O Bosquinho

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29 de julho de 2017

Ainda na sala, completamente entediada por já terminar as atividades, começo a observar as pessoas ao meu redor, e me impressiona o simples fato de pensar que elas têm uma vida.

Cada ser nessa sala tem uma vida completamente complexa, com tantos pequenos detalhes que nem são vistos.

Assim como eu, assim como as palavras que são escritas em você, diário, cada palavra carrega emoções, cada pessoa carrega um vida! Parece uma coisa tão simples e óbvia, mas é tão
fascinante se parar pra pensar.

Ao mesmo tempo que me fascino por cada um, tenho um sentimento de superioridade. Eu sei que isso é errado, diário, mas eu não consigo evitar, é como se eu soubesse coisas que mudariam a forma das pessoas verem o mundo, e me sinto o máximo por isso, mas na verdade eu nem tenho certeza das coisas que sei. Confuso, não?

Toca o sino anunciando que a aula acabou e meus pensamentos misturados se dispersam. Sigo o caminho até minha magrelinha, quando aparece alguém e bloqueia minha passagem, frustrada olho no rosto do maldito ser.

–Oi! Você esteve no bosque noite passada, não? – eu geralmente ia pro bosquinho a noite, tem uma coluna de grama, e é pouco afastado da cidade, não tendo tanta poluição luminosa, fazendo as estrelas aparecem de uma maneira inexplicável. Pensei que eu era a única a ir lá, fiquei um pouco receosa de falar com ele, mas fiz um esforço.

–Sim, eu geralmente passo um tempo lá! Você costuma aparecer? Nunca vi ninguém lá
–Ah, eu sou novo aqui, passei por lá e me interessei, aí te avistei mas achei melhor te deixar sozinha
–Sóó.. É meu lugar preferido.
–Imaginei, bom, qualquer dia a gente se encontra lá– ele finalizou com uma risadinha
–É.. talvez – disse concluindo meu caminho e chegando na minha querida bicicleta e ele grita:
– Não vai me dizer seu nome?
–Você não me perguntou – disse gritando de volta
–Era pra ser uma coisa meio óbvia de ser dita em uma conversa – ele diz dando um pequeno sorriso
–Me chamo Saura – digo alto o suficiente pra ele ouvir, enquanto subo na bicicleta e ele grita novamente
–Eu sou Aydan! – sorrio em resposta e sigo meu curso.

Pedalei com rapidez pra casa com medo de outro imprevisto, enquanto minha mente se perdia em pensamentos aleatórios.

Chegando em casa apoio a bike em uma parede qualquer já que ia voltar, e vou em direção ao banheiro fazer as devidas higienes.

Depois de me vestir vou até a minha linda e pedalo em direção ao bosquinho, levando uns lanches já que ia demorar um pouco pra anoitecer.

Chegando no meu lugar sagrado, forro um pano onde me deito sob o sol e me sinto aquecida, como se ele me abrasasse com seus gloriosos raios e me desse saudações.. E acabo caindo no sono.

Acordo com uma gota gelada em minha testa e percebo que está chovendo e completamente escuro, única luz é um velho poste perto da rua, céu completamente tomado por nuvens.

–Caralho não é possível, o céu tava limpinho! – digo para mim mesma enquanto recolho as coisas e rapidamente subo na bicicleta e percebo uma silhueta escura na frente do poste, e vem em minha direção.

Assustada pedalo depressa na direção oposta mas escuto um grito de uma voz familiar.

–Ei! Vai mesmo fugir de mim? – Olhei mais calmamente e era Aydan, suspirei meio aliviada e meio desconfiada.
–Ah, eu me assustei, pensei que era um bandido ou algo assim
–Orra, bandido eu não sou, a não ser que eu tenha roubado seu coração. – ele diz  e da uma risada enquanto eu vou em sua direção olhando com uma cara tipo ???
–Entra aí, coloca a bike no porta-malas, vamos acabar pegando um resfriado nessa chuva toda
–Nah.. Estou bem, relaxa – eu disse nenhum pouco disposta a entrar no carro com um cara que eu mal conhecia.

Mas ele insistiu muito, e eu tampouco estava disposta a pedalar nessa chuva, acabei cedendo.

Já na estrada vou dando as instruções de onde fica minha casa. Passado alguns minutos Aydan começa a aproximar a mão de minha coxa, eu logo imaginei que ele estava mirando pra mudar a marcha, mas ele começou a acariciar minha perna.

Eu me assustei e me afastei lentamente com o coração palpitando, tentei falar alguma coisa mas a voz não saia, me senti presa em meu próprio corpo.

Quando estamos perto de minha casa, apontei na direção da mesma. Ao notar as luzes apagadas, ele pergunta:
–Mora sozinha? Onde estão seus pais?
–S-sim, moro sozinha.. eu me.. emancipei..– digo com dificuldade em me concentrar, mas logo me arrependendo de ter dito.

Ele bruscamente para o carro e aproxima o rosto do meu tentando me beijar enquanto descia sua mão, eu mordi sua língua com muita força, por pouco não arranquei, enquanto ele lidava com o choque, soquei sua virilha e sai correndo do carro em direção ao porta-malas, na esperança de conseguir abrir, sem sucesso e completamente decepcionada por ficar sem minha preciosa, corri em direção à minha casa, entrei e me tranquei depressa.

Pela janela pude ver que ele não saiu do carro e deu meia-volta derrapando.

Corri pro meu quarto e pressionei meu cobertor contra meu corpo enquanto não me movia com os olhos arreganhados, completamente incrédula com o que acabara de acontecer.

Mas em algum momento da noite dormi.

E para minha completa má sorte o despertador toca anunciando às 6h. Me apressei a ir ao banheiro pois não gosto de me atrasar.

    XX: Foto do capitulo por autoria da escritora

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