Oito

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Todo dia é exatamente igual. – Tudo e todas as coisas.

***

Enquanto Suzana pegava o ônibus com Júlio de volta para casa, não conseguiu manter a calma, se realmente conhecia seu pai, ele deveria estar desesperado. Com o coração na mão, isso se ele não tivesse ligado para policia, o que ela estava torcendo para que isso não tenha acontecido.

Sabia que deveria ter ligado para seu pai, mas em sua defesa, seu celular havia descarregado.

Certo, sabia que deveria ter ligado pelo celular de Júlio, mas não queria de jeito nenhum adiantar a bronca que iria levar. Já havia aprontado umas poucas e boas, e todas seu pai havia descoberto. Parecia que ele tinha algum tipo de bola cristal, que conseguia descobrir tudo que ela fazia.

Nunca conseguira esconder nada de seu pai. E isso era um saco.

Janelas de ônibus é ótimo para colocar a gente pra pensar.

Você encosta a cabeça nela, e quando vê está pensando em mil coisas enquanto a paisagem passa.

Desceu do ponto de ônibus com uma vontade horrível de chorar,e não sabia se a companhia de Júlio ajudava ou piorava a situação, mas certamente não diminuía o medo que ela estava sentindo.
Não era o medo de apanhar, isso ela já estava acustumada com o tanto de burrada que ela fazia, era medo de como seu pai estava, Willian já tinha problema demais na cabeça para ter que lidar com isso.

Já tinha questões muito mais importantes para se importar, e não deveria perder seu tempo se preocupando com a filha. E Suzana não colaborava nem um pouco, odiava admitir isso, mas sentia que era um peso a mais para o pai.

Se sentia sempre um peso para todo mundo na verdade, e as vezes tentava aliviar essa sensação horrível que ela sentia em si mesmo, as vezes resolvia, as vezes não.

Suzana chegou na frente de sua casa com o coração apertado e com a vontade de chorar mais forte do que nunca.

Júlio também não estava nem um pouquinho calmo, conhecendo o pai de Suzana a bastante tempo também, conhecia o temperamento do coroa, e ou ele ia se sentir aliviado por finalmente Suzana ter chegado em casa, ou iria estar puto de tanta raiva e acabaria voando no pescoço de Júlio.

Ou os dois.

O olhar da menina o estava agoniando, o deixando mais nervoso do que ele já estava.

Mas, pensando bem, Suzana sempre estava com um olhar desesperado em seu rosto, um olhar triste, de quem está sempre pedindo ajuda, socorro, mas nunca era ouvida.

Júlio sempre ignorava isso e todas as indicações que ela dava, se importava com a menina, mas achava que ficar perguntando e se intrometendo na vida da mais nova não iria adiantar muita coisa. Mas o que ele não sabia, era que, ás vezes, Suzana só queria um abraço apertado e alguém que pudesse entende – la, sem julgar.

Suzana abriu a porta de sua casa, e viu seu pai com o celular na mão, o rosto inchado de tanto chorar, as mãos tremendo e com uma aparência cansada, de que não havia dormido.

Fechou os olhos com força, esperando ouvir os gritos, palavrões, e todo o resto. Mas o que teve foi muito diferente do que imaginava.

A primeira coisa que Willian fez, foi correr até ela com os olhos cheio de lágrimas e deu lhe um abraço bem apertado.

Fazia muito tempo que seu pai, não lhe dava um abraço, muito tempo mesmo. Era um abraço acolhedor, do tipo caloroso e por um tempo sentiu que tudo que ela estava passando, havia sumido. Fechou os olhos e aproveitou o momento, se deliciando com aquele simples gesto, abraçou fortemente o pai, sabendo que provavelmente aquilo nunca mais iria acontecer.

Seus olhos se encheram de lágrimas, a saudade de sua mãe bateu mais forte do que nunca. Ela daria de tudo para poder ter a mãe ali do seu lado.

Mas de repente, seu pai se afastou dela abruptamente, o olhar que antes demonstrava preocupação e tristeza, agora demonstrava raiva. Mágoa.

- Você faz isso de propósito né? – Willian disse num tom baixo, sem gritar, sem xingar. Demonstrando todo a mágoa que ele sentia.

- Pai... Não fica assim. – Suzana disse, no mesmo tom de voz que seu pai, sem saber o que falar. Sabia que ela estava errada e não tinha como argumentar com isso.

- Só pode ser de propósito. Acha legal fazer isso comigo? Você sabe o quanto eu luto para manter você e o teu irmão?

Willian nem imaginava o quanto aquilo estava doendo em sua filha, o quanto aquilo a estava a consumindo por dentro, o quanto estava se sentindo péssima, inútil.

- Pai não foi de propósito... – Ela disse, segurando a choro, prometendo a si mesma que não iria chorar de jeito nenhum.

- Como não Suzana, como não? Você não fez uma ligação, não me mandou uma mensagem! Não pensou em mim nenhum segundo. – Willia disse, com muita raiva e também segurando o choro. – Você não pensa em nada do que você faz? Nas consequências dos seus atos?

Mas era óbvio que Suzana tomava as decisões da vida dela sem pensar, ou vocês acham que ela planejava toda aquela desgraça?

E ela não aguentou, deixou as lágrimas escorrerem pelo seu rosto, se deixando chorar, transparecer, deixando aqueles dois que estavam na mesma sala que ela, verem suas dores, mágoas e tristezas.

E ela não falou nada. Não respondeu o seu pai, apenas olhou para o chão, querendo sumir, desaparecer.

E ali, alheio as dores familiares que estavam presente no momento, quis abraçar Suzana, sua pequena Suzana, mas incomodado com Willian, não fez nada.

Willian estava tão magoado, tão triste e ao mesmo tempo aliviado por sua filha estar bem, que apenas subiu para o quarto, se decidindo dormir, pois não havia dormido nada a noite inteira.

Júlio foi embora sem dizer nenhuma palavra a Suzana, os dois a deixando sozinha.

Suzana então foi para o quarto, e chorou. Chorou. E chorou.

E fez a única coisa que fazia a tempo, para aliviar a sua dor.

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N/A: Próximo capítulo tem aparição de Caio u.u

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Tem uma nova historia, que em breve será postada. Dá uma olhadinha lá!

Beijo. 

Enigmas Melancólicos [Pausado]Onde histórias criam vida. Descubra agora