Cooper
Sam costumava dizer que eu me iludia muito rápido e, no fim das contas, talvez aquele pentelho estivesse certo. Por um momento, cheguei a pensar que Grothe deixaria todo o escarcéu que fizemos durante a aula de lado, porque éramos adolescentes irresponsáveis e é isso que adolescentes fazem: merda. Mas, ao final da aula, quando soltou as palavras "Cooper e Carter, permaneçam na sala", percebi que, na verdade, sua tortura estava apenas começando.
Carter e eu permanecemos sentados até que todos os alunos desaparecessem pela porta da sala. O olhar com que Grothe nos encarava era cruel, mas sentir o olhar de Carter em minhas costas era mil vezes pior. Era como levar uma facada a cada piscar de olhos. Sua presença era eletrizante e, na verdade, nunca tínhamos ficado juntos no mesmo lugar com tão pouca gente ao redor.
— Venham aqui — o professor disse, friamente.
Levantamos juntos, em sincronia, como se tivéssemos começado a contagem regressiva de nossas existências ao mesmo tempo e, completamente em silêncio — o que era estranho, já que Carter nunca perderia a oportunidade de falar algo desagradável —, caminhamos em direção à mesa do professor.
Carter mantinha as mãos nos bolsos do casaco do time. Seus olhos permaneciam baixos. Não era como se ele estivesse com medo ou forçasse uma cara de coitado para que o professor sentisse pena, ele só não dava a mínima para o que aconteceria a seguir. Em compensação, o tanto que ele esbanjava de desinteresse, eu esbanjava de desespero.
Meus olhos vagavam entre Carter e o professor, era uma súplica por piedade de ambas as partes, mas nenhum dos dois daria o braço a torcer. Carter nunca me deixaria em paz, e o professor certamente iria nos pisotear assim que abrisse a boca.
— Vocês serão uma dupla. — disse, sem mais nem menos, com um ar de quem estava planejando como soltar essa bomba durante a aula inteira.
A reação parecia ter sido retardada pelo baque. Ficamos tão estáticos encarando o professor, que o velho estava se segurando para não rir. O maldito só podia estar brincando. Não poderia ter outra explicação.
Eu fiquei boquiaberta e meus olhos se arregalaram, eu sentia todo meu corpo queimar por dentro. Eu não o ajudaria, de jeito nenhum, de forma alguma! Minha vida seria um inferno se eu tivesse que encarar o próprio Lúcifer todo dia depois da aula.
— Como é? — dissemos em uníssono, fazendo com que o professor soltasse um riso abafado.
— Esse é o castigo de vocês, se aguentarem sem matar um ao outro até a data da prova — deu de ombros, tossindo para disfarçar e dissipar a risada.
— Tá brincando com a gente, ou é impressão minha? — Carter apoiou as mãos sobre a mesa — Só pode ser brincadeira.
— Eu não vou fazer o trabalho com ele — protestei — Sem chances. Não tem como. Ele é muito burro, o cérebro dele deve ter se desfeito por inteiro jogando Futebol Americano, não restou nada — eu batia o pé rapidamente sobre o chão — Não dá nem pra usar como adubo!
— É! — Carter concordou, hesitando logo em seguida. Ele nunca prestava muita atenção no que falavam — Escuta aqui, sua retardada — virou-se para mim, irritado — Menos, bem menos!
— Viu? Já estão se dando bem! — cruzou os braços.
— Nem pensar — cruzei os braços também.
— Certo... — Respirou fundo — Se não fizerem o trabalho juntos, ambos ficam com F, mesmo se fizerem sozinhos.
— Isso não é justo! — protestei novamente.
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Superficial |LIVRO 1| [DEGUSTAÇÃO]
Roman pour AdolescentsAllison Cooper era menos. Sempre menos, e nada mais que isso. A Cooper menos brilhante. A Cooper menos talentosa. A Cooper menos bonita. E Daniel Carter fazia questão de frisar o quão menos Allison era em relação à sua irmã mais velha. Bad...