Saindo do Red Dragon, Dick escuta alguém lhe chamando.
- Ei! Dick meu chapa!
Só uma pessoa o chamava assim. Era Ned, da Casa de Prazeres do Ned. Dick vendia algumas peças repositórias a ele quando alguma de suas maquinas de realidade virtual quebravam. Ned era um homem gordo, por volta de quarenta e cinco anos. Só usava invariavelmente camisas havaianas, calças brancas e sapatos italianos impecavelmente engraxados. Era um verdadeiro pilantra, mas uma boa pessoa.
- Olá Ned, precisa de mais peças? Já te disse que essas maquinas são vagabundas. Quando vai tomar vergonha na cara e arranjar umas novas?
- To sabendo... mas não vou me preocupar com isso agora. Afinal o que me da dinheiro mesmo é a minha segunda atividade.
Com segunda atividade Ned queria dizer venda de drogas. A realizava nos fundos da Casa de Prazeres. Depois que os frequentadores transavam com as garotas virtuais, terminavam a noite se afundando nelas. Quando algum cliente de Dick queria uma ele as comprava de Ned, como a cartela de dermas que ele vendeu para o viciado na noite passada.
- E sim, preciso que você me arranje uma peça, um chip de projeção de imagem. Vá na loja desses caras aqui, as deles são as melhores.
Ned entregou um papel com o endereço para Dick.
- Cassie & Case Mechanical and Hack Services? Nunca ouvi falar.
- Eles começaram agora no ramo, gente jovem sabe?
- Certo... essa noite lhe entrego.
- Okay!
- Vou indo, nos vemos mais tarde.
- Até mais Dick meu chapa!
Dick conferiu o nome escrito no papel e o comparou com o da loja a sua frente, havia chegado no lugar. Ficava em uma das construções muito antigas e deterioradas que ainda estavam de pé na área das docas. Na fachada havia um letreiro digital onde se passava: Cassie & Case Mechanical and Hack Services. Dick entrou e aparentemente não havia ninguém, apenas montanhas de sucata por todos os lados.
- Olá!? Alguém por aqui?
Então escutou o ruido de metal contra metal e alguém saiu de trás de uma das pilhas. Era uma garota, ruiva, usava um cinto para ferramentas e vinha acompanhada de um animal que Dick achava que era uma espécie de furão.
- Posso ajudar? Ela disse.
- Olá, meu nome é Dick. Vim comprar um chip de projeção de imagem para Ned, da Casa de Prazeres do Ned, acho que você já o conhece.
- Sim, conheço. Gordo, fanfarrão e não para de olhar pros meus peitos.
- É... Bom, por quanto vai sair...
De repente ela o interrompe.
- Ei cara! Isso é um olho biônico para feridos em guerra? Onde conseguiu essa velharia?
- Em uma clínica qualquer em um beco qualquer a muitos anos atrás.
- Com certeza você não era nem nascido quando estourou a guerra. Me diz ai, como perdeu seu olho direito?
- Isso não interessa. Quero saber quanto vai custar o chip.
- Ok, relaxa, não vou insistir se não gosta de tocar no assunto... Quanto ao chip, precisamos falar com meu sócio, me acompanhe.
Dick a seguiu até os fundos da loja, o animal lhe fazia companhia.
- Nunca viu um desses né? Esse pequeno aqui é o Spike, um Mustela putorius furo, um furão doméstico. Foi difícil mais consegui arranja-lo no mercado negro.
Os únicos animais que Dick já vira em Neo-Port eram cachorros e gatos de rua, alguns peixes que eram vendidos nas barracas do porto e pássaros marinhos como as gaivotas. Outros além desses já ouvira falar na infância mais nunca os viu pessoalmente. O mercado negro lucrava vendendo os mais raros para compradores ricos, eram verdadeiros artigos de luxo. Muitos desses animais eram os últimos indivíduos da espécie.
- Ei Billy, temos um cliente. Disse a garota.
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Ledman, um conto Cyberpunk
Science FictionA historia acompanha Dick, mais um contrabandista do mundo criminoso da cidade, e Ledman, o androide descartado que deseja mudar as regras do sistema em Neo-Port. Dois indivíduos marginalizados tentando sobreviver na cruel realidade de um futuro dis...