Capítulo 18

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     A manhã de quarta feira amanheceu gelada, ao contrário da manhã do dia anterior que corri com Kush.
Este era um dia em que iria para a escola na tentativa quase vã de não repetir o ano. Me agasalhei bem e peguei minha moto, seguindo pela rua coberta de neblina.
Estaciono em uma vaga apertada e desço, seguindo para a entrada onde Brianna já me esperava.
     — Peguei a matéria de ontem pra você, vai ter que se preparar para uma prova daquelas! — Me avisou já me passando várias folhas e um livro para estudar.
     — Você é um anjo — A agradeci com um abraço apertado. Se não fosse por ela eu não sei o que seria desse meu último ano, com tanta coisa acontecendo a escola acabou ficando em segundo plano o que me deixava ainda mais preocupada.
     O dia se arrastou devagar como de costume, igual a todos os dias de inverno. Acabei ficando uma hora a mais na biblioteca repassando umas três redações para as aulas de amanhã e lendo alguns capítulos do livro que Brianna me deu.

     Apenas a minha moto e mais dois carros estavam no estacionamento quando saí.
Subo na moto e dou a partida, mas nada acontece. Tento mais duas ou três vezes e nada. Eu não entendo nada de motos, droga! Pego meu celular para ligar pra alguém e escuto chamarem meu nome na rua, era Patrícia em seu carro acenando para que eu fosse até ela, não a via já tinha algumas semanas. Ela foi demitida do Café mas eu ainda não soube o motivo.
     — Problemas aí? — Perguntou apontando para a moto.
     — Sim, — Suspirei chateada — ela não quer ligar e não faço a mínima ideia do que seja.
     — Entra aí, te dou uma carona — Ofereceu já abrindo a porta do passageiro. Decidi que deixaria a moto ali e iria com ela até uma mecânica próxima para depois voltar com o mecânico e dar um jeito na moto.
Conversamos por assuntos aleatórios pelo caminho, e quando perguntei o que tinha acontecido para ela sair do Café, acabou desviando de assunto.
     — Eu comprei um perfume maravilhoso, direto de Paris! — Disse tirando um pequeno frasco com um líquido amarelado de dentro do porta luvas, o abriu me entregando — Sente. — Cheirei profundamente o aroma e era bem forte, fez meus olhos arderem, a minha cabeça girou.
     — Tem certeza que é perfume? Isso me deixou um pouco ton... — Minha visão escureceu e já não ouvia mais nada.

                                  ※

     Acordei com a boca seca e um pouco tonta, tentei levar a mão no rosto mas não consegui. Quando acordei totalmente da tontura notei que estava em uma cadeira dura e minhas mãos estavam presas nas costas da cadeira, e meus tornozelos amarrados nas pernas dela. Patrícia estava a minha frente, me olhando com cuidado enquanto balançava aquele frasco pacientemente.
     — O que quer de mim? — Perguntei duramente.
     — Pether, aquele seu namoradinho. Onde ele está? — Perguntou com a voz mansa mas com fúria nos olhos.
     — Não sei. — Respondi da mesma maneira que ela.
     — ONDE ELE ESTÁ? — Gritou segurando meu cabelo — Me diga onde ele está ou eu juro por Deus que te mato! — Ameaçou puxando meus cabelos. Grunhi de raiva.
     — Já disse que não sei, me deixe em paz. — Retruquei com raiva. Ela solta meu cabelo e soca meu estômago fazendo uma lufada de ar sair as pressas pela minha boca. Ela se abaixa e pega uma faca escondida em seu sapato. Sorrindo, cortou minha testa e minha bochecha, riscando bem devagar até o queixo e deixando uma cortina de sangue escorrer ali. Uma dor aguda espalha pelo meu corpo deixando meus pelos eriçados.

Me limitei a não gritar, isso parecia atiçar ainda mais sua fúria. Ela estava à procura dos lobos e sabia que eu estava com Pether já a um bom tempo. Ela sabe que sei de muita coisa sobre eles.
     — Sabe Mandy, nós Nefilins nascemos mas Deus decidiu que não nos queria na terra. Felizmente alguns de nós sobreviveu ao dilúvio e deu continuidade a esta espécie maravilhosa. — Ela sorriu se glorificando — Então a alguns anos fomos encarregados a acabar com esta estúpida raça de lobos sarnentos. Para continuar com esta missão importantíssima só preciso saber onde seu.namorado.está. — Disse pausadamente e com uma estranha calma. Continuei em silêncio. Ela se sentou no meu colo e pegou de novo meu cabelo, puxando violentamente.
     — Ele não é uma aberração como você. — Gritei.
     — Uma aberração como nós, idiota. — Recebi outro soco, este acertou minha boca. Senti o gosto de sangue na língua e a dor no rosto só aumentava. Se levantou do meu colo e chutou meu nariz com força, me fazendo cair de costas. O peso do meu corpo esmagou minhas mãos amarradas contra o chão, gritei de dor sentindo meu dedo deslocar. As lágrimas inundaram meus olhos deixando minha visão embaçada. A gargalhada de Patrícia cortava o ar.
     — Você me paga sua vaca! — Sussurrei quando ela me levantou com facilidade deixando a cadeia em pé novamente.
     — Me parece que vai chover. — Disse olhando o céu com falsa preocupação. O dia estava se tornando noite por conta das grossas nuvens negras no céu. Um raio estalou próximo dali, como estávamos em um campo aberto a probabilidade de um raio cair em mim era grande. — Não quero continuar com isso, me diga onde ele está que vamos embora numa boa. — Propôs.
     — Nunca. — Respondi entre dentes.
     — Ok. Vou embora, não quero molhar meu cabelo. Aproveite o clima querida, fiquei sabendo que adora chuva. — Disse e saiu rebolando até seu carro.
     — Patrícia, não me deixe aqui! — Gritei com raiva.
     — Até amanhã meu bem. — Entrou em seu carro e acelerou pela estrada de terra, levantando poeira. O desespero tomou conta do meu corpo, ela me deixou sozinha no meio do nada e uma tempestade está se aproximando.

     Meus dentes começaram a bater por conta do vento gelado e cortante e as primeiras gotas de chuva começaram a cair. Poucos minutos depois eu já estava encharcada, minhas lágrimas se misturando com a chuva. Tentei de todos os jeitos libertar minhas mãos mas os nós estavam muito apertados, tanto que meus dedos já formigavam por falta da circulação do sangue. O dia havia se transformado em um cinza escuro e eu estava ficando cada vez mais imersa nas sombras.
Horas já haviam se passado e a chuva apenas piorou. Meus dentes já não batiam mais. O cansaço de ficar me debatendo para tentar aquecer me deu sono e acabei dormindo.

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                    NOTA DA AUTORA ^.^

     Aí a Patrícia aparece do nada e você fica ??¿¿¿¿???
Se não entendeu o reaparecimento dela é porque não está lendo o Entre Anjos e Lobos: Batalha Sobrenatural da @DMendes. E você me pergunta: "Como assim a história da Karina?" Ta perdido(a) hein?! Prazer meu nome é Karen e se está sem saber de nada é porque você pulou um livro inteiro, então vai lá ler o Toca do Lobo e o Entre Anjos e Lobos: Origens da Karina que você vai ficar sabendo de tudinho.

     Obrigada pelas leituras gente, e pelos votos e comentários, fico muito feliz quando vocês interagem. Peço imensas desculpas pela falta de postagem mas o bloqueio criativo passou por alguns dias e estou escrevendo tudo o que posso para ter bastante capítulo e não faltar nada para vocês.
Obrigada, obrigada e obrigada ♡

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Toca do Lobo - Batalha entre Dois MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora