Guerra é Guerra

Capítulo XV

  O sábado de outono amanheceu nublado e úmido após uma noite inteira de chuva, que passara despercebida pela família, que naquele instante, se reunia à mesa e tomava o café da manhã de forma descontraída, como se o fizessem todos os dias. Até mesmo Cassidy, após saber que provavelmente poderia ir à festa aquela noite, estava com um ótimo humor.

  Andrea e as gêmeas estavam em um bate papo animado sobre algo que Miranda não saberia especificar, pois estava ocupada demais observando a interação de suas três preciosidades. Jamais, em todos os seus 48 vividos anos, imaginou que teria a oportunidade de aproveitar um momento como aquele. Esse pensamento a fez sorrir abertamente enquanto apertava a xícara de café em seus lábios.

  - Não concorda, mãe? – Cassidy a tirou de seu devaneio.

  - Perdão, querida, com o que exatamente?

  - Eu estava dizendo que é muito mais importante ter aulas de educação financeira e economia básica do que sociologia ou filosofia, pois precisamos entender como o dinheiro funciona para que os bancos não nos passem a perna e também devemos saber como administrar esse dinheiro para não falirmos.

  - E eu estava dizendo que sociologia e filosofia são muito mais importantes, pois precisamos entender como a nossa sociedade é moldada, a partir de quais pensamentos, para então compreendermos por que somos o que somos, estamos onde estamos e fazemos o que fazemos. – Caroline retrucou.

  - E eu estava tentando explicar para essas cabecinhas questionadoras que todas essas disciplinas são importantes e necessárias, não só para nossa formação como indivíduo ou para a maior compreensão do meio em que vivemos, mas porque esses argumentos coexistem e muito bem entre si. – Andrea disse com calma.

  - É sim e eu concordo com Andrea, meninas. A sociologia e a filosofia moldaram toda a nossa estrutura política, econômica e educacional, nos deram a liberdade de poder ter acesso à disciplinas como educação financeira, por exemplo, pois hoje entende-se que é importante que as pessoas saibam administrar seus recursos para que tenham uma vida confortável, sem maiores infortúnios. – Miranda explicou.

  - Sem contar que a partir delas é que hoje podemos desfrutar desde a psicologia, de uma organização de Estado teoricamente democrática, até a importância de escovar os dentes, por exemplo. – Andrea continuou.

  - É claro que, falando de Estado, nem tudo é como deveria ser. Existem muitas contradições, erros que se cometem a partir da corrupção de teorias que deveriam ser simples e óbvias. Uma boa ilustração disso somos nós sentadas aqui neste momento, temos o privilégio de estarmos aqui, enquanto muitas outras pessoas não têm. – Miranda acrescentou e Andrea olhou chocada para ela. – O que foi, querida? Achou que eu não entendesse de desigualdade social? – A editora sorriu deixando Andy desacreditada.

  - Desculpe, mamãe, mas até eu fiquei chocada agora. Você trabalha em uma empresa que gasta milhões de dólares todo ano, enquanto tantas pessoas no nosso país não chegam nem perto de nem um terço disso em uma vida inteira. – Foi a vez de Carol questionar enquanto terminava sua panqueca.

  - É verdade, isso se chama capitalismo, querida. Infelizmente é assim que esse sistema funciona.

  - Nossa, agora eu tô me sentindo até mal... – Cass desabafou e afastou seu prato de si.

  - Bobbsey isso vai muito além de nós. O que devemos fazer é ter mais diálogos como esse e ter sempre consciência da realidade a nossa volta. Você se lembra de quando você tinha treze anos e me perguntou o motivo pelo qual não poderia ter dois computadores iguais, mas de cores diferentes, já que teríamos dinheiro para pagar? – Miranda questionou e Cass assentiu.