Théo - No limite.

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O tempo estava voando. Entre as horas de treino e as horas em que passava nos braços da Sofia simplesmente parei de me preocupar com o restante do mundo, quando finalmente me dei conta faltavam apenas dois dias para minha primeira luta no circuito.

Por mais que não quisesse admitir, eu estava nervoso. E agora que faltava tão pouco tempo, eu simplesmente não conseguia desligar minha mente e meu corpo do que estava por vir. Outra coisa que me incomodava muito era o fato de que não via Sofia a uma semana. Tínhamos nos formado há alguns dias, e meu pai queria que eu me dedicasse cem por cento a luta, sem distrações, e por distração ele queria dizer sem passar todas as noites fazendo amor com a minha namorada. Então tudo que nos restava eram alguns minutos ao telefone enquanto eu fazia algum intervalo, mas isso estava longe de ser o bastante, eu precisava dela mais do que tudo. Então marcamos de burlar as regras do meu pai.

Dois dias antes da luta, meu pai teria que fazer uma pequena viagem para acertar os últimos detalhes das nossas acomodações e também algumas outras questões burocráticas com imprensa e patrocinadores, então combinamos que Sofia iria passar na academia a noite para me encontrar, uma vez que eu passaria a noite lá para poder treinar bem cedo no dia seguinte.

Eu já treinava desde as primeiras horas da manhã, mas toda a adrenalina acumulada fazia com que não me sentisse nem um pouco cansado fisicamente, mas mentalmente eu me sentia cansado e ansioso e somente ela poderia me fazer relaxar nesse momento.

No fim da tarde Sofia me mandou uma mensagem que destruiu qualquer humor que consegui reunir em mim depois que ela disse que viria. Na mensagem ela explicava que não poderia passar na academia, sua tia estava doente, e ela não queria deixa-la sozinha em um momento como esse. Meu peito se comprimiu como um balão furado, eu realmente precisava muito dela pra me ajudar a relaxar e colocar um pouco a cabeça no lugar. Mas não havia nada que eu pudesse fazer a respeito, meu pai confiscou meu carro e minha moto para que eu não sofresse tentação de largar o treino pra passar a noite com ela, então eu estava preso e sozinho na academia. Na falta de coisa melhor, voltei a treinar intensamente.

Já passava das 10 da noite quando o clique da porta da frente fez meu coração bater mais forte, mas a minha esperança durou pouco, logo me dei conta que Sofia não tinha a chave daqui, não podia ser ela. Me afastei do saco que estava esmurrando para ver que era o meu visitante.

- Oi, vim ver como você estava. Seu pai me disse que ia treinar até bem tarde, então achei que você ia precisar de um pouco de companhia pra aliviar o estresse. - ela disse piscando logo em seguida, como se sugerisse algo.

- Como você conseguiu entrar aqui Júlia? - eu perguntei meio impaciente.

- Eu peguei a chave com meu pai quando ele chegou em casa hoje. Trouxe comida, que tal?? - ela falou dando de ombros.

- Eu acho melhor você ir embora Júlia, eu tenho namorada e não quero confusão. - eu digo já me virando outra vez para o saco, esperando que ela perceba a deixa para sair.

- Eu vim como amiga Théo, achei que você não ia querer ficar sozinho hoje, sei como você deve estar ansioso. - ela fala se aproximando mais de mim

- Mesmo assim eu não acho certo, a Sofia não iria gostar de te ver aqui...

- Bom, ela não está aqui agora, está? - ela falou irritada. - vamos fazer o seguinte, você só come a comida, enquanto isso nós conversamos um pouco, prometo que não vou tentar nada, e assim que acabar vou embora.

Sei que não devia aceitar, e sei também que quando contar a Sofia sobre isso, e eu vou contar, ela vai ficar chateada comigo. Mas não consigo ignorar a razão nas palavras de Julie, Sofia não está aqui, e por mais que meu subconsciente entenda que ela tem um bom motivo pra isso, o meu nível de estresse e ansiedade fazem com que eu me sinta no direito de estar chateado.

- Ok então. Eu como, e depois você vai. De qualquer forma, eu ainda vou treinar mais um pouco. - Digo dando de ombros.

Começamos a comer e beber, e tenho que admitir, além da comida estar ótima, a companhia e a conversa também vieram a calhar, eu estava realmente precisando me distrair um pouco, por mais que ainda sinta um gosto amargo, por essa não ser a distração que eu realmente queria.

- Então, como você está, além de cansado dos treinos? - Julie me pergunta, sentando- se ao meu lado no sofá da sala do meu pai, onde resolvemos comer.

- Na verdade eu não estou tão cansado fisicamente como deveria. Treinar acabou me ajudando a aliviar a tensão e esquecer. - Respondo.

- Mas você sente que está preparado pra luta? - ela fala me passando um copo grande de suco.

- Eu estou. Nunca estive mais preparado. Acho que o que me deixa mais nervoso não é a luta em si, mas sim o que vem depois da luta. A vida de lutador, as viagens, os torneios. Não sei se é isso que eu quero pra minha vida... - falo sinceramente.

- Ja eu, acho que você nasceu pra isso, que vai tirar de letra todo esse túmulo ao seu redor. - ela fala sorrindo pra mim.

- Espero que você tenha razão, mas só vamos saber se e quando acontece. - eu digo.- Você não vai comer nada? - eu questiono ao ver que ela não tocou em nada até agora.

- Na verdade não, eu comi mais cedo. Só trouxe pra você mesmo, pois sei que sem supervisão você iria ficar sem comer nada o dia todo.

Continuamos conversando e eventualmente a comida acaba, mas eu não a mando embora, falamos sobre as lutas e os rumos de nossas cadeiras, quando me surpreendo com o cansaço repentino que se abate sobre mim. Sinto meu corpo perder o equilíbrio momentâneamente.

- Você ta bem? - Ela pergunta, segurando em meu braço e me ajudando a ficar erguido.

- Não sei. - respondo e sinto minha lingua pesada, e minha voz diferente

- Acho que você precisa só descansar um pouco mais. - ela fala me empurrando de leve e me fazendo deitar no sofá.

- Você tem razão, eu só preciso me deitar um pouquinho.

Me deito no sofá, pensando em apenas fechar meus olhos por alguns minutos, mas assim que minha cabeça toca as almofadas meu corpo apaga completamente assim como a minha mente. Eu não penso mais , eu não sinto mais. Tudo que sei é que antes mesmo de entrar em uma luta, eu já fui nocauteado.

Combattente #wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora