Sofia - Inadequada.

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Quando fechei a porta da frente pude ainda ouvir o som de sua moto sumindo ao longo da rua. Eu ainda não podia acreditar que ele realmente havia acompanhado meu carro até o portão da minha casa.

Eu sabia quem ele era, mesmo não sendo uma pessoa muito social na escola, e mesmo não tendo muitos amigos com quem dividir as fofocas, era impossível simplesmente não nota-lo. Théo era um garoto grande é muito forte, e mesmo que ele fosse uma ano mais velho que todos, ainda era algo impressionante para a sua idade. Junte a isso seu passado obscuro e sua o fato dele ser um lutador, e facilmente todos os caras queriam tê-lo como melhor amigo, enquanto as meninas se jogavam em sua frente tentando amarra-lo de alguma forma. Era verdade que ele parecia bastante indiferente a tudo isso, mas eu nunca ouvi nenhum boato em que ele afastava qualquer uma dessas pessoas. Ele não ia a muitas festas por conta de seus treinos, e também não parecia ser mulherengo, uma vez que não era visto saindo com muitas meninas, ainda assim algumas juravam que haviam conseguido sua atenção, mas sempre acabavam magoadas e tristonhas com sua falta de interesse.

Eu com certeza não era uma dessas meninas, mas também não podia dizer que não havia olhado algumas vezes para ele. Entretanto eu não era adepta de fantasias, então não passava de olhares sorrateiros que não eram encorajados. Eu sabia que ele nunca olharia pra mim de volta, ou pelo menos eu achava que sabia.

Eu ainda não podia crer que Théo, o lutador, estava interessado em mim, tanto que ficava até mesmo me vendo tocar. Nada disso parecia normal pra mim, e depois de muito tempo me atormentando com tudo que havia se passado entre nós, eu resolvi que não podia ser real. Provavelmente era alguma brincadeira de mal gosto com a pobre menina rica e tímida do colégio, ou então Théo estava sofrendo de algum tipo de insanidade temporária. O melhor a fazer a respeito dessa loucura toda, antes que eu pudesse ser magoada por qualquer estupidez causada pela sua beleza e carisma, era esquecer e amanhã ir para escola como se nada tivesse acontecido. Com certeza ele se esqueceria tanto quanto ela, e amanhã cada um estaria seguindo o seu próprio caminho para a escola.

A noite não foi assim tão fácil quanto eu havia planejado, e a verdade era que por mais que eu não quisesse admitir a espectativa para o dia seguinte acabou por consumir toda a minha noite.

Quando finalmente chegou a hora de ir para a escola, meu coração batia acelerado enquanto eu teimava em fingir que nada estava acontecendo. Eu já pegava a chave do meu carro, quando o interfone tocou e o segurança me informou que um amigo da escola me esperava no portão. Ele realmente veio me levar pra escola! Estava la, encostado em sua moto relaxado enquanto eu suava frio de nervoso, por ele estar ali.

- Você realmente veio! - eu soltei a primeira coisa que me veio na cabeça, o que me fez parecer ainda mais boba.

- Eu disse que vinha.- ele respondeu já se aproximando e me passando o capacete, que eu peguei como se fosse uma arma de fogo. - O que foi? - ele perguntou percebendo a minha insegurança.

- Eu nunca andei em uma moto...- eu admiti sem conseguir fugir.

- Então eu vou ser seu primeiro. - ele falou se aproximando do meu ouvido, só para me deixar ainda mais nervosa.- Não precisa ter medo, eu vou andar devagar, serei cuidadoso.

- Tudo bem. - foi tudo que eu consegui responder.

Théo pegou o capacete de minhas mãos mais uma vez, e me ajudou a coloca-lo. O trajeto até a escola foi realmente muito tranquilo, ele fez como prometeu e foi muito cuidadoso, sempre andando devagar. Estar abraçada a ele na moto foi algo estranho e maravilhoso ao mesmo tempo, a proximidade me deixava nervosa, entretanto ele tinha o fim de me fazer sentir segura, o que fez com que o meu medo de andar de moto sumisse, ou pelo menos ficasse momentaneamente esquecido.

A chegada ao colégio já foi algo completamente diferente. Assim que ele me ajudou a tirar o capacete me deparei com muitos olhares colados em nós. Théo segurou firmemente a minha mão, o que me impedia de fugir como eu gostaria, então fui praticamente obrigada a caminhar ao lado dele do estacionamento até a entrada da nossa sala de aula, e sinceramente, essa não foi uma experiência muito boa.

O fato dele estar acompanhando de segurar possessivamente a minha mão despertou não só curiosidade como também olhares repletos de inveja e desaprovação. Eu já disse que sou tímida? Extremamente tímida? Toda essa atenção fazia com que me sentisse doente. E a minha presença não impediu as perguntas inoportunas dos seus seguidores, assim como também não impediu as meninas mais atiradas de continuarem a se insinuar para ele, até às incentivou mais, na minha opinião. Ele respondeu apenas a alguns caras, e ignorou todo o restante, alguns meninos e todas as meninas, o que gerou novos pontos para ele, mas mesmo assim, a atenção excessiva ainda era algo impossível de lidar pra mim,

Então me vi respirando aliviada quando as aulas finalmente acabaram, e eu poderia tocar meu piano em paz. Nossas últimas aulas eram diferentes, então ele me disse em algum momento que estaria na porta da minha sala ao final da última aula, mas eu simplesmente não podia mais lidar com tudo isso. Fiz todos os trabalhos rapidamente, e pedi ao professor que me liberasse mais cedo para que pudesse ensaiar para uma suposta peça que faríamos na escola.

Corri até a sala de música e me joguei em uma partitura sem nem pensar duas vezes. Não sei quanto tempo depois, senti pela primeira vez que estava sendo observada, mas não olhei para trás, sem coragem de enfrenta-lo, e sabendo que ele não conseguiria entrar na sala uma vez que eu havia trancado a porta.

Voltei a tocar com vontade, mas minha concentração não estava muito boa hoje. Meus pensamentos teimavam em me fazer errar as notas, o que nunca tinha me acontecido antes.

Ao final do dia sai da sala ainda me sentindo mal com tudo aquilo, e esperando que o Théo tivesse percebido o quão inadequada eu era, e tivesse desistido dessa loucura toda. Mas eu não tive essa sorte, e ele me esperava encostado em sua moto como fez no dia anterior.

- Vim te levar pra casa... - ele falou se aproximando.

- Você não precisava se preocupar com isso, eu vou chamar um táxi. - eu digo fingindo procurar algo em minha bolsa apenas pra não ter que olhar em seus olhos.

- Nem pensar, não vou deixar você fugir de mim duas vezes seguidas. - ele diz acabando rapidamente com a distância entre nós.

- Eu não fugi... - eu minto - Só sai mais cedo e resolvi aproveitar o tempo livre para treinar um pouco mais.

- Eu sei que isso não é verdade. Mas tudo bem, eu acho que fui rápido demais e isso te assustou um pouco. - ele fala pegando minha mão e me obrigando a encara-lo.

- Eu não estou assustada! - menti de novo- Só não consigo entender o que você pode ter visto em mim?! Eu não sou como seus amigos. Com tantas garotas querendo estar com você, o que você poderia ter visto em mim que todas elas já não tenham?

Eu falava nervosamente, tentando expressar meus sentimentos sem muito sucesso, quando ele me interrompeu passando os braços por minha cintura e me puxando para o seu peito. Seus lábios colaram nos meus me pegando de surpresa, me fazendo ofegar, e dando espaço para que sua língua invadisse a minha boca.

Seu beijo me consumiu mais até do que a música fazia e me jogou em um tufão de sentimentos frenéticos e desconhecidos. Quando ele afastou seus lábios dos meus, tudo que eu sabia era que estava perdida. Algo fortemente perigoso havia despertado em mim, e eu não sabia como lidar com tudo isso, então apenas olhei em seus olhos ainda ofegante por conta da ligação que senti ao beija-lo.

- Eu vi tudo em você... - ele falou também ofegante e rouco. - Tudo que eu quero e preciso é você. E eu vou te provar isso.

Combattente #wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora