Seria irônico ter de partir do debate sobre a existência de Deus para embarcar numa discussão sobre a existência do Diabo. Felizmente, esse não é o caso. Falaremos apenas sobre a origem cultural de crença. Será que o Satanás do qual os cristãos falam não passa de uma entidade imaginária fabricada na cabeça de pessoas da antiguidade que nem acreditavam no Deus Cristão?
Confesso que estava ansioso para responder a este comentário. Para começar pelo começo, Hachatam é a expressão transliterada do hebráico !j"ßF'h, que é Satanás. A raiz da palavra aponta o Diabo como "um acusador" ou "um adversário". Ele aparece lá em 1 Crónicas 21:1 incitando o rei Davi a contar o povo que Deus disse que jamais poderia ser contado (Gênesis 13:16).
A acusação de Lenon é que o Diabo foi uma idéia emprestada das culturas mitológicas politeístas. A idéia é dizer que o monoteísmo judaico-cristão não passa de uma alegoria, como os contos místicos de diversos outros povos do passado. Será que a idéia do adversário Deus não é uma crença original do cristianismo?
A declaração está um tanto bruta. Ao mencionar "textos religiosos" (não especificando a quais textos se refere) ele se contradiz ao afirmar que os politeístas, que também eram religiosos, já tinham a idéia do Diabo mesmo antes de este estar presente na religião.
A sentença também se demonstra extremamente pobre em evidências. Os judeus não criam no Diabo, eles toparam com uns caras no deserto que acreditavam em vários deuses e no Diabo e, simplesmente, começaram a acreditar no Diabo também. Essa é a evidência histórica?
O Diabo no politeísmo
Existiram culturas muito antigas que registraram seus mitos e alegorias antes mesmo dos hebreus. Moisés começou a escrever o pentateuco (cinco primeiros livros da Bíblia) por volta de quinze séculos antes de cristo. Naquela época já havia os mitos cosmogônicos dos egípcios e de diversos povos mesopotâmicos, mais tarde estaria desenvolvido por completo o panteão grego e inúmeras outras crenças. A pluralidade de deidades cridas pela humanidade realmente é impressionante. Todas essas culturas antigas buscavam representar o mal de alguma maneira personificada. É uma característica comum da religiosidade em geral.
O Diabo, da maneira como é crido pelos cristãos, não é encontrado em nenhuma outra cultura. Tudo o que temos são personagens similares como Sete para os egípcios e Arimã para os persas. Mas nada que seja equiparado à idéia de um querubim rebelde que traia a confiança de Deus causando um Grande Conflito entre o bem e o mal. A cultura mais próxima talvez seja a do zoroastrismo, dos persas, mas a terra de Midiã não estava sob a influência dessa cultura para que Moisés, o escritor dos primeiros escritos religiosos do judaísmo, fosse influenciado por ela. Logo, o Príncipe do Mal, inimigo de Cristo e de Deus, não é uma idéia emprestada dos politeístas, é uma crença original necessária no Cristianismo. Se ele não estivesse na cultura judaica desde o princípio, o próprio mal não poderia ser explicado.
O Diabo original
Os cristãos creem no conflito milenar entre Satanás e o descendente da mulher (Gênesis 3:15). A cultura adâmica preservou a idéia do Grande Conflito por muitas gerações até que este começou a ser interpretado de maneiras errôneas por outras culturas. Alega-se, geralmente, que o Gênesis é uma reinterpretação das cosmogonias dos povos pagãos vizinhos (e não apenas o Diabo) mas, a maior prova contra essa idéia, está num fato muito claro. Os mitos pagãos foram fabricados para a valorização dos homens e explicar de maneira nada empírica a origem de todas as coisas (como a cultura nórdica com o seu "no princípio havia uma vaca"), ao contrário disso, os registros de Moisés identificam o homem como o traidor, além disso, apresentam um arquiteto para o Universo. Alguém que faz o mundo de maneira guiada segundo Sua vontade.
Um dos objetivos de Moisés, inclusive, era esclarecer o povo hebreu quanto a verdadeira origem do mundo para livrá-Los das influências de outras culturas e transferí-los do henoteísmo para o monoteísmo.
Já no terceiro capítulo de Gênesis é apresentado o início do Grande Conflito quando Satanás usa uma serpente para enganar os primeiros humanos. Ninguém é obrigado a acreditar na história de Adão e Eva, por exemplo, mas não se pode negar que o Diabo já estava presente no primeiro texto religioso dos hebreus. Ele não é uma idéia emprestada de cultura nenhuma, e sim um integrante presente já no terceiro capítulo do primeiro livro religioso dos cristãos. Ele precisa estar aí pra explicar o Grande Conflito e a cultura hebráica não poderia existir sem ele.
Seria interessante saber quais as fontes usadas por Lenon para escrever o presente parágrafo colado acima. Não existe nenhuma prova para tal colocação e todas as interpretações semelhantes navegam por linhas de pensamento recheadas de suposição e teorias de conspiração. Todas as fontes sérias apontam o contrário.
É notável o fato de que existe muita resistência para se crer na veracidade histórica da Bíblia mesmo diante de tantas evidências arqueológicas, culturais e científicas. Afirmar que o Diabo, Cristo, ou os anjos não passam de plágios baseados em outras culturas não é uma idéia nova. Todas essas acusações se curvam diante do peso das evidências ao longo do tempo.
A vitória é de quem corre pros livros
Lenon também recomenda aos amigos ateus que eles investiguem as supostas incongruências presentes na fé cristã para que possam demolir a credibilidade de nossos argumentos.
Queridos irmãos na fé, informem-se para não serem levados por qualquer afirmação aparentemente histórica. Estudem, leiam, conheçam as bases de sua fé. Aprendam a criar raízes no fundamento que é Jesus Cristo. Nenhum raciocínio, por mais elevado que pareça, pode superar uma resposta diretamente produzida por uma mente estudiosa e inspirada pelo Espírito Santo.
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COMO DISCUTIR COM CRENTES IRRELIGIOSOS - Resposta a Como Discutir Com Religiosos
SpiritualUma contrafação ao livro "Como Discutir com Religiosos", de Lenon Cardoso. Lí a publicação dele e encontrei um bom tema para se debater. Infelizmente, a maioria dos cristãos que leram seu livro não consseguiram contradizê-lo sem ofendê-lo ou usar ar...