Capítulo 4- Memorial

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   Na manhã seguinte acordei com batidas leve na porta, logo escutei a voz suave da vovó me chamando e pedindo para que eu descesse rapidamente.
Ao descer avistei meus avós arrumados e prontos para sair, mamãe ao me ver desligou o telefone e caminhou até mim dizendo:

- Querida você precisa se arrumar, vamos derramar as cinzas de Seryna hoje. - Seus olhos encheram de lágrimas. Mas ela as segurou e se manteve forte.

- Tudo bem. Eu só preciso de um minuto - subi correndo apressadamente as escadas e entrei no quarto.
Não demorei muito no banho, fiz minha higiene pessoal e ao terminar, vesti uma calça jeans azul e uma camiseta branca, coloquei uma jaqueta preta, improvisei apenas uma trança lateral no cabelo, e calcei uma sapatilha. Ao descer todos já estão saindo, alguns amigos da mamãe vieram prestar suas condolências e minha tia Louise acompanhada de seu noivo Henrique também estavam presentes.
Seryna e eu quando criança conversavamos sobre muitas coisas e acabavamos planejando como seria nossos casamentos e até mesmo sobre o que deveria ser feito quando morressemos. Eu sabia que aquilo era as maiores bobagens que duas garotinhas pudesse conversar, mas agora que tudo isso havia acontecido, me fez acessar as lembranças do passado e lembrar que ela desejava ser cremada e que suas cinzas fossem jogadas no lago que visitavamos na infância.
Mamãe informou todos da vontade de Seryna, então nos dividimos em carros, alguns foram na mini van do vovô, outros juntos com a tia Louise. Eu e mamãe optamos por ir no carro dela.
A viagem para o sítio chamado de "Paraíso' no qual ficava o lago foi cansativa, pegamos alguns engarrafamentos comuns de Atlanta, fui o caminho inteiro encarando a janela e criando forças para fazer meu discurso fúnebre, pois falar de quem se ama nunca foi uma tarefa fácil e parecia redobrar a dificuldade quando ela não está mais presente.

•••

No local tinham erguido um memorial para Seryna, algumas pessoas deixaram objetos que traziam lembranças de momentos vividos com ela, fotos e cartazes foram colados por todas as partes.
Em todas as fotografias estava o sorriso que cativava todos ao seu redor e que era a marca da sua extrovertida personalidade. Muitos disseram coisas sobre minha irmã que nem eu mesmo sabia. Quando enfim chegou a minha vez, sentir um frio na barriga, todos os olhares se voltaram para mim, e isso só tornou o momento mais difícil já que tenho problema em falar em público. Mamãe pareceu perceber meu receio, se aproximou e segurou em minha mão afetuosamente.

- Bom... Eu já sabia que teriam muitas pessoas dispostas a se despedir da minha querida irmã, ela era uma das pessoas mais incríveis que eu conhecia. Estava sempre alegre e com seu sorriso conseguia transmitir sua alegria para os nossos corações. Dizem que quando você perde uma pessoa tão especial, junto com ela vai alguns porcentos de você, mas como Seryna era minha irmã gêmea ela levou consigo metade de mim. Ela era a âncora que eu precisava para me manter no porto da felicidade.- Consegui sentir as lagrimas se aproximando, havia segurado por muito tempo, e logo eu perderia o controle e me deixaria levar pelas lágrimas. - Com ela não dividi somente a placenta e os brinquedos da infância, mas também a atenção dos nossos pais, segredos e confissões na madrugada. Era aquela que cuidava de mim mesmo quando eu não merecia e que recebia meus cuidados mesmo quando não queria. Cada um aqui presente conhecia um pouco de Seryna, não que ela tenha sido uma pessoa misteriosa, mas sim por ela ter sido a criatura mais maravilhosa e de uma complexidade tremenda jamais vista. Eu e cada um de vocês tivemos a sorte de ter tido a luz de Seryna Asher em nossas pacatas vidas, e por isso seremos gratos para sempre por tudo que ela fez e representou aqui para cada um. Eu a amo e por isso sentirei para sempre saudades.- ao terminar ouço aplausos, mamãe me abraça forte e sei que como eu, ela sentirá para sempre a ausência da outra filha. A dor latente voltou, com ela toda a lágrima e soluço reprimido, ainda nos braços da minha mãe, deixei que tudo esvaisse, sabia que não era possível colocar toda a dor para fora, mas havia me permitido desabar e era isso que eu iria fazer, e não tinha lugar melhor do que dentro do abraço da outra pessoa que mais sofria com a perda naquele exato momento.

Anjo Da GuardaOnde histórias criam vida. Descubra agora