Sofia - Nocaute

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Os dias passavam como um borrão, principalmente porque minha mente se recusava a relaxar, minha principal válvula de escape, meu namorado gostoso e lutador, mal teve tempo de estar comigo, devido aos seus treinos intensos para sua luta de estreia no circuito profissional que aconteceria em menos de dois dias.  Mal havíamos nos visto durante a semana, ele ocupado com treinos e toda a sua preparação, eu ajudando a minha tia, que estava arrumando todas as suas coisas para levar pra Itália. Então quando ele me ligou pela manhã para avisar que seu pai e treinador estava indo para uma rápida viagem pré luta, e que poderíamos finalmente passar uma noite juntos depois de tanto tempo, eu fiquei simplesmente eufórica, definitivamente precisávamos muito de um tempinho só para nós dois.

Diante da minha espectativa e ansiedade, todo o dia passou lentamente, apesar de não ter parado nem um segundo com todas as coisas de titia para guardar e principalmente porque ao final da tarde ela começou a tossir furiosamente, e mesmo insistindo que não tinha nada, era visível que sua saúde ficará abalada com todo o estresse da mudança.

Quanto mais se aproximava a hora de ir me encontrar com Théo, mais ansiosa e preocupada com minha tia eu ficava . Quando finalmente consegui convencê-la a parar um pouco, pude medir sua pressão e constatei que ardia em febre. Na mesma hora fiz com que deitasse em seu quarto e descansasse, dei-lhe os remédios necessários e fui logo preparar uma canja reforçada, para ajudá-la a se recuperar, como minha mãe costumava fazer para mim quando era viva. Entretanto logo a ficha caiu, eu não poderia sair e deixá-la aqui sozinha nesse estado. Minha noite estava arruinada, e eu precisava contar isso para o Théo.

Como boa covarde que eu era, resolvi mandar uma mensagem ao invés de ligar.

Sofia: amor me perdoa? Não vou poder ir até a academia hj. Minha tia está ardendo em febre, não posso deixar ela sozinha.

Théo: Sério?! Eu estava ansioso pra te ver. Não dá pra vc vir aqui bem rapidinho?

Sofia: Juro que se eu pudesse iria, mas ela está com muita febre mesmo, não posso sair com ela assim. 😢

Théo: Tudo bem, eu entendo. Vou voltar a treinar.

Sofia: Prometo que te compenso depois. Te amo!

Mas depois da minha última mensagem ele simplesmente não voltou a me responder. Eu sabia que tinha ficado bravo comigo, mas não poderia deixar minha tia assim, pelo menos não no momento. Talvez mais tarde se a sua febre diminuir, eu possa deixá-la com alguma vizinha e ir até a academia mesmo que por pouco tempo, mas achei melhor não contar ao Théo, para não criar falsas esperanças no caso dela nos melhorar.

A noite passava lentamente, mas por fim, os remédios começaram a controlar a febre e minha tia finalmente dormia um sono tranquilo. Pensei em ir até a academia, mas como ele não havia me respondido mais, achei melhor desistir da ideia. Outro encontro as pressas não era algo que nos faria bem, apenas ficaríamos ainda mais frustados.

Fiquei na sala tentando estudar algumas partituras, mas sem muito sucesso. Minha mente ficava revirando todas as coisas que minha tia havia passado o dia todo falando, sobre não perder as oportunidades  e como o amor verdadeiro poderia resistir a distância. Eu queria aceitar a bolsa, queria mesmo, mas eu não podia simplesmente me mudar para outro continente e deixar o Théo aqui, não conseguiria viver longe dele por tanto tempo. Por mais que estudar em uma universidade renomada de música fosse um grande sonho, ele era a minha vida agora, deixá-lo era algo impossível para mim. Eu estava decida sobre isso, e já era hora de escrever para a universidade recusando a bolsa. Então antes que pudesse inventar mais uma desculpa para não fazê-lo, peguei meu laptop e abri meu e-mail, e nesse exato momento meu celular resolveu tocar.

Peguei ansiosa meu telefone e abri ansiosa a mensagem que Théo havia me mandado.

Théo - Preciso que você venha aqui agora. Por favor, preciso muito mesmo de você. Não pediria se não fosse urgente. Vou estar te esperando.

Já passava um pouco de 10 horas, mas tudo que eu queria agora era vê-lo. Me certifiquei que minha tia estava realmente melhor. Eu havia dado a ela o remédio para febre há uma hora mais ou menos, o que me dava umas quatro horas antes de precisar me preocupar, e a academia ficava próxima, deixei para ela um bilhete pedindo que me ligasse caso precisasse e fui para o meu carro. Na presa de estar com ele, nem digitei uma resposta para a sua mensagem, mas no fundo, não julguei necessário, ele sabia que se me chamasse urgentemente eu daria um jeito de ir.

Chegando na academia, sai apressadamente do carro, já que o estacionamento estava praticamente vazio, apenas a moto do Théo e mais um carro desconhecido. O carro me chamou atenção assim que passei por ele, afinal o Théo deveria estar sozinho, mas não perdi muito tempo me preocupando com isso. A porta da frente estava aberta, o que era normal já que ele me esperava, mas assim que passei por ela me senti apreensiva, tudo estava muito quieto, a maioria das luzes estava apagada, e isso somado ao carro estranho no estacionamento poderia indicar um problema sério.

Entrei tentando não fazer barulho, com medo do que encontraria à frente. Varias situações terríveis passavam pela minha cabeça, mas eu precisava ter certeza que o Théo estava bem, então continuei avançando. Entretanto, nada poderia me preparar para o que eu realmente encontraria ali.

Assim que cheguei a parte de treinos, percebi que umas das poucas luzes acessas vinha do escritório, a porta estava encostada, então parei um pouco para ouvir tentando encontrar algo diferente mas tudo parecia silencioso.

Empurrei a porta devagar e congelei com o que vi, nada havia me preparado para isso. O sofá cama estava aberto, e Théo, meu namorado, amor da minha vida, estava deitado de bruços com apenas um lençol cobrindo abaixo da sua cintura e uma parte de suas pernas, aparentemente nu e completamente adormecido, a ao seu lado estava ninguém menos que Julie. Ela estava nua também, e o lençol que os dois compartilhavam a cobria menos ainda, como se para demonstrar exatamente o que havia acontecido ali. O celular do Théo estava jogado no chão ao lado dele, mas eu tinha certeza que ele não havia me mandado a mensagem, ela tinha feito isso. E quase com certeza ela fingia que dormia. Ela apenas armou para que eu visse o que havia acontecido entre eles, ou que provavelmente já acontecia entre eles há algum tempo pelas minhas costas.

Sua intenção era que eu os pegasse, fizesse um escândalo talvez, gritasse, batesse neles ou qualquer outra coisa nesse sentido, mas eu não faria isso, eu não daria a eles o gosto de me fazer de idiota mais do que eles já haviam feito. Eu me sentia oca e fria por dentro, eu estava gritando e morrendo por dentro, mas eu não daria a eles o poder de ver a minha destruição, eu era mais forte do que isso, a partir daquele momento eu seria uma fortaleza.

Então me virei e caminhei para a porta de cabeça erguida, mesmo estando no piloto automático, eu não vacilei. Sai de lá entrei em meu carro e voltei ao apartamento da minha tia. Ao entrar no meu quarto quando tive certeza que estava longe deles, e quando percebi que meu coração não poderia mais suportar me permiti desabar. Chorei por horas e horas. O dia amanheceu e eu continuava chorando enrolada em posição fetal. Até que minha tia se levantou e me encontrou no quarto, ela ainda estava pálida e fraca, mas se sentou ao meu lado na cama e acariciou meus cabelos até que eu pudesse me controlar e contar a ela tudo que havia acontecido.

Depois de um tempo, consegui me levantar e ao olhar para o travesseiro atrás de mim, encharcado pelas minha lágrimas, decidi que jamais daria a alguém novamente tal poder para me destruir, principalmente ao Théo. Eu me reergui e apesar de toda dor esmagadora que sentia, uma estranha paz se apoderou de mim. Pela primeira vez em semanas eu sabia exatamente o que eu tinha que fazer.

Combattente #wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora