Capítulo V

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  P.O.V. Miranda

  Os olhos de Andrea pareciam que saltariam de suas órbitas com tamanho espanto, mas não a culpo, se o cozinheiro tivesse chegado alguns segundos mais tarde, teria presenciado uma cena que nos renderia bastante estresse. E embora eu pensasse que teria sido bom ele saber toda a verdade, afinal de contas, as dúvidas de Andy eram todas embasadas em Nate, não achava que minha garota saberia lidar com toda a confusão formada. A tensão no cômodo já estava ficando desconfortável até mesmo para mim,por isso decidi que seria bom quebrar o silêncio antes que Andrea falasse alguma besteira.

  -Bom dia, cordial rapaz. Não que eu lhe deva alguma explicação, mas como sua noiva me parece um tanto quanto incapaz de organizar qualquer tipo de resposta lógica, eu mesma farei. A pedido das minhas filhas, vim convidar Andrea para um fim de semana em Hamptons. Eu achei a ideia um tanto absurda, porém, é uma forma de agradecer por ela ter cuidado das gêmeas. - Não, isso não estava nos meus planos, no entanto, eu tinha de reconhecer que a ideia era esplêndida.

  -Não, isso não vai acontecer. - O rapaz cruzou os braços e disse decidido, o que eu não entendi bem, ele tomava as decisões por Andrea? Era isso? Não me contive e dei um breve sorriso de sarcasmo.

  -Ah, que eu me recorde, o convite foi feito a Andrea e não a você. E o interessante... - Virei-me para ela que observava a situação atônita. - É que ela havia acabado de aceitar. - Sorri vitoriosa e a menina, se possível, arregalou ainda mais os olhos.

  -Isso é verdade, Andrea? - O cozinheiro encarava Andy com um olhar indecifrável, mas que eu não havia gostado nem um pouco.

  -Eu... Ah... Sim, é verdade. - Ela respondeu e eu não pude esconder a pitada de surpresa.

  -Bom, parece que está tudo resolvido. Andrea, as meninas mandarão uma mensagem com os detalhes da viagem em breve. - Coloquei os óculos e fui em direção à saída com um sorriso venenoso no rosto. A batalha, aparentemente, estava terminada.

  -Eu acho isso um grande absurdo! Mais uma decisão tomada sem antes falar comigo. - O cozinheiro murmurou com raiva.

  -Interessante a sua queixa. - Parei há alguns centímetros da porta, tirei meus óculos novamente e o encarei. - Você, com seu pouco desenvolvido cérebro do século XIX, acha que o fato de Andrea, como adulta e independente que é, ter decidido por ela própria é um grande absurdo? Já eu penso que o grande absurdo é, na verdade, o fato dela ainda pensar que o inconveniente adolescente mimado do noivo dela, é capaz de realmente acrescentar algo de útil em sua vida. Eu penso que o grande absurdo é o fato de um reles cozinheiro acomodado ser tão prepotente a ponto de fazer uma jovem com um futuro brilhante abrir mão desse tal futuro para viver o sonho dele em um dos lugares mais medíocres de Boston. Eu penso que o grande absurdo é esse mesmo reles cozinheiro achar que erguer o nariz sujo de molho pardo e proferir algumas palavras de teor machista pode fazer com que seu discurso tenha alguma validade nessa discussão. No entanto, mantive minhas opiniões para mim... Até agora. Acho que você poderia se esforçar em fazer o mesmo, porque na maioria das vezes, para não dizer todas, a sua não fundamentada e inconsequente opinião não vale absolutamente nada. - Recoloquei meus óculos e antes de sair acrescentei. - E a propósito, se você quer um exemplo de opinião que realmente tem algum valor, a lagosta estava intragável. Isso é tudo. - E assim, com um belo sorriso de tubarão, saí deixando aquele garoto em seu devido lugar e Andrea gostando ou não, nenhuma daquelas palavras seriam retiradas.

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  Após a partida de Miranda, Nate foi direto para o banheiro e Andy pode descontar seu nervosismo caindo no sofá e dando um longo suspiro. Por um lado, ela estava aliviada por Miranda não ter respeitado sua decisão não dizendo nada e ainda inventando uma excelente história, mas ela se perguntava o quanto daquela ideia era invenção. Por outro lado, Andy ficou pensando também nas coisas que Miranda disse à Nate, sobre ela ter praticamente desistido de seu futuro para viver o de seu noivo. Tudo bem que a forma com que a mulher mais velha jogou o assunto na roda não foi nada amigável, porém, ela tinha sua parcela de razão.Faziam três anos que Andy e Nate haviam se mudado para Boston e há exatos três anos que ela não escrevia absolutamente nada. Há três anos que ela vive totalmente dependente dos planos do seu quase marido. Sua mãe mesmo uma vez disse a ela que Nate era um rapaz muito legal, porém sua falta de ambição acabaria prejudicando o crescimento dela própria. Mais uma vez Andrea encontrava-se refletindo sobre suas escolhas, sobre sua vida e naquele momento, com tantas outras descobertas em jogo, ela tinha um leque de opções mais amplo e mais difícil também. Ela precisava pensar, precisava entender seus sentimentos, seus desejos, objetivos e planos. Ela não queria voltar a pensar como a Andy recém-saída da faculdade, no entanto, ela deveria voltar a olhar para o motivo pelo qual ela saiu de Ohio e foi para NY, por exemplo. Deveria levar em consideração o motivo pelo qual ela estudou e mereceu sua vaga em uma das melhores universidades do Estados Unidos. Deveria pensar no motivo pelo qual começou a namorar Nate e como seu coração passou a bater por outro nome. Ela deveria pensar, pensar muito. Com isso, levantou-se determinada e saiu em direção ao seu parque favorito e por mais que ele estivesse próximo do hotel onde Miranda e as gêmeas estavam hospedadas, isso não era um incômodo. Muito pelo contrário, Andy podia sentir novamente a sensação de segurança e equilíbrio assim como sentia quando começou a ter uma conexão maior com Miranda em Runway. Nesse período, Andrea conseguia organizar melhor seus pensamentos e estratégias, não sabia explicar exatamente como isso acontecia e o quanto a editora influenciava no processo, porém não negava o fenômeno, ao invés disso, sentia-se forte, ascendente e livre.

  Ao chegar no parque, sentou-se embaixo de uma árvore que lentamente perdia suas folhas alaranjadas. Ela encostou-se no tronco lenhoso, fechou os olhos e inspirou o aroma de outono e aos poucos foi acalmando seus nervos ainda agitados pela situação de momentos atrás. Ali permitiu-se divagar em seus pensamentos mais fantasiosos e absurdos e também sobre a confusão dos seus sentimentos. Sobre sua carreira, sobre seus pais, sobre Nate e Miranda, sobre as gêmeas, sobre sua vida e seu futuro. Nunca saberia dizer por quanto ficara imersa em suas mazelas e nunca poderia dizer também se teria sido suficiente para tomar uma decisão, mas ela havia feito. O barulho do trovão anunciando o temporal que se aproximava a despertou de seu transe, a fazendo levantar e voltar para casa. Quando abriu a porta, Nate estava sentado no sofá aparentemente esperando por ela.

  - Precisamos conversar. - Disseram juntos. Ele espantou-se e ela apenas fechou a porta e suspirou. 

  - Quer começar? - Ela disse após alguns segundos de silêncio.

  - Não, começa você. - Ele disse em derrota.

  -Certo... - Ela suspirou outra vez e acomodou-se na poltrona em frente à ele. 

  - Nate... Acho que precisamos de um tempo.

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