquele jeito e corri pra chamar ajuda... -ela fechou os olhos e respirou fundo; apertei sua mão, que já estava entrelaçada a minha, dando forças pra que continuasse.

—Quando chegamos no hospital descobrimos o câncer... ela tinha leucemia e, por algum motivo, os sintomas não apareceram antes. Quando foi dado o diagnóstico, já era o estágio final da doença. Aconteceu tudo muito rápido. Tentamos fazer o tratamento, pra prolongar o tempo dela, mas parecia cada vez pior... Eu só não me acabava de chorar porque minha mãe se destabilizou por completo, não comia, não dormia, e meu pai tentava ampará-la, também tentando manter a empresa. Eu tinha que ser forte, por eles... por ela. Algumas horas antes de sua morte recebemos uma carta de aprovação; ela tinha conseguido a bolsa pra academia... Você tinha que ver a felicidade e o sorriso no rosto dela quando eu contei... -ela disse sorrindo sem conter as lágrimas, como se estivesse vivendo aquele momento ali, agora. —Logo depois, comigo ali do lado, segurando sua mão, ela faleceu. Foi quando eu desabei. Tiveram que me sedar pra que eu me acalmasse por fim...

—Depois daí minha vida foi só ladeira abaixo... Todas as forças que eu criei durante aquele período foram embora quando eu vi o caixão com seu corpo ser coberto por terra e por um pedaço de pedra. Não tinha vontade de comer, de falar, de sair de casa. Não sei quanto tempo eu fiquei trancada dentro do quarto, só chorando. Perdi completamente a vontade de viver e por fim entrei em depressão. Foi num dia que, remexendo em uma de minhas gavetas, acabei encontrando algo que me mudou. Ela tinha deixado um pendrive com um vídeo pra mim. No vídeo ela dizia que descobriu doença um ano antes, mas não quis fazer nenhum tratamento e não disse nada para não nos preocupar. Ela dizia no vídeo que a música podia me dar qualquer coisa. -me lembrei de repente do sonho, que ela dizia essas mesmas palavras "a música pode te dar o que você quiser." —...E que com ela e a dança eu poderia chegar a qualquer lugar. Daí eu comecei a dançar novamente, foquei todas as minhas forças e energias nisso. E a dança me fez voltar a vida, fez com que eu sentisse ela ali do meu lado a cada passo que eu dava. No final do vídeo ela disse que estava indo, mas que tudo nessa vida acontece por um propósito e que nada é por acaso. E ela tinha razão.. -ela disse me olhando nos olhos e sorrindo —Se não fosse por ela e por aquelas palavras, eu não estaria aqui hoje, agora, com você...

Sorri ante as suas palavras e meu coração batia acelerado. Reparei em seus olhos, que já não tinham mais lágrimas, mas sim um brilho especial, diferente. Me aproximei mais ainda e a abracei, demonstrando tudo que palavras não seriam suficientes pra dizer.

—Obrigada por ouvir... -ela sussurrou em meu ouvido

—Sempre que precisar, eu estarei aqui... Tenho mais uma coisa pra você -falei me afastando pra poder pegar a pequena caixinha na mochila. —Estava guardando para sua apresentação no mês que vem, mas acho que agora é um bom momento...

—Rugge, o que...?! -ela perguntou, mas ficou sem fala ao ver o lindo pingente em forma de bailarina que tinha na pequena caixa. Sua boca formou um "O" de exclamação.

—Era da minha avó... ela fez ballet quando mais nova e me deu isso antes de me mudar pra cá... disse pra eu entregar a uma pessoa especial pra mim.

—É linda, mas eu não posso aceitar, Ruggero... -falou empurrando a caixinha em minha direção

—Você é especial pra mim, Karol. -falei sem mais e ela pegou o pingente sorrindo.

Esperava um obrigada, mas ela me surpreendeu, se jogando em cima de mim para um abraço. Correspondi na hora, mas surpreso por sua ação, acabei perdendo o equilíbrio e caí de costas na grama, com ela em meus braços. Mesmo assim ela não me soltou e logo sussurrou em meu ouvido.

—Você também é especial pra mim, Rugge...

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ANW, MORES! Capítulo triste? Sim, mas no final foi fofíssimo, não?

Vamos lá: Karol não teve uma irmã na vida real e não sei se a avó do Ruggero dançava ballet quando era mais nova, ok? Isso é uma ficção e nem tudo é verdade, não se esqueçam disso.

Agora me contem, o que acharam?

Tô postando outro agora porque durante o dia não vou conseguir postar.

Até quarta-feira!

OBRIGADA PELOS 1K!! VOCÊS SÃO INCRÍVEIS, SÉRIO!!!!!!!!!!

Tô mega feliz!!!

AMO VOCÊS!

Um beijo e um queijo ♥

Ruggarol: Através da TelaOnde histórias criam vida. Descubra agora