Cap 18 - A dor na Satisfação

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*AVISO DE GATILHO/SUICÍDIO E AUTOMUTILAÇÃO* (Sei que existe um para a história inteira, mas sempre bom reforçar)

Começou pequeno.

Algo tão simples como ficar debaixo da água da banheira por tempo demais apenas pensando, e se eu não levantar para respirar?

Veja, você não simplesmente acorda um dia e decide que quer se machucar. Você não decide repentinamente acabar a sua vida, isso rasteja em você lentamente, e simples.

Tão simples como não olhar para os dois lados antes de atravessar a rua.

Você se torna descuidado consigo mesmo, meio que começa com não ter medo da morte. Meio que algo que você não faria de propósito mas se acontecesse você não ligaria necessariamente.

Simples.

Tão simples como tirar a vista da estrada enquanto dirige.

Na época eu não fiz muito caso disso, não porque eu não sabia o que estava fazendo, mas porque eu não queria admitir.

Eu quero morrer, mas eu não consigo nem me matar direito.

Esses eram os meus pensamentos.

Era a verdade.

Crescendo, eu nunca fui a criança popular da escola. Eu era quieta e reservada exatamente como eu fui ensinada a ser na igreja.

Então, eu voltava para casa e via meu tio.

Todo dia.

Eu não me lembro o motivo dele estar morando conosco quando eu estava no ensino fundamental ou ensino médio. Havia sempre um diferente.

Mas eu me lembro daqueles dias e me pergunto como eu sobrevivi, ou quando eu sequer comecei a melhorar. Porém, eu me lembro da dor, do desconforto, e da exaustão claro como o dia.

Porque eu ia pra escola e sofria bullying por todos os tipos de motivos ou por nenhum motivo ao certo.

Hispânica demais para as crianças brancas, branca demais para as crianças hispânicas.

Má demais para as pessoas da igreja, boa demais para os não-religiosos.

Quieta demais para as crianças populares, opinativa demais para os introvertidos.

Eu era nada, pertencia a lugar nenhum.

A maioria da minha adolescência foi gasta acreditando que eu era um incômodo.

Olhando para trás, eu não tenho certeza se eu percebi o que estava acontecendo porque aquela era apenas a maneira que a vida era.

Você vai para a escola e recebe provocação ou é ignorado. (Eu preferia ser ignorada)

Então eu ia para casa, e ficava cara a cara com o meu abusador tendo que tratá-lo como se nada estivesse errado.

À noite eu trancava minha porta, sabendo perfeitamente bem que não funcionaria e tinha muito medo de adormecer.

Pensando bem, na época, eu não tinha ideia de que a vida não era para ser daquele jeito.

"Você não precisa estar lá," mamãe disse definitivamente.

"Claro que ela precisa," papai se intrometeu.

Minha família se perguntava porque eu passava horas no banheiro com minha música no mais alto volume. Só eu e minhas músicas de musicais.

"Michael," mamãe brigou, "Você não acha que é desnecessário?"

Verdadeiramente, era porque o banheiro era o único lugar onde eu estava segura. No banheiro, não havia crianças molestadoras me chamando de mexicana ilegal ou de vampira. Não havia nada sendo feito contra minha vontade, havia apenas eu, e vinte músicas que me contavam a história da vida de um outro alguém porque eu certamente não queria estar vivendo a minha própria. No banheiro, haviam lâminas, e isso era importante porque foi assim que eu aprendi a lidar.

The Perfect Sin (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora