3.

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O jogo terminara 1-0.

Na segunda parte não houvera golos, por parte de nenhuma equipa, e apesar de o tal nrº9 só ter entrado na segunda parte e não ter marcado nenhum golo, parece que fez um belo desempenho, pois ouvi o nome dele ser comentado, por vários adeptos do estádio, inclusive o Matteo que não se calou o caminho todo.

Matteo: Entramos em grande. Este vai ser o ano... este vai ser o ano do Milan, não achas Eva?

Eva: Pelo que vi hoje, acho que temos equipa par isso. Não concordas Bia?
Estava distraída com a olhar pela janela, pelo que só despertei com a Eva a chamar o meu nome.

Eu: Desculpa Eva, não ouvi o que disseste. -continuei a olhar pela a janela.
Eva: Perguntei-te se não achavas que o Milan tinha equipa para ganhar esta época.

Eu: Hm não sei. Eu não percebo muito de futebol.-falei fraca, provavelmente devido ao cansaço. Ás vezes não sei como ainda me meto nestas coisas, o meu trabalho já é um correria, sempre de um lado para outro, andar dentro de uma ambulância a 150km por hora, e depois em vez de aproveitar as minhas folgas para descansar, alinho nos planos dos meus amigos, que só me deixam ainda mais cansada.

Matteo: Bia estás bem?-perguntou-me

Eu: Sim, só estou cansada. Se não se importarem deixavam-me já em casa. Quero descansar.

Eva: Mas amanhã só entras ao serviço ás 14h.

Eu: Sim eu sei, mas independentemente das horas a que entro ao serviço, levanto-me sempre ás 07h, para ir treinar.
Eu adorava treinar. Por vezes ia correr, caminhar, ou então ia até ao ginásio perto da minha casa. Fazia-o não só por uma questão de saúde, mas também porque enquanto o fazia, não pensava em mais nada. E quando digo em mais nada, refiro-me ao meu trabalho. Ser técnica de emergência, não é todo um trabalho fácil. Trabalho diariamente, com pessoas que estão entre a vida e a morte, e nem sempre as conseguimos salvar. Também somos ser humanos, e há situações que nos tocam e nos marcam, então treinar sempre foi o meu "escape".

Cheguei a casa e só tive tempo de ir a casa de banho, vestir e o pijama e.. adormeci logo.

Dia seguinte- 07h: fui até ao ginásio, fazer o meu treino de costume, que para me iria não só abrir o apetite, para cozinhar algo delicioso para o almoço, como me daria energia extra para logo ir trabalhar.

13:50h- já estava pronta para entrar ao serviço, encontrava-me já dentro de uma ambulância, a ver se esta estava operacional (quando digo operacional, consiste em antes de cada saída confirmar se a ambulância tem tudo o precisamos. Por exemplo ás vezes é preciso repor o stock de pensos ou algum tipo de medicação.)
Matteo seria o meu condutor de serviço, como o costume.

14:02h- cai um telefonema na central de comunicações e ocorrências de emergência, por sinal atendida por Eva e desviada para mim.
No tele-comunicador:

Eva: Bia, recebemos uma ocorrência de uma emergência perto da «Via Marghera». Era um rapaz ao telefone, que disse que seguia com o irmão no carro e que tiveram um acidente. Pelos vistos , apenas o irmão se lesionou, tendo embatido com a cabeça no vidro, pelo que se encontra inconsciente.

Eu: Certo, vamos agora mesmo para lá. - desliguei a comunicação com a central e juntamente com Matteo encaminhamos-nos para uma das mais movimentadas ruas de Milão.

No local- Via Marghera:

Quando cheguei ao local, apercebi-me que se tratava de uma colisão entre dois carros, mas que num dos carros só seguia uma pessoa, e essa estava ilesa. O outro carro, presumi ser o carro da pessoa que participou a ocorrência, pois este assim que avistou a equipa de emergência rapidamente se apressou a chegar a minha beira, falava atrapalhado, e só pedia que salvasse o seu irmão, falava um inglês um pouco fraco, talvez devido à situação, mas também me pareceu que não era de cá.

Assentia com a cabeça afirmativamente, enquanto me deslocava em direcção ao carro, onde estava seu irmão.

Abri a porta, o que não foi difícil, pois o carro estava completamente destruído, pelo menos toda a parte frontal do carro. Inspeccionei o rapaz, consegui vir que tinha bastantes cortes na cara e nos braços, e que de facto estava inconsciente, muito provavelmente devido ao choque.

Eu: Vamos levá-lo para o hospital. Vai necessitar de alguns exames, nomeadamente Raios-X para ver se não se lesionou. -disse ao rapaz, irmão da vítima.
Rapaz: Mas ele está inconsciente. Não vão fazer nada aqui?- perguntou incrédulo.
Eu sorri pois normalmente, as pessoas acham que a equipa médica de emergência pode fazer tudo, no momento e no local. Ganhei coragem e respondi, novamente me inglês:
Eu: Quanto à situação de inconsciência do seu irmão, vamos tratar disso, mas terá de ser dentro da ambulância, não aqui dentro do carro e nesta situação.

Já dentro da ambulância:

Liguei ao rapaz a maquinas, para ver os seus sinais vitais, pus-lhe uma máscara de oxigénio e pus ainda a correr nas suas veias, algum soro.
Entretanto teria de fazer já um relatório sobre a vitima, por isso tive de perguntar ao rapaz como se chamava o irmão.
Eu: Desculpe, preciso do nome do seu irmão, e dos dados dele, para introduzir aqui no computador, para quando chegar ao hospital ser mais fácil para os médicos.

O rapaz proferiu o nome. E não era um nome qualquer. Era um nome português.
Ela estava a soletrar: A-F-O-N-S-O M...
Interrompi-o. E desta vez falei em português, pois se o nome era português, talvez fossem de nacionalidade portuguesa.
Eu: Não precisa de soletrar. Basta-me dizer o nome. Eu também sou Portuguesa.

O rapaz olhou para mim meio estupefacto...

Lost in your light || André SilvaWhere stories live. Discover now