P.O.V. Andrea
Eram 3 da manhã quando as gêmeas finalmente dormiram, havia sido uma longa noite e estavam exaustas. Miranda tomava banho enquanto eu preparava um chá de camomila e repassava o episódio que apenas tivera fim quando as meninas cederam ao sono profundo. Eu mesma sentia-me atordoada com toda a situação e se não fosse pelo autocontrole assustador de Miranda, estaríamos presas em um limbo nervoso até o momento presente.
Assim que Miranda levantou-se abruptamente do sofá após encerrar a chamada, fui despertada por sua tensão. A encarei e questionei o que havia acontecido, mas ela estava completamente imersa em seu modo automático, então, para descobrir, eu deveria apenas seguir seus passos. Lembro-me perfeitamente dela pegando seu casaco e bolsa e indicando-me a fazer o mesmo, iríamos à algum lugar, provavelmente buscar as gêmeas. "Céus, as gêmeas", foi o que eu pensei deixando a chama de preocupação ainda maior. Algo sério tinha acontecido, pois Miranda estava incomunicável, focando toda a sua atenção na direção. Uma coisa que eu havia aprendido trabalhando para aquela mulher, foi que quando algo fora de seu controle acontecia com a revista ou suas filhas, ela tinha o silêncio como seu melhor amigo e depois procurava resolver o problema concentrando-se profundamente em alguma coisa, qualquer coisa. Era uma espécie de canalização do seu sentimento de perda de controle em algo que ela poderia efetivamente controlar, naquele caso, o volante de seu conversível. Eu poderia simplesmente perguntar o que estava acontecendo, mas Miranda Priestly era qualquer coisa menos simples. Eu tinha realmente começado a entender sua complexidade e mais, aprendi que para ter qualquer tipo de contato com esta mulher, eu precisaria respeitar seu tempo e suas atitudes. Não significava que eu acatava ou entendia o modo peculiar e agressivo com que ela se comportava, mas eu deveria esperar suas guardas estarem suficientemente baixas para colocar a pauta para jogo.
No entanto, naquela situação, havia um porém. Miranda Priestly tinha suas artimanhas para manter seu autocontrole inabalável, o que era infinitamente diferente para mim. As regras eram simples, eu só precisava manter a minha cabeça no lugar, mas pensar em fazer isso me deixava ainda mais ansiosa. Era óbvio que muitas coisas mudaram em três anos, claramente eu não era mais aquela jovem adulta recém formada, que tremia como um chihuahua só de pensar em passar por algum momento angustiante. Eu havia entendido que quando se é adulto, ainda que a situação apavore, o medo e a fuga não têm mais espaço, precisa-se encarar e pronto. Mas ainda que em teoria eu tivesse crescido, a verdade era que eu estava apavorada, temia pelas gêmeas, imaginava um milhão de barbaridades que poderiam ter acontecido e eu não podia externar nada, pois qualquer rachadura no foco de Miranda seria fatal, instabilidade não combinava com ela.
Eu respirava profundamente por todo o percurso, o que não passou despercebido por Miranda, e para minha surpresa, ela relaxou os ombros e soltou o ar que parecia estar prendendo desde o momento em que falava ao telefone.
- As gêmeas estão com problemas. Não, eu ainda não sei o que aconteceu, mas seja lá o que for, eu vou resolver... Nós vamos. – Ela disse sem emoção, me encarou de relance e eu apenas assenti. Não soube exprimir se aquilo era para me tranquilizar ou para me deixar ainda mais nervosa e preocupada. – Se alguém ousou tocar em um fio de cabelo de uma delas, se arrependerá de ter nascido com mãos, ou qualquer outro membro. – Ela quebrou o silêncio angustiante e seu tom era firme e baixo, mas ainda assim, eu podia sentir seu dilema interno. Eu estava errada, ela não queria calar-se, queria gritar, provavelmente esmurrar aquele volante como se fosse o causador do pior dos males e o silêncio não era seu melhor amigo, era seu algoz, que a forçava a conter-se, pois era o mais inteligente a se fazer. Aquilo me fez refletir por alguns instantes, era Miranda refém do seu próprio autocontrole? – Chegamos, vamos encontra-las. – Minha linha de raciocínio foi interrompida pela realidade que viera à tona.
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Guerra é Guerra
Fanfic"-Tenha uma coisa em mente: Miranda Priestly pode perder uma batalha, mas nunca a guerra." * Capa feita pela minha bff designer @novosoftware (user instagram) * Essa é uma obra ficcional não lucrativa baseada no filme The Devil Wears Prada. * As per...