Eu tinha 3 meses de vida quando meus pais se divorciaram, evidentemente não me lembro deste episódio, mas, diz a minha mãe que ocorreu depois de eu ter ficado muito doente e meu pai ter gasto o dinheiro, que seria para os meus remédios, com bebida.
Ok, tudo bem, você deve estar agora, tipo assim: ta e o que tem de novidade nisso? O que mais tem por ai é gente com um pai alcoólatra. É, eu concordo com você, não tem nada de novidade nisso, porém, é um detalhe importante de se falar, pois tal fato gerou consequências inimagináveis.
Meu pai sempre foi muito agressivo (obs: esta é outra coisa da qual sempre me falaram, porém, nunca presenciei) ele e minha mãe foram casados por exatos 18 anos. Diz ela que as agressões físicas e verbais começaram após dois anos de casados, quando ela descobriu o vício que meu pai tinha em relação a bebidas e relacionamentos extraconjugais.
Minha mãe e meu pai tiveram 4 filhos. Eu, minha irmã mais velha chamada Carla, minha outra irmã chamada Hellen e meu irmão Pedro.
Eu e minhas irmã, somos bastante parecidas com os dois, seja nos traços de rostos ou no tom de pele. Meu irmão puxou mais pro lado de minha mãe ( eu acho) ele é moreno, alto e magrelo... Bem diferente de mim, de minhas irmãs e consequentemente, bem diferente de meu pai. Essa diferença acabou causando uma certa repulsa de meu pai em relação ao meu irmão, ele nunca o via como um filho legitimo e sempre acabava acusando minha mãe de infidelidade, e nas poucas vezes que parava em casa repreendia meu irmão, batia nele e ignorava sua existência uma porção de vezes. Mesmo assim, Pedro ainda o via como a figura masculina da casa a quem ele devia ter respeito e admiração. Nada do que meu pai fizesse contra ele era visto com maus olhos, pois o que mais importava para meu irmão era o simples fato de meu pai estar ali com ele. Tudo mudou quando houve o divórcio.
Pedro tinha 12 anos quando isto aconteceu, e com 14 anos, sem um pai para aconselhar ele ou para fazer seja la o que for, ele entrou para o mundo das drogas. Primeiro maconha, depois cocaína e o crack. Desta última droga, eu tenho uma terrível lembrança.
Quando eu era criança, não entendia nada do que via. Por diversas vezes presenciei minha mãe chorando e batendo na porta do quarto de Pedro pedindo pra que ele saísse e comece algo. Vi ela pedindo para eu não sair do quarto porque teríamos visitas que ela não gostaria que vesse, e mesmo assim eu espiava pelo buraco da fechadura e via que eram policiais levando o Pedro para fora de casa. Presenciava meu irmão gritando com minha mãe e minhas irmãs. Fazia favores para ele como pedir dinheiro para minha mãe falando que era para comprar doce sendo que na verdade era pra ele, que comprava algumas balas e pegava o resto do dinheiro pra si. Nada daquilo fazia muito sentido para mim apesar de me incomodar. Tudo mudou quando ele conheceu o crack, e eu conheci na pele, no corpo, e na alma, os efeitos dele sem precisar usá-lo.
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Vivendo no escuro
Short StoryO que é a escuridão afinal? Como é viver sem nenhuma perspectiva de vida? Até que ponto alguém deve chegar para achar na morte a solução para algo? De que vale uma vida de sofrimento e ilusão? O livro aqui feito, com cada resquício de dores que já f...