Não tenho medo de cair, meu medo é não ter ninguém pra me ajudar a levantar.
HELEN
Eu tinha visto a noticia no jornal, precisava ir ver Ana, seu estado emocional era extremamente instável, após a sua saída do hospital não havia conseguido fazer a terapia com ela nenhuma vez, eu precisava correr, peguei minha bolsa e chaves e me encaminhei para sair. Michael me viu correndo pelo corredor, na direção oposta a que ele ia, me parou e perguntou:
- Onde você vai nesse desespero, aconteceu algo com Ana?
- Willian Daves conseguiu liberdade condicional até o inicio do julgamento, eu não sei se Ana viu mas eu preciso verificar pessoalmente.
- Eu vou com você!
- Não, você não vai, não é uma boa ideia, eu sou a psicóloga e psiquiatra dela, não quero ser dura com você , mas não é da sua ajuda que ela precisa agora, eu preciso ter esse tempo sozinha com ela hoje para trata-la corretamente.
- Ok Helen, eu irei visita-la quando meu plantão acabar, por favor, me dê noticias.
-Tudo bem.
******* *********
Quando eu bati na porta da casa dela, uma garota ruiva com os olhos vermelhos e expressão de medo me atendeu.
- Quem é você?
- Sou a Psicóloga de Ana.
- Entre por favor, ela está sentada nessa posição a mais ou menos 40 minutos, chorando e repetindo, " ele vai me pegar, ele vai me pegar", e ela se cortou com o prato.
Ana estava sentada, com a cabeça entre os joelhos, balançando para frente e para trás, soluçando e falando entre soluços "ele vai me pegar". Várias manchas de sangue estavam espalhadas pelo seu braço e roupas E me sentei de frente para ela, tocando seu braço bom.
- Ana.... Ana!
Ela se encolheu ainda mais, e parou de falar, ela agora chorava baixinho e soluçava.
- Ana sou eu Helen, fale comigo querida!
Ela levantou os olhos para mim ,me observou por um tempo sem dizer nada, ela estava em estado de choque.
- Ana sou eu Helen, que tal se nós nos levantássemos do chão? Quero te levar para o seu quarto e te por na cama, você ficará mais confortável.
Ela continuou me olhando. Olhei para a garota ruiva, eu precisaria da ajuda dela para levar Ana a seu quarto.
- Qual é o seu nome?
-Charlotte.
- Charlotte , me ajude a carregar Ana para o quarto dela, por favor.
Carregamos Ana escada acima, Charlotte me indicou o quarto e nós a colocamos na cama, ela se sentou na mesma posição anterior, só que agora não estava mais chorando, ela estava tentando se proteger ao agir assim.
- Charlotte você já ligou para beth?
- Sim liguei, ela está vindo.
- O corte de Ana e superficial, apesar da quantidade de sangue, poderia olhar nos banheiros se encontra algum curativo?
- Claro, eu vou verificar.
Charlotte voltou com um kit de primeiros socorros, limpei a ferida, passei um cicatrizante e cobri.
Ela estava estática, praticamente catatônica, lhe dei um sedativo para que descansasse.
Os pais de Ana chegaram em 30 minutos e já estavam cientes de que Willian estava solto, e do ataque nervoso de Ana, nos reunimos, na cozinha, eu Elizabeth, Jorge e Charlotte.
- Eu queria falar um pouco sobre o meu diagnóstico feito da Ana e sobre as mudanças que ocorrem em vítimas de abuso sexual, dessa forma vocês vão entender as atitudes dela e saber o que fazer.
- Tudo bem, estamos ouvindo- Jorge Disse.
- Ana sofre do Transtorno do Stress pós-traumático, os sintomas são bem claros ela revive o trauma mesmo que não queira, isso ocorre por flashbacks e pesadelos, ela tem tonturas, problemas para dormir, irritabilidade, ela transita entre apatia e hipervigilancia. Ela também apresenta alguns sintomas de síndrome do pânico, até agora os mais visíveis são os tremores, os desmaios, o suor e calafrios anoite, as náuseas e a falta de ar. Eu vou trata-la com terapia por um tempo, mas se o quadro permanecer vou receitar algum antidepressivo leve para ela, não quero que ela fique dependente de remédios. Os efeitos do estupro vão além da depressão, eu preciso começar a estudar os efeitos subjetivos do que ocorreu, mas normalmente a vítima tem a autoestima, desejo por sexo e atração pelo sexo oposto afetados, algumas sentem que não tem mais valor e que não são mais bonitas e especiais. O agressor as faz sentir lixo , as faz sentir como um objeto e é assim que elas se sentem depois. Com o tempo vamos conseguir recuperar a paz e a autoestima dela mas ela precisa de muito apoio, de todos vocês.
Todos estavam com os olhos marejados, nenhuma família está preparada para isso, mas eles a amavam tanto que eu tinha certeza que iam conseguir.
-Charlotte você também é muito importante nesse processo, nós mulheres sempre nos abrimos mais com a melhor amiga, então sempre seja atenta a tudo que ela disser,Jorge e Elizabeth, não tenham medo, nós vamos conseguir, todos nós.
- Helen muito obrigada pelo seu apoio, eu não sei o que faríamos sem a sua ajuda, nós estamos dispostos a tudo pela nossa menina, temos que procurar um advogado e por esse demônio novamente na cadeia...
- Eu sugiro que vocês filtrem as noticias e contem a ela com cuidado, os jornalistas são sensacionalistas, eles querem transformar a vida dela num circo, tirem essa televisão da cozinha e bloqueiem os canais de noticias, tudo que ela precisa saber nós e a delegada contaremos a ela.
Nossa conversa foi interrompida por um grito, era Ana tendo pesadelos novamente.
ANA
- Fique caladinha senão eu te mato. - O hálito quente com cheiro de álcool inundou todos os meu sentidos, assisti minhas compras caírem no chão.
- Sua piranha, eu vou te ter de todas as formas , sua puta, eu vou te comer até ficar cansado.Vou acabar com você!
Nesse momento meu estômago embrulhou e eu reconheci a voz, era o filho do reitor que me assediava a 3 meses, e eu sempre diziam não.
- Você se acha muito especial, não e mesmo? Muito boa pra mim?Ele colocou uma das mãos debaixo do meu sutiã, apertando a ereção contra mim, enquanto me arrastava para o beco...
Foi nesse momento que eu acordei, com o coração palpitando, meu cabelo grudado pelo suor, não pude evitar o grito, minha família já sofria demais com tudo isso e eu só piorava tudo. Contive o grito e puxei o ar respirando fundo.
Meu pai entrou no quarto e me abraçou, eu me deixei ser acalmada por ele, fiquei mais tranquila.
- Filha eu sei que o que você está passando não é fácil, mas eu estou aqui, nunca mais vou deixar que nenhum mal te aconteça novamente, eu prometo.
- Eu sei pai com você estou segura, me perdoe por aterrorizar tanto vocês, eu quero deixar isso para trás mas eu não consigo.
- Não filha, você não tem que se desculpar por nada, nós amamos você.
- Eu também amo vocês.
- Agora vá tomar um banho, vou pedir sua mãe que faça um chá para você, eu te trouxe alguns livros , daquela autora que você sempre falava, a Kiera Cass, alguma coisa sobre um príncipe um bando de meninas solteiras desesperadas.
Sorri para meu pai, imaginado ele comprando livros de menina.
- Obrigada Pai.
Tomei um banho e coloquei o primeiro short e camiseta que vi e desci para a cozinha, Charlotte já havia ido embora, o prato quebrado não estava mais no chão, apenas meu pai e mãe estavam na cozinha.
Minha mãe colocou uma xicara de chá diante de mim, ela não sabia bem o que dizer para mim, mas eu sabia que ela queria ajudar. O meu pai foi o único namorado da minha mãe, eles se casaram em 2 anos de namoro, ela não estava pronta para lidar com o que tem acontecido comigo. Como explicar para uma garota que queria casar virgem que tudo vai ficar bem, depois de uma coisa tão invasiva quanto um estupro?
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Renascida para o amor...
RomanceSinopse Ana Raen é uma típica garota do interior, criada em uma família cristã, por pais amorosos porém rígidos. Agora vivendo sozinha em Hanover uma cidade localizada no estado americano de New Hampshire, no Condado de Grafton, para estudar Arquite...