texto numero 7

1.1K 19 0
                                        

eu escreveria uma lista inteira com os seus defeitos, tipo “10 coisas que eu odeio em você”, sabe?

provavelmente começaria com “odeio que a quase sempre tá certa” ou “odeio que mesmo com tanta besteira que eu faço/fiz o olhar nunca mudou, mesmo no meio daquela briga master que eu nem lembro o motivo agora, ela nunca deixou de me olhar com amor”, mas não importa como começo essa lista, a coisa que eu mais odiava em você era essa tua mania de calar. caralho, no meio das brigas você calava. não, tu não me ouvia, só não falava nada. quando eu sabia (porque deixa eu te falar, eu sempre sabia) que você tava muito quebrada, que tua cabeça tava extremamente fudida, nessas horas você calava, e essa era a coisa que mais doía, esse silêncio gritava pra mim durante dias a fio que meu amor não era suficiente, que eu, por mais que tentasse nunca ia poder te ajudar… e como eu tentei, pra contrastar com o teu silêncio eu berrava, eu derramava em você minhas dores, meus medos, pra tu saber que eu tava aqui e queria ouvir também, mas eu só ouvia eco.

naquela noite, quando a gente riu do nossos amigos porque ela gemia muito alto, no fundo eu queria que fosse a gente porque sei lá, vai que assim você se sentiria realmente conectado a mim, vai que na minha boca você podia não só derramar, vai que cê jorrava também suas dores, seus medos. mas não, naquela noite você me deixou te foder calada, e a cada entocada minha eu implorava pela sua voz, mas você calou, e a cada gemido que eu dava, mais você parecia gostar e mesmo assim eu só recebia silêncio, porque quando eu fechava os olhos e clamava pra você por mais; eu não tava pedindo pra rebolar mais forte, eu tava te implorando por voz, e isso é irônico demais porque eu sempre adorei silêncio mas a tua voz eu queria, eu precisava ouvir.

quando a gente foi dormir pude jurar que você ia me falar algo, foi tipo quando minha amiga contou que tava grávida, esse era seu olhar, tu tava me pedindo ajuda, ia me pedir, mas mais uma vez você calou e ao invés de me pedir cê me deu, me deu amor na forma de “eu amo você” com o olho quase fechando e a respiração  ficando profunda, foi a primeira vez que eu não respondi, eu ia pagar teu silêncio com um mar de nada, e a partir dali também calei. éramos dois, se amando em silêncio, pode parecer bonito, quem via de fora provavelmente achava a coisa mais calma do mundo, mas eu nunca desejaria um amor mudo pra ninguém.

quando eu terminei daquele jeito meio do nada meio com pressa, você não falou nada, eu só aceitei e te desejei sorte, eu podia ter te avisado que aquele silêncio não me trouxe tranquilidade, e que mais ensurdecedor do que qualquer grito, podia me desculpar por não ter conseguido entender as entrelinhas de todas as vezes em que você não falou nada, podia ter te dito que apesar de não entender eu senti todas as milhares de palavras que se escondiam em cada “eu te amo” dito, mas eu não falei nada. naquele dia eu calei, e eu juro que foi o silêncio mais sincero que já te dei, foi a única vez que nosso calar foi paz.

pra nós dois.

Textos para elaOnde histórias criam vida. Descubra agora