capítulo 8 • someone else

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Carter

Eu não aguentava mais aquele cara na minha orelha. Ele era, dentre todas as coisas mais irritantes do mundo, a coisa mais irritante delas.

Eu estava sem carro na segunda-feira, porque tinha esquecido que iríamos terminar a porcaria do trabalho e tinha planos de voltar correndo para casa, só para não perder o pique do treino, mas quando Allison correu em minha direção no intervalo falando que tínhamos que terminar o trabalho, porque a entrega era na quinta-feira, eu quase surtei. E como se não bastasse, o Tico aparentemente não pode ficar sem o Teco e, quando descobriu que eu iria para a casa da Allison naquele dia, fez questão de ir junto, porque disse que estava com medo de eu fazer alguma coisa com ela.

Ok, eu quem tinha dito "Se você tá tão desconfiado, cara, vem com a gente", mas não era pra ele ter levado tão a sério quanto ele levou.

Ele segurava a mão dela e, na verdade, esse não era exatamente o problema, se eu não levasse em consideração o fato dele agir como se ela fosse incapaz de andar com as próprias pernas. Encarar aquilo estando uns três passos mais para trás deles era como assistir àqueles filmes clichês adolescentes, em que as coisas só se resolvem para a menina quando aparece um cara na vida dela. Me dava ânsia de vômito imaginar que uma garota fosse dependente da minha existência.

Suspirei, tentando livrar ao menos meus pulmões daquela intoxicação de melodrama com uma tonelada de açúcar e melação, eu me sentia cada vez mais próximo de desenvolver diabetes os encarando ali. Eles eram grudentos demais, e eu nunca fui muito fã de gente grudenta, muito menos de assistir grude dos outros.

Tirei o celular do bolso, estávamos demorando mais que o normal para chegar na casa de Allison. Tudo porque ele agia como se realmente quisesse atrasar tudo para me ver desistir. Mas é claro que eu não o faria, eu não desistiria, nunca!

Miles fazia questão de parar o tempo inteiro quando achava necessário, suas desculpas iam desde o quanto algumas árvores eram bonitas até o quanto estava cansado, mas, cara, o moleque jogava Baseball e estava cansado em uma caminhada de 20 minutos!?

Quando enfim chegamos na frente da casa da garota, seu semblante mudou completamente. Ele não esboçava mais aquele sorriso gentil forçado. A menina soltou-se de sua mão e correu em direção à porta assim que percebeu que estávamos mais atrasados do que ela esperava.

— Vou só me trocar. Você sabe onde fica a cozinha, pode pegar o que quiser, desde que você não coloque fogo na casa, ok? — ela falou, virando-se para mim na metade da escada.

Confirmei com a cabeça, observando Miles caminhar atrás dela, afobado. Deixei a mochila sobre o sofá e virei-me na direção oposta ao encosto, observando pelo arco que separava a sala de jantar da cozinha que havia uma movimentação por ali. Caminhei lentamente em direção à cozinha, ouvindo passos para lá e para cá, alguém murmurava lá dentro ao falar no celular.

Esgueirei-me pela porta, observando o corpo de Madison vasculhar pelos armários algo para distrair as mãos enquanto ela conversava no telefone.

Porra, ela é muito gata. Eu devia me sentir um babaca pensando aquilo e a encarando sem que ela soubesse, mas era inevitável. Ela parecia frágil e indefesa, mas era uma das garotas mais fortes que eu já conhecera, em todos os aspectos. Ela tinha um sorriso lindo e lábios grossos bem avermelhados, que me faziam perder a cabeça.

— Não, amor, daqui a pouco a Alli chega com o Carter, eles vão terminar o trabalho hoje, pelo visto. — Disse com calma, retirando uma mecha de cabelo da frente de seu rosto e posicionando-a atrás da orelha — Tudo bem, sexta depois do primeiro jogo de Baseball? — franziu o cenho — Claro, eu não vou sair, Jordan. Vou estar livre, então a gente pode aproveitar bem!

Superficial |LIVRO 1| [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora