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Fui caminhando pelas ruas e pensando bastante em minha vida.
Estava na hora de partir para uma segunda opção, já que meu desejo por Leonardo era apenas platônico. Eu estava decidido a procurar um outro rapaz, nem que seja para algo sem compromisso.

Após alguns minutos andando, percebi um carro preto parar ao meu lado e encostar na guia. Ao abaixar o vidro, percebi que era o Ogro, rude, loiro e bonito que estava pilotando.

-Entre. Disse ele em tom seco.
-Não precisa. Já estou chegando.
-Eu sei que não está. Entre!
Obedeci sua ordem e entrei no veículo.

-Onde estou com a cabeça em mandar você ir embora andando após tudo o que aconteceu com você!? Aliás, onde está sua família?


No caminho para minha casa fui contando sobre minha família. Contei que estava morando sozinho por conta dos estudos e que trabalhava para conseguir me sustentar. E mesmo que pareça milagre, Leonardo ficou um pouco comovido com essa parte da minha vida.

-É nessa rua. Apontei.
-Eu sei.
-Como sabe?
-Simplesmente sei. Não questione.

Ficamos algum tempo trocando olhares. Ele parecia querer dizer algo, mas não falava.
-Lucas, eu tenho uma pergunta para te fazer.
Antes que eu pudesse responder, Leonardo continuou
-Com que dinheiro você consegue sair pra beber?
-Isso é sério? Perguntei incrédulo.
-Sim! Você acaba de me dizer de sua real situação, mas pelo seu estado ontem você deve ter gastado todo o dinheiro do mês! Você tem comido direito? Como pode me falar que vive apertado, mas sai para beber na noite, gastando horrores com caipirinhas e mais caipirinhas ou sei lá qual merda você bebeu.
-Eu não acredito nisso. Que humilhação.Eu realmente sou grato por toda ajuda que você me deu. Por ter me socorrido ontem, por todos os "mimos" e por essa carona, mas isso não te dá o direito de falar ou me julgar sobre o pouco que tenho.
-Você está entendendo errado! Eu não estou te....

Antes que ele terminasse, abri a porta do e saí o mais rápido possível daquele carro.
Não demorou muito para uma mão forte e grossa puxar meu braço e me pressionar contra o portão da minha simples casa.
-Mas que porra! Você está me machucando.
Na mesma hora, Leonardo me soltou e me olhou assustado.
-Perdão, não queria lhe machucar. Disse ele com os olhos arregalados e vermelhos. Ele parecia assustado.
-Deixe eu terminar, por favor.
-Então termina!
-Eu só questionei isso pois estou preocupado com você. Você vive sozinho, não tem ninguém, nem amigos, nem família.

Fiquei sem palavras, mas continuei olhando em seus olhos

Seu rosto estava próximo do meu. Seu olhar não estava mais tão furioso. Era um olhar de compaixão. Seus olhos estavam vermelhos. Ele parecia querer chorar.Sua respiração estava descontrolada.
-Quer entrar? É uma casa simples, mas se quiser...

Sem resposta, abri o portão e deixei que ele entrasse.
Fomos até minha sala e nos sentamos no sofá.
Não demorou muito para Leonardo liberar as lagrimas que estavam presas. 

-Por qual motivo você está chorando?
-Lucas...
-Leonardo?
-Olha, você nessa situação é exatamente como eu era em sua idade. Meus pais se divorciaram quando eu tinha 13 anos. Minha mãe, usuária de drogas e meu pai um alcoólico incurável. Com toda essa situação, fui obrigado a permanecer em um abrigo até meus 18 anos. Ninguém adotaria uma criança de 13 anos com uma base familiar péssima. Eu trabalhei para bancar meu curso de Odontologia durante um bom tempo. Você sabe, os materiais são caros...
Eu me esforcei desde tão novo, mas cresci sem amor, sem alguém para se preocupar comigo, sem ninguém que realmente se importe. Eu me vejo em você.Procurando na bebida o que não encontra no mundo. Talvez ficando bêbado para esquecer os pensamentos e os problemas. Por favor, não faça isso consigo mesmo. Disse ele com as mãos no rosto. Ele parecia envergonhado e confuso.

Fiquei em silêncio absoluto. Eu estava sem palavras.
Não tínhamos intimidade para ele me contar sua vida de forma tão aberta, nem nos conhecíamos direito. Eu estava ali, escutando. Ele não era aquele rapaz tão rude, ele tinha sentimentos. Ele sentia, mas não podia e não sabia demonstrar.

-A vida me fez ser rude. Aprendi a não chorar e a suportar as dores e problemas, e isso aqui que estou fazendo é realmente um milagre. Aliás, nem nos conhecemos, mas eu sinto que preciso te proteger. Talvez sua história não seja igual a minha. Talvez você tenha família,mas aqui... Aqui você está sozinho. Como você se mantém? Como se alimenta? Como consegue viver em um ambiente como esse? Sem ninguém?.   Sua mão ainda estava em seu rosto. Ele não queria que eu o visse chorar.  

-Leonardo...
-Lucas, por favor. Não fale nada. Eu estou envergonhado de chorar em sua frente, eu não deveria estar aqui e muito menos te contar essa parte da minha vida. Eu não te conheço. Eu não posso fazer isso. 

Sem ter muito o que fazer, tentei abraça-lo, mas foi uma tentativa falha, já que seus braços me pararam antes que eu pudesse fazer algo.
-Não... Sussurrou ele olhando para baixo e trêmulo.

Sem se despedir, ele se levantou e saiu às pressas.
Leonardo estava indo embora.

Escutei o barulho de seu carro acelerando.
Tentei respirar e organizar todas as informações que ele havia me contado.

Leonardo precisava de amor, precisava de alguém que mostrasse para ele que a vida não é só dor. Eu estava disposto a me arriscar e a mergulhar nessa história. Eu queria ajuda-lo.
-Mas como? Pensei    

Naquela noite eu não consegui dormir. Eu queria ir atrás de Léo, mas ele não iria me receber.
-Espero que ele esteja bem. Sussurrei para mim mesmo. 


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Continua

Acima De Tudo [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora