Capítulo 10

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Não tenho medo de cair, meu medo é não ter ninguém pra me ajudar a levantar.

HELEN

Eu tinha visto a noticia no jornal, precisava ir ver Ana, seu estado emocional era extremamente instável, após a sua saída do hospital não havia conseguido fazer a terapia com ela nenhuma vez, eu precisava correr, peguei minha bolsa e chaves e me encaminhei para sair. Michael me viu correndo pelo corredor, na direção oposta a que ele ia, me parou e perguntou:

- Onde você vai nesse desespero, aconteceu algo com Ana?

- Willian Daves conseguiu liberdade condicional até o inicio do julgamento, eu não sei se Ana viu mas eu preciso verificar pessoalmente.

- Eu vou com você!

- Não, você não vai, não é uma boa ideia, eu sou a psicóloga e psiquiatra dela, não quero ser dura com você , mas não é da sua ajuda que ela precisa agora, eu preciso ter esse tempo sozinha com ela hoje para trata-la corretamente.

- Ok Helen, eu irei visita-la quando meu plantão acabar, por favor, me dê noticias.

-Tudo bem.

******* *********

Quando eu bati na porta da casa dela, uma garota ruiva com os olhos vermelhos e expressão de medo me atendeu.

- Quem é você?

- Sou a Psicóloga de Ana.

- Entre por favor, ela está sentada nessa posição a mais ou menos 40 minutos, chorando e repetindo, " ele vai me pegar, ele vai me pegar", e ela se cortou com o prato.

Ana estava sentada, com a cabeça entre os joelhos, balançando para frente e para trás, soluçando e falando entre soluços "ele vai me pegar". Várias manchas de sangue estavam espalhadas pelo seu braço e roupas E me sentei de frente para ela, tocando seu braço bom.

- Ana.... Ana!

Ela se encolheu ainda mais, e parou de falar, ela agora chorava baixinho e soluçava.

- Ana sou eu Helen, fale comigo querida!

Ela levantou os olhos para mim ,me observou por um tempo sem dizer nada, ela estava em estado de choque.

- Ana sou eu Helen, que tal se nós nos levantássemos do chão? Quero te levar para o seu quarto e te por na cama, você ficará mais confortável.

Ela continuou me olhando. Olhei para a garota ruiva, eu precisaria da ajuda dela para levar Ana a seu quarto.

- Qual é o seu nome?

-Charlotte.

- Charlotte , me ajude a carregar Ana para o quarto dela, por favor.

Carregamos Ana escada acima, Charlotte me indicou o quarto e nós a colocamos na cama, ela se sentou na mesma posição anterior, só que agora não estava mais chorando, ela estava tentando se proteger ao agir assim.

- Charlotte você já ligou para beth?

- Sim liguei, ela está vindo.

- O corte de Ana e superficial, apesar da quantidade de sangue, poderia olhar nos banheiros se encontra algum curativo?

- Claro, eu vou verificar.

Charlotte voltou com um kit de primeiros socorros, limpei a ferida, passei um cicatrizante e cobri.

Ela estava estática, praticamente catatônica, lhe dei um sedativo para que descansasse.

Os pais de Ana chegaram em 30 minutos e já estavam cientes de que Willian estava solto, e do ataque nervoso de Ana, nos reunimos, na cozinha, eu Elizabeth, Jorge e Charlotte.

- Eu queria falar um pouco sobre o meu diagnóstico feito da Ana e sobre as mudanças que ocorrem em vítimas de abuso sexual, dessa forma vocês vão entender as atitudes dela e saber o que fazer.

- Tudo bem, estamos ouvindo- Jorge Disse.

- Ana sofre do Transtorno do Stress pós-traumático, os sintomas são bem claros ela revive o trauma mesmo que não queira, isso ocorre por flashbacks e pesadelos, ela tem tonturas, problemas para dormir, irritabilidade, ela transita entre apatia e hipervigilancia. Ela também apresenta alguns sintomas de síndrome do pânico, até agora os mais visíveis são os tremores, os desmaios, o suor e calafrios anoite, as náuseas e a falta de ar. Eu vou trata-la com terapia por um tempo, mas se o quadro permanecer vou receitar algum antidepressivo leve para ela, não quero que ela fique dependente de remédios. Os efeitos do estupro vão além da depressão, eu preciso começar a estudar os efeitos subjetivos do que ocorreu, mas normalmente a vítima tem a autoestima, desejo por sexo e atração pelo sexo oposto afetados, algumas sentem que não tem mais valor e que não são mais bonitas e especiais. O agressor as faz sentir lixo , as faz sentir como um objeto e é assim que elas se sentem depois. Com o tempo vamos conseguir recuperar a paz e a autoestima dela mas ela precisa de muito apoio, de todos vocês.

Todos estavam com os olhos marejados, nenhuma família está preparada para isso, mas eles a amavam tanto que eu tinha certeza que iam conseguir.

-Charlotte você também é muito importante nesse processo, nós mulheres sempre nos abrimos mais com a melhor amiga, então sempre seja atenta a tudo que ela disser,Jorge e Elizabeth, não tenham medo, nós vamos conseguir, todos nós.

- Helen muito obrigada pelo seu apoio, eu não sei o que faríamos sem a sua ajuda, nós estamos dispostos a tudo pela nossa menina, temos que procurar um advogado e por esse demônio novamente na cadeia...

- Eu sugiro que vocês filtrem as noticias e contem a ela com cuidado, os jornalistas são sensacionalistas, eles querem transformar a vida dela num circo, tirem essa televisão da cozinha e bloqueiem os canais de noticias, tudo que ela precisa saber nós e a delegada contaremos a ela.

Nossa conversa foi interrompida por um grito, era Ana tendo pesadelos novamente.

ANA

- Fique caladinha senão eu te mato. - O hálito quente com cheiro de álcool inundou todos os meu sentidos, assisti minhas compras caírem no chão.

- Sua piranha, eu vou te ter de todas as formas , sua puta, eu vou te comer até ficar cansado.Vou acabar com você!

Nesse momento meu estômago embrulhou e eu reconheci a voz, era o filho do reitor que me assediava a 3 meses, e eu sempre diziam não.
- Você  se acha muito especial, não e mesmo? Muito boa pra mim?

Ele colocou uma das mãos debaixo do meu sutiã, apertando a ereção contra mim, enquanto me arrastava para o beco...

Foi nesse momento que eu acordei, com o coração palpitando, meu cabelo grudado pelo suor, não pude evitar o grito, minha família já sofria demais com tudo isso e eu só piorava tudo. Contive o grito e puxei o ar respirando fundo.

Meu pai entrou no quarto e me abraçou, eu me deixei ser acalmada por ele, fiquei mais tranquila.

- Filha eu sei que o que você está passando não é fácil, mas eu estou aqui, nunca mais vou deixar que nenhum mal te aconteça novamente, eu prometo.

- Eu sei pai com você estou segura, me perdoe por aterrorizar tanto vocês, eu quero deixar isso para trás mas eu não consigo.

- Não filha, você não tem que se desculpar por nada, nós amamos você.

- Eu também amo vocês.

- Agora vá tomar um banho, vou pedir sua mãe que faça um chá para você, eu te trouxe alguns livros , daquela autora que você sempre falava, a Kiera Cass, alguma coisa sobre um príncipe um bando de meninas solteiras desesperadas.

Sorri para meu pai, imaginado ele comprando livros de menina.

- Obrigada Pai.

Tomei um banho e coloquei o primeiro short e camiseta que vi e desci para a cozinha, Charlotte já havia ido embora, o prato quebrado não estava mais no chão, apenas meu pai e mãe estavam na cozinha.

Minha mãe colocou uma xicara de chá diante de mim, ela não sabia bem o que dizer para mim, mas eu sabia que ela queria ajudar. O meu pai foi o único namorado da minha mãe, eles se casaram em 2 anos de namoro, ela não estava pronta para lidar com o que tem acontecido comigo. Como explicar para uma garota que queria casar virgem que tudo vai ficar bem, depois de uma coisa tão invasiva quanto um estupro?

Renascida para o amor...Onde histórias criam vida. Descubra agora