Dois

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As menores coisas podem mudar sua vida – Um homem de sorte.

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O frio da pequenina cidade Ames (estado Iowa), era absurdo. Um daqueles frios que você só quer ficar deitada em sua cama, enrolada nas suas cobertas mais grossas, com suas meias mais quentes. Dormindo, ou simplesmente assistindo aquele seu seriado favorito. Só isso.

Pois, eu tenho certeza absoluta que a última coisa que você iria querer, é levantar bem cedo para ir à escola.

Era justamente o que Suzana estava fazendo. Ouviu seu despertador tocar ás 5:30 da manhã, acordou assustada, com os olhos arregalados e sentiu o frio a invadindo. Depois de alguns segundos se lembrou que tinha que ir à escola, e a preguiça e o descontentamento a invadiu.

Puxou suas cobertas para o lado, e se arrependeu na hora. Sentiu o frio e o vento gelado em sua pele, apesar de as janelas de seu quarto estarem fechadas e ela estar bem agasalhada.

Resolveu se levantar logo e começar a se aprontar, para ver se conseguia se esquentar.

Aquele período do ano, era o mais frio. Logo começaria a nevar e ela estaria ferrada.

Samuel estava dormindo e seu pai provavelmente já estaria acordado. Ele sempre acordava cedo no período em que Suzana estudava, para garantir que a menina não iria desligar o despertador e voltaria a dormir.

Ele sempre era muito preocupado em relação aos estudos da filha, acreditava que sem estudos a pessoa não era nada e estava sempre tentando fazer com que a filha tirasse notas boas e se dedicasse totalmente aos estudos.

Suzana já tinha a ideia totalmente contraria, acreditava que nem tudo se resumia a notas em seu boletim. Ela também não pretendia fazer faculdade, só viver a vida do jeito que ela bem entendesse, curtir o mundo do seu modo. Ela não pretendia acabar o ensino médio e já começar a estudar outra vez, ficar cinco anos em uma faculdade, sem saber ao certo se ela tomou a escolha certa, depois dedicar sua vida a um certo trabalho, casar, ter filhos e morrer.

Ela queria mais que aquilo.

Queria poder viajar, conhecer novas culturas, novas religiões, amizades. Queria ser feliz.

Mas por hoje, ela só iria para escola mesmo.

Com cautela, para não acordar Samuel – porque a última coisa que ela iria querer era que seu irmão começasse a chorar/berrar e seu pai ficasse estressado – Suzanna escovou os dentes, e colocou um moletom quentinho e seus tênis. Rapidamente passou um pouco de creme em seus cabelos cacheados e resolveu deixar ele soltos mesmos.

Depois de separar seu material com as aulas que teriam hoje, Suzana foi tomar um copo quente de café para ver se conseguia se esquentar pelo menos um pouco. Enquanto ia em direção a cozinha, viu seu pai sentado imóvel no sofá, encarando a porta e segurando o travesseiro que normalmente ficava no canto do sofá. Ela ficou encarando seu pai uns segundos, imaginando o que estaria passando na cabeça de seu velho.

Por fim, decidiu dar – lhe um beijo na testa, um gesto de carinho. E antes de ir à cozinha para tomar o seu café quentinho, viu uma sombra de um sorriso no rosto do pai.

**

Suzana ainda estava tentando se acostumar com a escola nova, mas a adaptação estava sendo um pouco mais difícil do que ela esperava. Ainda não havia se enturmado com ninguém, ela sentia que todos estavam a olhando e cochichando sobre si, mas tentava colocar em sua cabeça que era só a sua imaginação.

Suzana estava frequentando aquela escola havia uma semana, e estava tentando se adaptar com os novos horários, professores. Por incrível que pareça, Suzana estava fazendo as lições, não por que ela gostava, mas sim por que não havia mais nada para  fazer.

Enigmas Melancólicos [Pausado]Onde histórias criam vida. Descubra agora