A semana havia passado rápido, a favela estava tranquila. Os alertas estavam funcionando perfeitamente, mas a cena daquele pobre velhinho sendo baleado não saía da minha cabeça por algum motivo. Era sexta-feira e eu estava de saco cheio de olhar para todos aqueles papéis do meu pai, depois de ter lido todos eles. Recebo uma mensagem de Érick, ele estava sendo bem legal comigo, diferente de Pedro, que não perdia a oportunidade de me tratar mal e me dar um fora. Mas eu tinha que o aguentar, ele parecia um guarda-costas, sempre atrás de mim. Na mensagem, Érick estava me convidando para uma baile que tinha na parte mais alta da favela. Eu conhecia a festa, era muito animada, tinha muita música e as pessoas que a frequentavam lá, não eram más pessoas, então aceitei ir. Me arrumei e desci, Érick já estava a minha espera. Ele estava encostado na porta do carona e quando eu saí pelo portão, ele rapidamente abriu a porta, me esperou entrar, fechou e entrou também.- Que cavalheiro! - Disse soltando um sorriso de lado.
- Essa é uma das minhas qualidades. - Ele sorriu e ligou o carro.
Assim que chegamos Érick sacou duas pistolas do porta-luvas, me deu uma e colocou a outra por dentro de sua calça, e sua blusa por cima.
- Pra que isso?
- Você é a mais nova chefe da favela, todo cuidado é pouco, gatinha.
- Não. Eu quero saber o porquê você me deu uma arma, se eu já trouxe a minha? - Disse sacando minha pistola de dentro da minha bota, que mesmo sendo pequena, cabia a arma.
- Você é mesmo uma caixinha de surpresas, Marianna Cordeiro.
Nós rimos, ele guardou a arma e saímos do carro.
Eram 23:00 e o baile estava só começando, Érick foi buscar bebida para nós dois, e eu fiquei o esperando olhando ao redor, estava tudo maravilhoso, até que vejo Pedro. Ah, não! Já não basta ele estragar a minha semana inteira, tem que estragar minha sexta?! Fiquei parada no mesmo lugar para que ele não percebesse minha presença. Érick chegou com as bebidas, em alguns goles já havia bebido tudo, o puxei para a pista de dança e comecei a dançar. Eu precisava espairecer a mente. Parei um pouco de dançar e fui pegar mais um copo de vodka.
Peguei dois copos, misturei algumas coisas que estavam na mesa. Estava voltando para onde Érick estava, quando vi oito caras enormes entrando no baile, nunca tinha visto nenhum deles. Mas pela expressão no rosto de Érick, ele sabia bem quem eles eram.
- Quem são esses? - entreguei seu copo, que logo foi colocado em uma mesinha que estava ao nosso lado.
- Temos que ir.
Vi que ele e Pedro trocaram olhares e alguns sinais. Como se fosse para me tirar dali.
- Eu não vou a lugar nenhum enquanto não me disser o que está acontecendo.
- Esses caras são perigosos e não gostam de você no comando. Temos que ir.
Dois dos oito caras nos cercaram.
- Todos pra fora! - gritaram.
Me levaram para para o centro do local. Érick estava detido na porta por um dos homens, Pedro e outros 3 dos meus capangas que estavam no baile, também.
- Quantos homens comandados por uma menininha! - Um deles se aproximou de mim e levantou meu queixo.
- Uma menininha que não é tão fácil de se deter quanto vocês pensaram.
Dei um chute em sua barriga, em seguida dando uma cotovelada no que estava me segurando, saquei minha pistola e atirei nele. Logo em seguida, Pedro fez o mesmo. Os homens começaram a atirar, me escondi atrás de uma mesa que estava derrubada no chão. Atirei em mais um deles, que caiu no chão. Pedro se escondeu atrás da mesma mesa que eu e os outros se esconderam também, quando viram que os outros chamaram reforços.
- Fala sério! Eles são muitos.
- Nada que eu e os meninos não tenhamos visto e que você não irá superar. - Pedro disse saindo de trás da mesa e atirando em todos que estavam em seu caminho. Ele era muito bom de mira. Fiz o mesmo, só que pelo outro lado da mesa. Atirei de longe, acertei alguns. Mas eu não tinha olhos nas costas, um deles me deu um golpe que me fez cair e a arma escorregar.
- Não é tão valente sem uma arma, não é mesmo? - Ele disse me levantando pela gola do meu vestido.
- Será que não?! - Puxei um punhal que estava dentro da minha meia, enfiei em sua sua barriga. Em seguida o tirei e rasguei sua garganta, que jorrou sangue em meu rosto.
- Vamos embora. Agora! - Um dos poucos homens que sobraram gritou.
Érick havia sido atingido na perna, após todos terem sumido e só terem sobrado eu e meus capangas, chamei uma ambulância, tanto para Érick, quanto para os demais machucados. Sentei no meio fio para esperar. Assim que a ambulância chegou, eu me levantei para ir como companhia deles para o hospital.
- O que você tá fazendo? - Pedro me puxou pelo braço.
- Indo com eles ué.
- Você não pode ir, não depois do que aconteceu. Eu vou te levar pra casa.
- Você não manda em mim, então para de querer agir como se pudesse! - disse irritada
- Sinceramente, eu também odeio ficar atrás de você o tempo todo, mas foi o que eu prometi ao seu pai antes dele ser preso, que te protegeria. Então não dificulta, por favor. - Ele entrou no carro.
Eu não gostava nem um pouco dele. Mas eu amava meu pai, e só estava ali por ele, então entrei no carro com o insuportável. Logo estávamos longe do local do baile. Mas não era o caminho para a minha casa.
- Para onde estamos indo? Minha casa não é para cá, estamos indo em direção ao centro da cidade. - Resmunguei.
- Relaxa, eu também sei ser legal. Sei que precisa relaxar um pouco depois dessa confusão toda. Já estamos chegando, você vai gostar.
Eu não queria, mas estava curiosa para saber onde estávamos indo, então virei para a janela e fiquei olhando ao redor. Eu quase não ia ao centro da cidade, meu pai não gostava de me deixar andar sozinha, e eu não gostava de andar com sombras atrás de mim, então preferia ficar pela favela, onde podia andar livremente. Após algum tempo, o carro parou. Pedro colocou sua arma dentro do porta-luvas e pediu para que eu colocasse a minha também. Fiz o que ele pediu e descemos do carro. Estávamos na praia, há muito tempo não ia em uma, apesar de gostar muito. Mas de noite? Não estava entendendo absolutamente nada.
- Logo vai amanhecer, e acredite, aqui é onde se vê o melhor nascer do sol da cidade!
Ele sorriu e foi andando para areia descalço. Deixei meus sapatos no carro e fui atrás dele. Sentamos na areia e logo o sol nasceu.
- Você tinha razão, é lindo.
Sorri e ele sorriu de volta. Ele se levantou, tirou a camisa e estendeu a mão para que eu levantasse também.
- O que você tá fazendo? - Disse um pouco sem fôlego com a visão em minha frente. Pedro podia ser um pé no saco, mas era um tremendo gato.
- Nós vamos nadar, oras.
- Nadar?! Mas eu nem estou com roupa de banho!
- Então você tem duas opções, entrar com essa roupa ou com roupas de baixo. - Ele riu e correu para a água, mergulhando imediatamente.
Eu obviamente não iria ficar com roupas íntimas na frente dele, então fui com a roupa que eu estava mesmo. Corri até a água e mergulhei. Até aquele momento não acreditava naquela história de "água salgada cura tudo". Mas nossa, por um minuto, parecia que todos os meus problemas haviam desaparecido. Pedro me jogou água, e eu joguei de volta, ficamos fazendo "guerrinha de água", e foi um dos melhores momentos depois do meu pai ter sido preso.
Ficamos um tempo na água e voltamos para a areia. Pedro pegou sua blusa e fomos pro carro. Voltamos para a favela e ele me deixou em casa.
- Obrigada, de verdade. Eu precisava disso. - disse pelo lado de fora da janela.
- É para isso que eu estou aqui, madame! - rimos um pouco e ele foi embora.
Nunca pensei que passaria um tempo tão bom com o insuportável. Apesar de tudo, ele é incrível, talvez agora, depois de hoje, consigamos ser bons colegas de trabalho.
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A Líder
RomantizmMarianna Cordeiro não teve uma vida fácil, perdeu a mãe aos 3 anos, em uma troca de tiros, desde então foi criada pelo chefe da favela, seu pai. Aprendendo desde criança a utilizar armas e influenciada a ser violenta, como todos os que estavam a sua...