prólogo • complex

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Cooper

O papel dobrado dentro da bolsa de couro sintético de cor preta, que pendia pela lateral de meu corpo, parecia pesar uma tonelada. Mamãe tinha me entregado aquele pedacinho do inferno pouco antes de eu sair de casa, ela sabia que eu gostaria de saber o que estava ali dentro junto com meus amigos, então ela não abriu a boca desde que pegou o papel na escola no dia anterior.

Era uma surpresa e ela amava surpresas.

Eu estava tão nervosa que, talvez, o mundo inteiro estivesse em câmera lenta por minha culpa. Com os carros demorando um milênio para pararem de passar pelo cruzamento, o farol parecia preguiçoso em fechar. Eu só tinha que atravessar mais algumas ruas, mas minhas mãos transpiravam tanto, que atravessar a rua parecia ser o desafio mais complexo que eu já recebera em toda a minha vida.

Faltavam apenas três dias para o meu primeiro dia de aula no High School. Minha irmã, que é um ano e sete meses mais velha que eu, vivia me falando que o colegial não era tão assustador quanto pensávamos, mas ela sempre se esquecia de que eu era a irmã menos interessante e menos empolgada também.

Sabe como é, acho que toda família é assim: tem alguém que se destaca em tudo que faz e alguém para ser a sua sombra.

Madison estava entrando para a décima primeira grade e, sem me surpreender muito, já conhecia praticamente todo mundo da escola. Os garotos mais velhos tinham um interesse nada imprevisível por ela, o que eles não esperavam é que ela mantinha um relacionamento secreto com Jordan Payne, o irmão mais velho de uma das minhas melhores amigas. Eles estavam juntos desde o ano anterior e, apesar de manterem em segredo, eles se amavam muito e eu esperava poder ter um relacionamento como o deles quando fosse a minha vez.

E antes que você pense que esse lance de esconder o relacionamento fosse besteira, se acalme! Eles tinham um ótimo motivo para isso. Ótimo e irritante.

Parei em frente a porta de madeira escura de um Coffeehouse. Aquele era o nosso local favorito para reuniões extremamente necessárias — como tomar um milkshake de chocolate com marshmallows.

Na porta de madeira tinha uma daquelas janelas de vidro, com uma plaquinha dourada e marcada com letras garrafais a palavra "OPEN", pendurada na altura dos olhos da maioria da população, menos dos meus. A placa estava um pouco acima da minha cabeça. Eu não era das pessoas mais altas do mundo, na verdade, mas não era como se minha altura me incomodasse muito, a menos que alguém fizesse o favor de me lembrar que eu era algo muito próximo de uma "alpinista de calçada" ou "pedreira de lego".

Eu observava a movimentação do estabelecimento por aquela janela na porta, minhas mãos suavam frio porque eu achava que era a primeira dos meus amigos a chegar, eu odiava ser a primeira.

— Eu também quero entrar! — a voz de um homem alertou-me da demora.

Empurrei a porta e parei um pouco mais ao lado, deixando a passagem livre para qualquer pessoa que fosse entrar depois de mim. Encarei todas as mesas do estabelecimento a procura dos rostos que eu esperava encontrar por lá.

Felizmente, na mesa mais à direita, no fundo da lanchonete, atrás do maior vaso de plantas do estabelecimento, estavam os três rostos que eu mais senti falta durante o verão que marcou a nossa saída do Middle para o High School.

De costas para mim, estavam os longos cabelos loiros de Angeline Makarovina, a filha dos russos mais simpáticos daquela região, ela era minha melhor amiga desde que éramos muito pequenas, já que foi minha vizinha por muito tempo — isso até eu me mudar para uma casa maior quando Samuel cresceu o suficiente para usar o banheiro sozinho. Não morávamos muito longe, mas não era mais tão fácil escapar para a casa dela apenas pulando a janela do meu quarto.

Superficial |LIVRO 1| [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora