Capítulo 45/46/47/48

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Ele levantou do sofá com a bandoleira do fúzil no ombro e foi pra cozinha, enquanto batia radinho pro Pelé e pro Naldo. Ambos estavam dormindo, mas atenderam e disseram que tava limpeza, mas que três soldados nossos foram feridos de leve e um foi morto, mas o número de policial morto...!

– Roberta: Tu acha que ainda tem mais alguma coisa? – Disse indo pra cozinha
– Geré: Sei lá, véi. Eu num espero nada, mas geral tá ligado que se botar a cara, nóis faz voltar de ré ou manda logo pro inferno – Disse e deu uma colherada no danone
– Roberta: Você tem medo de morrer, Rogério? – Perguntei depois de uns segundos, na frente dele
– Geré: Não! Morreu, enterra. Por quê?
– Roberta: Nada – Disse dando de ombros
– Geré: E tu, tem?
– Roberta: Tenho, né? Eu antes quero viajar muuuito, ter filhos, fazer faculdade, essas coisas.
– Geré: Quer fazer faculdade de quê?
– Roberta: Arquitetura. Amo desde pivetinha! O meu quarto, lá no condomínio, fui eu quem planejou os móveis. Se tu quiser, um dia eu te mostro – Ele não respondeu – E tu, já pensou em fazer faculdade?
– Geré: Tá loca?!? – Disse rindo e eu o encarei e levantei uma sobrancelha – Já pensei em fazer administração, pra controlar aqui.
– Roberta: Por que não faz?
– Geré: Tenho preguiça de estudar. Num sei como eu terminei o colégio...! – Disse vasculhando a geladeira

Eu ri e fiquei sentada. Ele sentou do meu lado com uma travessa de pavê e eu o encarei, mas sabendo como ele é bem rapidinho pra comer, peguei uma colher, sentei do lado dele e comecei a comer também, e ele começou a comer mais rápido e a encher mais a colher, e eu, claro, fiz a mesma coisa! Em menos de 5min, a travessa, que tava na metade, ficou vazia. Ficamos no 3º andar, que é só a laje, olhando o Alemão.


– Roberta: Tu nasceu aqui? – Ele assentiu com a cabeça – Já pensou em sair daqui? – Ele negou com a cabeça – Se tu pudesse morar em outro canto, escolheria qual?
– Geré: Eu num queria morar em nenhum outro canto. Eu tenho tudo aqui, vou pra outro canto pra quê?

CAPÍTULO 46

– Roberta: Faz sentido – Disse rindo, depois de uns segundos – Eu queria morar na Holanda, Alemanha ou França.
– Geré: Se tu sumir, já sei onde vou te achar – Disse cínico
– Roberta: Agora vou ter que arrumar novas rotas! – Disse rindo
– Geré: Tu me ama, vai sair daqui por quê? – Perguntou ainda cínico, na minha frente, me colocando contra a grade da sacada
– Roberta: Vai que tu tem tuas crises e vem bater em mim...! Meu pai nunca bateu em mim, e olha que eu dava motivo quando era pequenininha! Nos primeiros meses que eu ficava na casa dele, depois que ele e minha mãe se separava, eu fazia greve de fome, eu não tomava banho, não falava nada, não saia do quarto. Meus filhos que não venham de chantagem pro meu lado.
– Geré: Nossos filhos vão ser um terror – Disse rindo
– Roberta: Vão mesmo, principalmente as meninas – Disse e ri

A gente ficou conversando. Era bem cedinho, então não tinha tanto movimento no morro ainda.

– Marjorie narrando –

Como sempre, acordei às 6h. Tomei banho, me troquei, comi alguma coisa e meu pai me deixou no colégio. Eram 6h50 e eu fui pra sala, porque estava com dor de cabeça. Já tinha chegado a Manu, meu bebêzinho, e eu fiquei abraçada nela. Quando ouvi a voz de sonsa da Thainá, eu levantei. A Robertinha não bateu na cara dela, mas eu vou bater!

– Marjorie: Chegou a cobra – Disse alto, pra ela ouvir mesmo
– Thainá: Ai, Marjorie, não enche, hoje eu tô sem paciência pra ouvir você de indiretazinha! – Disse sentando no lugar dela
– Marjorie: "Indiretazinha"? Eu joguei indireta aonde?, porque assim que você entrou na sala, eu falei, então ficou bem óbvio que foi pra você!
– Thainá: Tá, Marjorie, tá! Cala boca!
– Marjorie: Ah, eu calo sim!

* DO ASFALTO PRA VIDA *Onde histórias criam vida. Descubra agora