texto numero 17

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O mais difícil de ser completamente encanado em você é que você nem precisa esquentar pra me fazer derreter. Você simplesmente me olha e sorri e me puxa e me olha de novo e de repente eu to caindo, mais uma vez sem amparo. É que o fundo desse teu olho me arranca de mim e leva pro mais fundo desejo, mas também pro mais puro do meu amor.
Sem entender, nossos corpos parecem polos opostos que anseiam por um campo magnético maior. Isso mesmo, maior. Como se nossa atração já não fosse suficiente, não é? Mas digo maior porque sei que ainda precisamos cobrir toda essa merda que foi colocada entre nós… Acontece que a gente se atritou tanto que pegamos fogo, explodimos. Você me destruiu, e diferente das vezes em que eu tinha sido destruído anteriormente, dessa vez eu não fui quebrado. Não, porque se fosse o caso, eu poderia pegar meus pedaços e uni-los. Agora, entretanto, eu fui queimado. As cinzas de mim não podem mais me voltar a quem sou. Ou era. Elas só existem, ali, indiferentes, mas voltam a pegar fogo a cada vez que você se aproxima.
Sou cinza que ainda pega fogo, sim, porque sei que quando eu não puder acender mais nada aqui dentro, vai ser tarde demais. Mas enquanto esse calor ainda vibra aqui, te digo de todo entendimento que essa falta de palavras que você me dá não é capaz de esconder sua respiração acelerada quando eu chego perto. E esse seu jeito de me olhar agindo como quem não quer nada jamais disfarçou o que tem bem no fundo: refugio. Eu sou o seu, você sabe. E é exatamente por isso que a cada vez que me encontra, você acelera e, ao mesmo tempo, age como se fosse calma, mas nós dois sabemos que essa sua calmaria é só uma forma superficial de esconder o quanto você ta pulsando por dentro. E eu, sempre que te olho, tenho a vista mais caótica e inquieta de todas. Porque te ver acalma e também desperta em mim os devaneios mais obscuros.
Nunca acreditei em uma vista que pudesse ser poética, mas percebi que a poesia nasce em mim no momento exato em que te olho, e realmente te vejo. Te enxergo.

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